Da forma como se "impôs" num grupo de campeões à aprendizagem que teve com Eriksson", o antigo guarda-redes Marchegiani fala com carinho do técnico do FC Porto e aconselha-o a procurar um "finalizador"
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O sorteio das competições europeias continua a proporcionar a Sérgio Conceição uma viagem pelo passado como jogador em Itália. Após o duelo na Liga dos Campeões com Diego Simeone (Atlético de Madrid), de quem foi companheiro uma época, e do regresso a San Siro, estádio a que chamou casa ao serviço do Inter (2001 a 2003), o treinador de 47 anos prepara-se para defrontar na Liga Europa o primeiro clube que representou fora de Portugal: a Lázio.
Conceição reencontra na Liga Europa a Lázio, que ajudou a ser campeã em 2000. Marchegiani recorda em O JOGO o ex-colega e elogia "futebol moderno" dos dragões
A ligação sentimental à equipa italiana foi sempre muito forte, quiçá pelos seis títulos que lá venceu, entre os quais o último "scudetto" dos "laziali" (1999/2000), e em 2018, antes de o FC Porto defrontar a Roma na Champions, chegou mesmo a manifestá-la publicamente. "Ainda continuo a dizer: "Força Lázio"", atirou Conceição, recordado por Luca Marchegiani como "um grande jogador e ótimo companheiro".
"Nos anos em que estivemos ambos na Lázio, estávamos muito próximos no balneário. Era frequente conversarmos e partilharmos ideias", conta a O JOGO o agora comentador da "Sky", que viu Sérgio "impor-se num campeonato muito difícil e numa equipa de grandes campeões".
"Não chegou como uma estrela, mas saiu como uma", sublinha o antigo guarda-redes. "Naqueles anos mereceu tudo o que conseguiu. Foi um dos jogadores mais importantes daquela Lázio. Como jogador era muito aplicado, alguém que queria melhorar treino após treino. Tive sempre grande consideração pela capacidade que ele teve de ganhar espaço num grupo com jogadores de grande personalidade e foi "bravo", porque graças ao seu caráter e forma de ser, ganhou o respeito e confiança de todos. Foi um dos jogadores mais importantes do "scudetto"", afiança.
As "lições" de Eriksson e a dificuldade da Série A
Embora o nome de Sérgio Conceição tenha sido ligado ao banco da Lázio por mais do que uma vez no passado, ainda é como adversário que voltará ao Olímpico. Será em fevereiro, para tentar atingir os oitavos de final da Liga Europa pela primeira vez como treinador, cargo que Marchegiani já suspeitava que o ex-companheiro viesse a ocupar.
"Estou muito contente com o caminho que ele fez. Não é simples tornar-se um bom treinador apenas por ter sido bom jogador. Daquela Lázio saíram muitos treinadores de grande sucesso e muito bons. O Sérgio está em boa companhia!", atira o antigo internacional italiano, numa alusão ao plantel de 1999/2000, orientado por Sven-Goran Eriksson, um técnico "de quem se aprendia muito".
"O Mancini também já era um treinador em campo, como Simeone. Mihajlovic era um jogador com uma grande personalidade... O Sérgio não era desses, mas naqueles anos a Série A era muito difícil, com grandes jogadores e grandes equipas. Havia muito para aprender a nível tático e de gestão de plantéis", sustenta.
Equipa à imagem de Sérgio a pedir por um finalizador
Quando olha para o percurso de Sérgio Conceição como técnico, Marchegiani é incapaz de conter o elogio. "As equipas dele jogam bem", gaba. "Ele transmite as suas ideias à equipa. É aquilo que mais se percebe ao ver o FC Porto jogar. É esse o sucesso de um treinador", opina o antigo guardião, agora com 55 anos, convencido de que os dragões têm "o espírito" de Sérgio.
"Há muitas maneiras de se ser treinador, mas conseguir transmitir as próprias ideias de futebol a quem não acompanha diariamente os treinos e apenas vê os jogos é algo que nem todos conseguem fazer. E ele sim", defende, considerando que "o FC Porto transmite uma imagem de organização". "Vê-se uma equipa com uma fisionomia bem definida e percebe-se aquilo que quer fazer", realça Marchegiani, que identifica nos dragões o mesmo problema que todos.
"Vi o jogo contra o Milan e trata-se de uma equipa muito forte. Falta-lhe um finalizador, mas é uma equipa que joga bem e está habituada a este tipo de jogos, o que faz muita diferença", completa, antes de terminar a conversa com um pedido: "Enviem-lhe um abraço meu".
Lázio é máquina "pouco oleada" e intermitente
A posição de comentador na Sky dá a Luca Marchegiani a hipótese de avaliar semanalmente a Lázio, uma equipa com "experiência", mas que o ex-guarda-redes julga ainda não ter encontrado a "estrutura ideal". "Alterna derrotas com bons resultados, mas raramente acompanhados de um bom futebol", garante.
"Tem um estilo de jogo diferente do que era com [Simone] Inzaghi. A máquina ainda não está bem oleada, há afinações a fazer, mas em jogos a eliminar pode jogar um grande futebol", sustenta Marchegiani, lembrando que o primeiro jogo com o FC Porto é em fevereiro e que Maurizio Sarri tem tempo para melhorar. "Sofre muitos golos, mas não é um problema apenas da defesa. Também os tem no meio-campo, porque, apesar de ter bons jogadores, não cobrem defensivamente. Falta-lhe equilíbrio em certas situações", indica.