Declarações de Bernardo Faria de Carvalho, diretor executivo de expansão internacional do Benfica, em entrevista à plataforma de negócios "2PlayBook"
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Como definiria a estratégia internacional do Benfica? “Nós entendemos que esta expansão não se deve basear unicamente na parte comercial, mas sim estar baseada em dois pilares. De um lado estão os patrocinadores e as diferentes associações que possamos ter, do outro está o desenrolar de talento, que é o que nós chamamos de ‘business to football’ (b2f), que é tão importante como [os modelos de negócio] b2c e b2b. Estamos a vender o futebol como um negócio e neste momento temos 16 mil jogadores e 540 treinadores a participar nos nossos programas em 48 países. Há um crescimento enorme a cada ano e nunca dissemos que não a um lugar em que tenhamos operações”.
Importância da rede de academias do clube: “Temos que nos levantar mais cedo do que os demais, porque temos uma Liga com um alcance muito diferente ao da LaLiga ou da Premier League. Por isso, para superar esta desvantagem é realmente preciso que sejamos inovadores e façamos algo que acreditemos que os outros clubes não estejam preparados, daí seguirmos pela parte metodológica. Nos últimos 18 anos, convertemo-nos na melhor academia de futebol do mundo. No Europeu, houve oito jogadores que vieram da nossa academia, mais do que qualquer outra. Somos o clube que vendeu mais talento pela maior quantidade de dinheiro nos últimos dez anos na Europa e esse talento tem estado representado em muitas das grandes finais da última década. Estamos sempre aqui porque não construímos equipas só para ganhar, mas também para servir outras equipas e, com essa receita, igualarmos o seu orçamento. Estamos a contruir uma constelação de academias em todo o mundo, em vez de clubes, porque não exigem um investimento tão elevado e já são uma grande história para contar. Contruímos esse modelo em Portugal e agora estamos prontos para replicá-lo ao nível internacional, porque posso ir a um clube, federação ou país e demonstrar com factos que podemos cuidar do desenvolvimento do futebol juvenil, seja onde for.
Como surgiu este modelo? “Nunca tínhamos sido um clube de academia e o primeiro Benfica Campus foi construído em 2006, há 18 anos, porque percebemos que os ventos estavam a mudar. Precisávamos de ser uma academia, porque aqui não podemos estar constantemente a comprar jogadores que estão prontos para jogar e ganhar títulos imediatamente. Quando verificámos a viabilidade do Campus, demorámos cinco anos a vender o primeiro jogador: Rony Lopes ao Manchester City por um milhão de euros, com 17 anos. Olhando para trás, alguns poderão pensar que vendemos demasiado depressa, mas na altura a nossa academia não era um produto com provas dadas no desenvolvimento de jovens talentos. Se fôssemos uma nova marca de moda a abrir na Quinta Avenida, em Nova Iorque, não poderíamos esperar vender aos mesmos preços que uma marca de luxo estabelecida desde o início. Penso que foi a venda mais aplaudida que já vi na minha vida, porque foi o momento em que percebemos que estávamos no caminho certo e que o sistema metodológico era bom. Com o passar dos anos percebemos que era bom, mas que tínhamos um novo problema: havia muito talento em todo o lado e já não era só em Lisboa, mas no sul e norte de Portugal, no estrangeiro... por isso em 2016 decidimos criar centros de formação e coaching noutras regiões. Começámos com cinco, dois no Sul, dois no Norte e mais um no centro de Portugal, e agora temos cerca de 50 escolas de futebol e campus básicos. O investimento é pago pelo clube, pelo que, desde o primeiro momento, estão a competir diretamente para gerar os melhores talentos. Agora temos uma marca reconhecida e toda a gente quer vir jogar para cá; sem estes centros não teríamos encontrado jogadores como o João Félix”.