Silas desafia Conceição: as diferenças e as semelhanças por quem os conhece bem
Leões vão apresentar o 13.º treinador diferente num clássico de 2010 para cá e só dois debutaram com uma vitória: Sá Pinto e... Jesus. Dragões já venceram na Luz com Conceição, mas nunca em Alvalade
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São apenas dois os anos que separam Silas (43) e Sérgio Conceição (45) no cartão de cidadão, mas é com estatutos opostos que, domingo (17h30), em Alvalade, vão esgrimir argumentos no segundo clássico da época no campeonato.
"Não têm medo de dizer as coisas na cara"
O sportinguista é um estreante neste tipo de jogos e prepara-se para enfrentar um dos mais experientes da última década. Apenas Jorge Jesus (52) e Rui Vitória (16) disputaram mais clássicos de 2010 para cá, embora apresentem uma eficácia de resultados menor que a do portista.
Na verdade, só dois técnicos que também passaram pelo banco dos azuis e brancos neste período de tempo fizeram melhor que Conceição, que no tempo regulamentar só perdeu três (20%) dos 15 clássicos que disputou. Vítor Pereira (em 9) foi derrotado uma vez (11%) e Villas-Boas (em 7) também (14,3%).
Silas: treinador do Sporting venceu uma vez o FC Porto ao serviço do Belenenses
E mesmo nos rivais não é fácil encontrar técnicos mais bem sucedidos em jogos grandes. Bruno Lage ganhou quatro e perdeu três. Tem maior percentagem de vitórias do que o portista, mas também as mesmas derrotas em menos de metade dos jogos. E no mano a mano também está em desvantagem. Jorge Jesus e Rui Vitória ficam bem atrás do portista em todas as variáveis percentuais.
O desafio de Silas perspetiva-se, por isso, grande, ainda por cima porque ao longo deste período não se encontram muitos treinadores do Sporting que tenham debutado com um triunfo em clássicos. Entre os 12 técnicos que passaram pelo banco leonino de 2010 para cá em jogos grandes, só Ricardo Sá Pinto (2012) e Jorge Jesus (2015) lograram vencer. Curiosamente, contra o Benfica.
Conceição: técnico do FC Porto triunfou em seis dos 15 clássicos que disputou (dois na Luz)
Silas poderá ser o primeiro a fazê-lo contra o FC Porto, o primeiro grande que derrotou na época de estreia como treinador, em 2017/18, naquele que foi também o primeiro de cinco duelos diretos com Conceição. Perdeu os restantes. Desta vez, porém, as armas serão mais parecidas.
As semelhanças entre o Sporting de Silas e o FC Porto de Sérgio Conceição, de resto, são enormes quando se compara o rendimento de cada uma das equipas. A grande diferença está no rendimento defensivo, em que os portistas são superiores [ver infografia abaixo], e na forma de atacar.
Os dados estatísticos fornecidos pelo portal "Wyscout" indicam que os dragões efetuam, em média, 32,6 ataques posicionais por jogo e que os leões exploram um pouco mais o contra-ataque do que o rival. De uma forma ou outra, o objetivo no fim é simples: ganhar.
Diferenças residuais: o rendimento do Sporting nos 16 jogos com Silas não é assim tão diferente do que o FC Porto apresenta esta época com Conceição. A maior diferença está mesmo na médua de golos sofridos.
Três questões a Sasso, ex-jogador de Silas (Belenenses) e Sérgio Conceição (Braga)
1 - Quais as diferenças nos métodos de trabalho dos dois treinadores?
- O Sérgio Conceição é muito cuidadoso com os pormenores e tem um nível de exigência muito alto. Por vezes pode ser chato, mas é muito bom para o crescimento dos jogadores. O Silas, tal como o Sérgio, também olha muito para os detalhes, exibe vídeos sobre o que fizemos mal no jogo anterior, o que podemos melhorar individualmente e o que temos de fazer no jogo seguinte. Tanto um como o outro são sinceros com os jogadores, não têm medo de dizer as coisas na cara. Isso agradava-me.
2 - E na ideia de jogo?
- É engraçado, porque pode parecer que são diferentes, mas, na verdade, têm muitas coisas similares. A atacar, o Sérgio prefere um estilo mais pragmático, enquanto o Silas gosta que a equipa tenha bola, que comece a construir a partir de trás e seja criativa. Acho que as ideias se assemelham um pouco ao que eram como jogadores. Sem bola, os dois pedem, basicamente, o mesmo: a equipa junta a pressionar e a não ficar lá atrás.
3 - Que clássico perspetiva: mais ofensivo ou mais tático?
- A vontade de ganhar existirá sempre, mas acho que vão pedir às equipas para defenderem bem, para terem cuidado com as transições e só depois procurarem marcar, porque estes jogos são decididos nos pormenores e pela qualidade individual.