Sérgio queria postura mais agressiva frente ao Benfica: O JOGO foi ver os números
Treinador não ficou satisfeito com a perda de preponderância em itens de jogo relacionados com conquistas e perdas de bola e disse-o ao grupo.
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Na ressaca da derrota com o Benfica e da ultrapassagem por parte do rival, Sérgio Conceição pediu um FC Porto à... FC Porto para o jogo de quarta-feira contra a Roma e para o que se segue até ao final da época. Para o treinador, só a identidade poderá garantir os 30 pontos que a equipa quer até ao fim da Liga. E isso implica recuperar a agressividade positiva que o treinador não viu contra o grande rival. Conceição já o havia apontado em conferência de Imprensa e, mais a frio, partilhou com a sua equipa essa opinião: o FC Porto foi pouco agressivo com o Benfica, chegou tarde a várias bolas e nem sempre conseguiu condicionar a saída do rival. Em suma, Conceição queria uma postura mais agressiva e lesta no ganho da bola e até deu um exemplo no final do jogo: "Vi um carrinho do Benfica [Samaris] no último instante num lance com o Herrera. Se nós tivéssemos essa agressividade ofensiva, teríamos feito mais do que um golo."
O JOGO foi aos números do jogo e comprovou o lamento de Conceição. No clássico, os portistas fizeram menos três faltas (12) do que a média na I Liga. O Benfica, que, por norma, faz as mesmas 15 infrações dos dragões, não teve problemas em chegar às 21. É verdade que, de acordo com o Tribunal O JOGO, ficaram alguns cartões por exibir, nomeadamente um que até poderia valer a expulsão a Samaris, mas também é garantido que metade destas infrações (10) foram cometidas no meio campo do FC Porto, como forma de condicionar rapidamente a saída de bola do campeão. Os portistas fizeram apenas cinco das 12 totais no meio campo do rival.
Há outros índices em que os dragões saíram por baixo. Nos tackles (tentados e concretizados), a diferença também foi abissal: 12 para o FC Porto, 22 para o Benfica. Numa leitura sintética, foram dez bolas que os encarnados recuperaram que não chegaram a significar perigo para a baliza de Vlachodimos. E se um dos pontos de vista da leitura aponta para que a diferença seja óbvia, porque a perder foi o FC Porto que mais atacou, não deixa de ser significativo que a média dos dragões contra equipas pequenas seja de 16 tackles por jogo... Nas interceções, a média dos azuis e brancos I Liga são 14 por jogo. Anteontem foram oito...
Nos duelos aéreos, foram os encarnados a sorrir, com 54% de bolas ganhas contra 46% do FC Porto, que nas jornadas anteriores tem registos de 56%, ao passo que o Benfica não passa dos 53%. No resto, há um número gigantesco de duelos defensivos a mais para o novo líder da Liga, mas porque o jogo se encaminhou nesse sentido. O que não deixa de ser relevante é a forma homogénea como os benfiquistas estão espalhados pelo campo, em contraponto com as clareiras portistas, especialmente na zona de ataque. É disto que Conceição também se queixa, e a reação do grupo passa muito por aí. Na conversa de ontem, além de se dissecarem estes e outros problemas, o foco virou-se imediatamente para a Roma. O jogo com o Benfica foi importante mas, é convicção de todos, não decisivo. Contra os italianos, por outro lado, a margem de erro é zero.
Reis dos duelos ficaram de fora
Ainda que tenha ganho mais duelos do que o Benfica, o FC Porto "dominou" menos do que é habitual nesse capítulo. Em boa parte porque Danilo e Éder Militão ficaram de fora - os dois são os reis dos duelos defensivos entre os dragões. No que respeita aos duelos aéreos, Danilo é o segundo melhor (Felipe ganha mais) e Militão o quarto, posições também muito relevantes e garantia de mais umas quantas bolas ganhas por comparação com os jogadores que os substituíram, ainda que esses ofereçam outros atributos. Em traços gerais, a equipa teve uma quebra de 56% para 46% nas bolas aéreas. Pelo chão, a quebra nos duelos existiu mas foi mínima.
Dados
Marega só conseguiu combinar oito passes
A jogar como homem mais adiantado, pela primeira vez num esquema em 4x4x2, o maliano procurou a profundidade, mostrou-se recuperado, ganhou muitas bolas de costas para a baliza, mas raramente conseguiu combinar com os colegas mais adiantados. Apenas oito passes em todo o jogo, um para Adrián, outro para Brahimi e nenhum para Corona. Sintomático.
Manafá e Corona sofreram sem faltas
O FC Porto fez 12 faltas e apenas duas do lado direito, uma de Adrián, outra de Otávio. Manafá e Corona, que fecharam o flanco durante todo o desafio, nunca travaram em infração um adversário e bem o podiam ter feito, tal a clarividência com que o Benfica escolheu esse lado (especialmente por Rafa) para atacar a baliza de Casillas.
Dribles, cruzamentos e diferença de estilos
Quem olha para o mapa de ações do FC Porto-Benfica, identifica logo o estilo que as equipas utilizaram e que, no caso do FC Porto, até não corresponde à norma. Os dragões abusaram dos cruzamentos: 30, quase o dobro da média na I Liga (17); o Benfica fez apenas dez. Nos dribles, também só deu FC Porto: 60 contra 22. Os encarnados foram mais diretos.
Duelos desiguais e só Óliver deu a face
Com 21 duelos individuais na defesa, Gabriel foi o que mais se deu a esses trabalhos em todo o clássico. O portista mais "procurado" a esse nível foi Óliver, com nove. Mas isso porque o Benfica defendeu mais do que os dragões, nomeadamente após se encontrar em vantagem. O outro médio do FC Porto, Herrera, nem se viu a esse nível, o que é de alguma forma estranho.
Éder Militão favorito para dar consistência
Éder Militão tem as portas do regresso à titularidade abertas contra a Roma. Com Manafá fora das opções por não ter sido inscrito nas provas da UEFA, a recuperação da titularidade no lado direito da defesa só depende de Sérgio Conceição. Maxi Pereira e Corona foram outras opções utilizadas ao longo desta temporada, mas com a chegada de Pepe no mercado de inverno, a aposta em Militão para o lado direito ganhou espaço às outras opções. Um argumento favorável à chamada do brasileiro para preencher a vaga na direita da defesa passa também pela consistência defensiva que a equipa demonstra com ele no onze. Dos 42 jogos disputados pelo FC Porto esta temporada, Militão alinhou em 32 e viu a defesa sofrer 20 golos, o que corresponde a uma média de 0,625 golos sofridos por jogo. Sem o brasileiro, os números dizem que as coisas têm tendência para piorar, já que nos dez jogos em que não foi chamado - fosse por opção ou por ser suplente não utilizado -, os azuis e brancos sofreram 13 golos, o que equivale a uma média de 1,3 golos sofridos por jogo, sensivelmente o dobro dos consentidos com ele no onze. E se o FC Porto conseguir fechar a baliza, só terá de marcar um golo para seguir em frente...