HOPlab é uma start-up portuguesa que se apresenta como a “plataforma de avaliação fisiológica mais completa do mercado”, propondo-se a prevenir, detetar e recuperar lesões, bem como otimizar o desempenho dos atletas
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No silêncio de Argivai, Póvoa de Varzim, cresce um projeto inovador que tem em vista a liderança no setor de análise de dados fisiológicos, oferecendo “o relatório mais completo do mercado”, segundo dizem, com o objetivo de prevenir, detetar e recuperar lesões, assim como otimizar o desempenho, atingindo o máximo potencial de atletas.
É uma start-up portuguesa, chama-se HOPlab e pretende entrar em força no futebol profissional, tendo vários desafios definidos em mente. Um deles é prontamente lançado pelos dois sócios fundadores, João Gomes e Pedro Araújo, bem como pelo gestor operacional, Eduardo Gonçalves: trabalhar com jogadores. Usam até o exemplo de Renato Sanches, que “anda sempre ali com qualquer coisa”. “É dos jogadores mais bem pagos em Portugal e o que está mais tempo parado. Teríamos todo o gosto em fazer caso de estudo com esses atletas”, afirma Eduardo, que acrescenta ainda Manu Silva, que sofreu uma rotura de ligamentos pouco tempo depois de assinar pelo Benfica. “Se trabalhassem connosco quando o contratam…”, atira, para depois tentar explicar-se melhor. “Não somos mágicos, mas, se fizessem o relatório, e não significa que não o contratariam, percebiam que o músculo estava a alertar para alguma situação e iam agir de acordo com isso e prevenir. Essa é a grande diferença”, explica, sendo complementado por João Gomes: “Isto é muito importante: o nosso objetivo não é encostar jogadores, é os clubes saberem exatamente com o que podem contar. Não queremos ser decisores, nem dizer que este não pode jogar ou ser contratado, queremos dizer ‘a solução para este é isto’.”
A análise de dois testes em movimento (simetria - um minuto a caminhar e um a correr - e performance - Vo2) permite fornecer recomendações e treinos específicos, tendo por base um algoritmo, aprimorado ao longo de cerca de dois anos, que combina inúmeros fatores.
Conscientes de que não usam “nenhuma tecnologia disruptiva”, mas descomplicando resultados, traduzindo “linguagem científica em linguagem prática”, e tendo ideias claras, bem como a certeza de que podem fazer a diferença e a noção da atualidade futebolística, que tem um calendário cada vez mais carregado, os responsáveis pela HOP lab também também gostariam de desafiar as equipas portuguesas que vão estar no Mundial de Clubes, Benfica e FC Porto, de modo “a perceber de que forma é que a participação tem impacto na saúde do jogador e também na saúde financeira do clube”. “É importante para nós. Receber atletas que possam participar no Mundial é algo que estamos a tentar com insistência. Temos todo o interesse em fazer um caso de estudo, porque era algo que também nos dava ainda mais dados no âmbito até da fadiga, porque há atletas que vão fazer 70 jogos esta época”, diz Eduardo.
Yazalde Pinto, avançado que representou, entre outros, Varzim, Rio Ave, Gil Vicente e Belenenses, chega ao espaço para experimentar na prática o método e começa a “equipar-se” para iniciar as avaliações, que depois darão para perceber em que estado se encontra e o que precisa para atingir o equilíbrio perfeito e o ótimo desempenho. O jogador, atualmente sem clube, considera ser algo “diferenciado”.
“Hoje em dia o futebol está cada vez mais exigente e esta é uma plataforma que não se vê a nível mundial. Quanto mais dados o jogador tiver para obter rendimento, mais importante é, e esta é uma ferramenta diferenciada. Já fiz todo o tipo de testes, mas este é em movimento, que é o que se faz no futebol. Vê-se como os músculos contraem e os défices. É muito útil para adaptar o treino, tendo em conta a especificidade do jogador e da posição”, afirma.
Há alarmes que previnem lesões
Os resultados das avaliações de simetria e de performance realizados pela HOP lab apresentam-se em três formas de crescente simplificação, da esquerda para a direita. Se do lado esquerdo se vê algo “mais médico”, por exemplo, para o fisioterapeuta, no teste de simetria, ou para o nutricionista, no teste de desempenho, no centro aparece “uma mesclagem, médico-performance”, onde se vê quais os músculos que “podem vir a dar problemas”; à direita surge “algo que será mais fácil de perceber para quem não entende nada do que está atrás”. É ali que tudo se torna “mais simples de ler, em vez de se olhar para os gráficos”. E é nesse ponto que, no caso de um “responsável pelo treino querer uma ajuda em termos de especificidade”, são apresentadas recomendações. Também é possível saber a percentagem de cada músculo utilizada nos dois lados do corpo, dando conta das assimetrias e quando há perigo de lesão. “A percentagem diz que o músculo, na fadiga, perde função”, explica João, com mestrado e especialização em fisiologia e treino preventivo, dando um exemplo. “Na caminhada, pode lesionar-se por rotura do músculo. Na corrida, as coisas mudam. Conseguimos ver uma preferência do nosso corpo que pode levar à lesão”, sublinha. A análise permite aprofundar “ao pormenor cada músculo”, já que “a assimetria global pode dar dados errados”, acrescenta.
Proposta de um gigante europeu
Já com parceria com o Famalicão e após recusar uma proposta de um gigante europeu para levar a tecnologia e replicá-la lá fora, a HOP lab preferiu “percorrer o caminho das pedras”. “A primeira pré-época em que vamos trabalhar comercialmente é a próxima”, explica Pedro Araújo. “Para ter dados diretos do jogador e fazer um trabalho mais personalizado, convém testarmos amplamente o plantel para depois fazermos a comparação”, complementa Eduardo Gonçalves, o gestor operacional. “O ideal é medir no primeiro dia de pré-época, e aí temos um dado comparativo para toda a temporada. Com a medição conseguimos, mais do que intervir na altura de lesão, intervir preventivamente. Permite-nos voltar a testar e perceber a que distância está de recuperar, e do ponto ótimo, para não acontecer como o Di María, que em 19’ fez uma lesão agravada [no Mónaco]. Conseguimos ver se está mesmo recuperado. É a grande vantagem”, reforça Pedro.