Alemão chegou e mudou a mentalidade da equipa. Mesmo com alguns percalços, ninguém travou a sua caminhada triunfal; O engenheiro mecânico que liderou o Benfica nesta época soma oito clubes no seu currículo desportivo, mas só no Benfica conseguiu chegar à conquista de um título logo na primeira temporada.
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No dia em que aterrou em Lisboa, o para muitos desconhecido Roger Schmidt agarrou os benfiquistas com apenas uma frase: "Quem ama o futebol, ama o Benfica". Depois disso vieram os jogos, os resultados positivos, a quebra a meio da época, as críticas à falta de rotação na equipa e o ambicionado título que escapava há três anos. Para o alemão foi a primeira conquista no arranque num novo clube e apenas o seu segundo campeonato conquistado.
Vindo de uma carreira ainda sem grandes montras, o técnico alemão destacou-se aos olhos de Rui Costa nas eliminatórias frente aos encarnados quando comandava o PSV e o Leverkusen. Mas o percurso como treinador tinha começado antes, no Delbrücker SC, em 2004, numa altura em que ainda conciliava a profissão de engenheiro mecânico com a vida no futebol. Depois de sete temporadas ao serviço de escalões inferiores na Alemanha, Schmidt foi convidado para orientar o Salzburgo ao ter chamado a atenção do diretor desportivo Ralf Rangnick.
Sem nunca planear ter sido "treinador profissional", como admitiu numa entrevista ao jornal britânico "The Guardian", foi na Áustria que venceu o primeiro título: o campeonato, ao fim de duas épocas. Destacou-se pela forma como pôs a equipa a jogar de forma intensa e ofensiva, e ganhou um bilhete para palcos maiores rumando ao Leverkusen na Bundesliga. Aí, não venceu nenhum título: conseguiu um quarto lugar no primeiro ano e um terceiro na segunda época. Na terceira temporada, Schmidt não chegou ao final, tendo sido despedido, ainda em março, depois de ser goleado pelo Dortmund, rumando à China em 2017.
No Beijing Guoan, o alemão venceu apenas uma taça e acabou por ser despedido, em 2019. Ainda assim, na hora do adeus, o aeroporto encheu-se de adeptos do clube chinês numa demonstração de carinho e reconhecimento. O destino seguinte foi o PSV, nos Países Baixos. Esteve dois anos em terras neerlandesas, ganhou Taça e Supertaça na segunda época, mas no início do ano passado não quis renovar contrato, apesar da intenção do clube, abrindo as portas à chamada de Rui Costa.
Com uma primeira volta quase sem percalços, Schmidt pôs a equipa encarnada na liderança do campeonato desde a primeira jornada e não mais a largou. Na primeira parte da liga perdeu dois pontos com V. Guimarães e Sporting e registou a única derrota, com o Braga. Na Liga dos Campeões, a passagem aos oitavos de final da competição fez-se pelo primeiro lugar de um grupo com PSG, Juventus e Maccabi Haifa em que ficaram para registo os dois empates contra os franceses, a vitória na Luz frente aos italianos e ainda a goleada, em Israel, por 6-1 que permitiu aos encarnados qualificarem-se na primeira posição.
Apesar da saída da Taça da Liga e da eliminação da Taça de Portugal frente ao Braga, o técnico encarnado foi conseguindo apresentar um futebol que agradou e empolgou os adeptos. O momento mais difícil da temporada coincidiu com uma altura em que o alemão começou a ouvir algumas críticas pela falta de frescura da equipa baseada numa utilização intensiva dos jogadores. "Podemos fazer cinco substituições, mas não é obrigatório. Posso fazer o que quiser", disse no final da primeira mão com o Inter quando questionado pela falta de mudanças na equipa. A verdade é que, depois, as alterações começaram a aparecer mais cedo.
Numa época em que começou sereno no banco de suplentes, sem grande demonstração de emoções, a personalidade do técnico alemão foi-se revelando à medida que o calendário avançava. Em Vizela, num jogo difícil para os encarnados, o técnico foi expulso depois de ter entrado em picardias com os adeptos da casa. Também foi crítico da arbitragem e, especialmente do VAR, em várias ocasiões, como no final da eliminação da Champions em que defendeu o fim do modelo: "Preferia continuar sem VAR no futebol. Devia devolver-se a responsabilidade aos árbitros. É mais frustrante ter o VAR e tomarem-se decisões erradas na mesma".
Roger Schmidt, aos 56 anos, vence a Liga, na sua época de estreia, em Portugal. Um título que escapava aos encarnados há três anos, sucedendo assim a Bruno Lage como treinador vitorioso nas águias. O plano para o treinador alemão é a longo prazo, com um contrato por mais três épocas em que a pressão pelas conquistas europeias e a manutenção do título nacional vão estar, certamente, sempre em cima dos ombros do técnico.
DATAS
24/05/2022
Chegada
Ainda em abril do ano passado, o Benfica anunciava um princípio de acordo com o treinador alemão, tendo a oficialização acontecido a 18 de maio e a chegada a Lisboa seis dias depois. Ainda no aeroporto Humberto Delgado, Roger Schmidt prometeu de imediato "trabalho para mostrar um bom futebol em campo" e deixou desde logo a sua marca bem vincada com apenas uma frase: "Se amamos futebol, amamos o Benfica". Estava lançada a época.
07/03/2023
Passagem aos "quartos"
O técnico alemão levou o Benfica a um feito inédito: a passagem aos quartos de final da Champions pelo segundo ano consecutivo. Na caminhada europeia, os encarnados perderam apenas um jogo, empataram três e venceram dez, contando os de qualificação. Com 26 golos marcados, o Benfica de Schmidt destacou-se num grupo com PSG e Juventus ao passar em primeiro lugar depois de ter goleado o Maccabi Haifa por 6-1, em Israel, com o golo de João Mário a garantir a liderança. Caiu nos "quartos" com o Inter, ao perder na Luz (0-2) e empatar em Milão (3-3).
31/03/2023
Renovação
A prestação europeia e a liderança no campeonato mereceram o reforço de confiança no treinador encarnado. O presidente Rui Costa não quis esperar e avançou para a renovação do técnico que está agora ligado ao Benfica até 30 de junho de 2026. Na altura de assinar novo contrato, Schmidt admitiu estar surpreendido pela decisão da Direção: "Para ser sincero, no início não esperava assinar um novo contrato tão cedo, mas faço-o com 100% de convicção".