António Simões pede aos jogadores do Benfica para darem mais 10 por cento. O campeão europeu pelo Benfica vê a equipa a desconfiar da própria sombra, mas alarga leque de responsabilidades
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O Benfica chega ao jogo com o Estoril, deste domingo, com um lastro de três jogos com duas derrotas – uma delas por pesados 5-0 no palco do FC Porto – e um empate, motivando alguma contestação a Roger Schmidt. António Simões, de 80 anos, tem uma bagagem de experiência que, como salienta a O JOGO, inclui muito mais vitórias que desaires e faz-se valer dela para colocar em perspectiva a necessidade de viragem na caminhada benfiquista e a consequência para o treinador caso a curva deixe a águia fora da estrada do título nacional.
Como avalia a importância do jogo com o Estoril para o Benfica na sequência do ciclo de jogos negativos em curso?
O Benfica se não ganhar ao Estoril não pode pensar em ser campeão. Acho que o Benfica vai ganhar, mas é preciso estar algo desconfiado. Não oiço mas vejo e preocupa-me o que vou vendo. Desconfio da equipa, do que joga e dos problemas que têm, mas uma vitória dá mais confiança e é isso que o Benfica precisa de fazer. Eu sempre ganhei muito mais vezes do que perdi, mas tenho noção que como em tudo na vida, não é só no futebol, quando vencemos e estamos mais felizes as coisas acontecem com maior facilidade. É isso que tem de acontecer neste jogo, buscar a vitória para ganhar confiança e para os jogadores deixarem de estar desconfiados de si próprios.
Que reação espera de Rui Costa se não correr bem?
Se não correr bem é um problema para todos, não é só para uma pessoa. Mesmo que só se mexa numa pessoa, as feridas já lá estão. E vão sarar com a saída do treinador? Eu não sei. A sensação que me dá é que só há uma pessoa responsável por isto tudo, o treinador, mas os jogadores não jogam? Não há uma SAD que dirige? Tudo o que existe é Roger Schmidt, não existe mais nada? O homem manda jogar mal? Há coisas que não consigo perceber. Levanto estas questões por coerência e experiência, não é por sabedoria. Mesmo que a minha experiência sempre tenha sido mais rodeada de sucesso, mas compreendo que nem sempre é possível ganhar tudo, vencer todos os jogos. Mas temos de olhar a um todo e não apenas a uma pessoa. É melhor que se ganhe, evita ter de se tomar decisões, mas a vida não é uma linha reta. Quando é que se vê o carácter das pessoas? Quando as coisas não estão bem. É isso que se pede a todos. É neste momento que se vê isso. Façam favor de se unir, de dar mais 10 por cento cada um e passa a 120 por cento se juntar tudo. Juntem-se, unam-se, dêem mais um bocadinho de cada um. Só assim poderão sair de uma situação que não é nada simpática.
Na esmagadora maioria das crises dos clubes, a mudança de treinador é a única solução…
No futebol a história repete-se. Quem vai embora sempre é o treinador e parece que tudo se acalma mesmo sem se jogar. Não houve jogo, mas já toda a gente feliz.
No caso do Benfica, a solução passa pela saída do treinador caso não haja sucesso?
A equipa a determinada altura parece que perdeu qualidade, confiança e há uma certa descrença. Isto é o que se vê por fora. Se há situações que implicam intervenção, então o Benfica tem um presidente com experiência enquanto jogador e se considera isso deve intervir, mas tem de ser resolvida lá dentro. Os jogadores têm responsabilidade de jogar, os treinadores de os treinar e os dirigentes de liderar. É fácil quando se ganha, quando isso não acontece tudo isso tem de ser reflectido e discutido. O Benfica tem essa necessidade, de discutir onde estão os problemas e como se pode melhorar. As pessoas têm de ser humildes o suficiente para perceber que quando as coisas não estão bem é quando mais se pede a quem tem carácter não tenha receio de seguir em frente.
Esse desafio de seguir em frente significa o quê em relação ao Benfica?
Mandar ou não o treinador embora compete a quem tem essa legitimidade. Esse olhar obriga a uma reflexão, ver se há soluções para os problemas existentes. Se tem, não se mexe em nada. Se não tem, então que decidam. A questão coloca-se primeiro a quem lidera, depois a quem treina e no fim a quem joga. Pede-se que haja capacidade de liderança e que haja competência do treinador e resposta dos jogadores para ganharem os jogos. Para todos é o mesmo desafio, juntarem-se para evitar a queda no buraco. É o desafio à competência e à crença.