"Se o Governo pusesse mão nisto, era o quê? Organizar a competição desportiva?"
João Paulo Rebelo, secretário de estado da Juventude e Desporto, na homenagem a José Manuel Constantino, que recebeu o Special Recognition Award, entregue pelo SIGA (Sport Integrity Global Alliance).
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Homenagem a José Manuel Constantino: "É uma grande figura do desporto nacional, das últimas décadas do desporto, em todas as funções que ocupou tem dado um contributo decisivo para o estado de desenvolvimento desportivo que vivemos no nosso país. Nos últimos anos, particularmente como presidente do COP [Comité Olímpico Português] e com o compromisso que tem feito com as matérias da integridade que de facto o COP, com a sua liderança tem assumido, merece a entrega deste reconhecimento que a SIGA faz. Também já fiz referência ao trabalho do ponto de vista desportivo, não nos podemos esquecer que vivemos o melhor ciclo de olímpico de sempre do nosso país, portanto o rol de reconhecimentos e de prémios que o presidente do COP tem granjeado são merecidos e este não foge à exceção."
Momentos negativos no desporto português: "É lembrar sempre aos intervenientes mais diretos que eles vivem da imagem que atividade que desenvolvem também deixa. Cheguei a dizer numa determinada altura que não matassem a galinha dos ovos de ouro, no fundo é uma expressão que está muito popular, mas que encerra em si a necessidade de cuidar e sei que estamos a falar particularmente do futebol. Quando tantas vezes se fala da indústria do futebol, o que pressupõe um negócio, é bom que, de facto, haja a preocupação em não matar o negócio. E não matar o negócio significa exercer valores da integridade, respeito, da limpeza do fair-play que as coisas devem ter, da transparência e exclusão de tudo o que são fenómenos que nada têm a ver com estes valores. Seja violência, manipulação da verdade desportiva, negócios que não queremos associados ao desporto, são princípios que têm de estar na cabeça dos dirigentes, mas diria também de todos os dirigentes desportivos, dos jogadores, treinadores, árbitros... todos têm de dar o seu contributo."
Acontecimentos no Dragão: "Eu falo sempre com dirigentes, é uma das minhas funções. Também tenho dito muitas vezes e é bom que todos percecionem de uma forma clara: ao Governo não cabe tutelar as modalidades, isso era uma coisa inaceitável. Por vezes ouço comentários de que devia ser o Governo a pôr a mão nisto. Se o Governo pusesse mão nisto, era o quê? Organizar a competição desportiva? A esses devo lembrar que a FIFA e UEFA não aceitariam clubes portugueses nas suas competições. O princípio da autonomia é essencial e a responsabilidade da organização está muito bem definida e ao Governo cabe desenhar a política pública desportiva, garantir diversidade desportiva. Já não somos só um país só de futebol ou atletismo, somos um país reconhecido internacionalmente e com muitas modalidades. Tantas vezes se fala do desporto escolar, que tem estado a fazer o seu papel, que não é só da especialização desportiva, essa que cabe aos clubes. Todos devem fazer a sua parte e os responsáveis estão a trabalhar. As consequências têm vindo a ser reconhecidas e as instituições têm vindo a fazer o seu trabalho. Por mais que haja esse trabalho, cabe sempre a capacidade de reação de cada um, evitar que momentos destes aconteçam. Ninguém fica bem na fotografia, porque sobretudo põe-se em causa o essencial, que é o futebol."