ENTREVISTA - Contra todas as probabilidades, clube resistiu ao impacto do regresso à I Liga, apesar da inexperiência do plantel e até de ter de esperar cinco meses para poder ter Pedro Silva na baliza. A união fez a diferença.
Corpo do artigo
Há um ano, o Vizela festejava a entrada na Liga Bwin com o rótulo de candidato à descida que se cola àqueles que chegam a um patamar bem mais exigente e resistiu com a fórmula que resultara nas subidas anteriores: um balneário em que a união é mais forte do que tudo. O retrato é feito por Pedro Silva.
O guarda-redes, 25 anos, é testemunha e prova dessa força. Lesionou-se na primeira semana de treinos, foi operado a um tornozelo e, cinco meses depois, voltou para ser titular e confirmar o potencial que se lhe vira desde miúdo, nas escolas do Sporting. O Vizela é isto, explica, e acredita que "ainda é só o começo": "Conseguimos ser melhores."
Como é passar um campeonato inteiro num clube pelo qual, à partida, ninguém dá nada?
-Essa pode ser a opinião de quem não está por dentro, porque a realidade é que este é um clube fantástico. Acontece com todas as equipas que sobem, mas, ao longo da prova essa ideia mudou, por mérito do Vizela. Senti que muita gente queria que o Vizela se mantivesse, por todo o ambiente, e pelas condições que viam que o clube proporcionava.
Ainda assim, não escaparam à dificuldade que conduz a essa teoria. Era inevitável essa aprendizagem?
-Todo este primeiro ano na I Liga foi uma aprendizagem. A realidade é que o clube há já muito tempo não estava no primeiro escalão. Mesmo em termos de plantel, tínhamos alguns jogadores experientes, mas um núcleo para quem esta seria a primeira vez a jogar neste patamar, como era o meu caso. Essa inexperiência acabou por se notar, nalguns momentos. Era inevitável, e o nosso treinador muitas vezes o disse. Este ano foi uma aprendizagem, tanto para nós como para o clube, e para o ano seremos muito melhores, por causa dela.
Imaginou que poderíamos estar agora a falar de um campeonato ganho com essa inexperiência?
-Já no ano passado foi uma surpresa para muitos, porque tínhamos um plantel em que praticamente toda a gente vinha do Campeonato Nacional de Seniores; havia outros, como eu, com pouca experiência, e acabámos por fazer um campeonato excelente. E este ano, com essa onda, estávamos confiantes de que, independentemente das probabilidades, nos manteríamos, porque este é um clube que merece, de primeira.
Como imagina o futuro do Vizela?
-Risonho, porque é um clube com imenso potencial e, apesar de estar a ter uma afirmação francamente positiva, acredito que ainda está aquém do que consegue. As pessoas do clube sabem disso e os jogadores reconhecem-lhe enorme qualidade e potencial. Antecipo um excelente futuro.
Para si, esta foi uma época de sofrimento extra.
-Vim para este ano com uma expectativa elevada e, logo na primeira semana, lesionei-me num tornozelo. Desde miúdos, sonhamos ser jogadores de futebol, e ser operado ou ter uma lesão grave é algo que não nos passa pela cabeça. Pensava que não me ia acontecer, e sucedeu. Teve de ser superada...
...e voltou a tempo de cumprir a expectativa inicial.
-Este grupo é especial. Ao longo das épocas, jogadores lesionam-se e ficam de fora, mas esse ficar à parte é entre aspas, porque estamos sempre inseridos no grupo. Sentimo-nos sempre bem-vindos. Isso ajudou, sem dúvida, quando regressei, e depois fiz uma boa época, foi gratificante e fiquei muito feliz. Perdi cinco meses, mas voltei em dezembro, ainda havia bastante campeonato.
Apesar de tudo, esta foi a época de que precisava?
-Sim, não só por mim, pela minha expectativa. As pessoas que sempre reconheceram o meu potencial questionavam-se: quando vai chegar a oportunidade? Foi este ano e estou muito grato.
Está para ficar?
-Adorava continuar no Vizela, porque este foi um ano de aprendizagem para todos, para mim inclusive, porque nunca tinha feito uma época na I Liga. Apesar de ter sido uma época bastante boa, tanto eu como o clube acreditamos que conseguimos ser melhores. Acredito que isto ainda é só o começo.
Tondela e Arouca foram momentos decisivos de união
Desafiado a apontar o momento mais difícil da época, em termos coletivos, Pedro Silva elege dois desafios "muito importantes" com adversários diretos na luta pela permanência: "Os jogos com o Tondela, fora, que tínhamos de ganhar e ganhámos, e com o Arouca, aqui em casa." Para "ultrapassar esses obstáculos", recorda, valeu a fórmula do costume, dentro e fora de campo: "O clube é mesmo muito estável e o grupo de jogadores é também fantástico. O grupo une-se, a cidade também - são uns mil a apoiar-nos, de forma constante - e fica mais fácil."