Faltam só 20 dias para a sempre longa véspera de São João, celebrado em Braga e no Porto com grande pompa, mas também em muitos outros locais. Jamor terá as matas e as bancadas cheias de vida e cor.
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Arranca este domingo uma romaria em direção ao Jamor, onde Braga e FC Porto disputam a final da Taça de Portugal.
Os bilhetes voaram mais depressa do que um foguete, daqueles que vão rebentar daqui a três semanas na noite de São João.
É celebrado com grande pompa nas duas cidades e terá hoje um pequeno ensaio. Serão milhares de pessoas de todas as idades e classes sociais reunidas em festa, com doses generosas de comida e bebida, muito antes de soar o apito inicial, às 17h15. O último dia da prova rainha vai sempre além do futebol e a coincidência dos finalistas convida-nos a saber mais das iminentes festas de São João. Há curiosidades, diferenças, semelhanças e até alguma picardia. O Braga tenta encerrar em grande uma época que já lhe deu vários motivos para sorrir e conquistar o terceiro troféu desde 2020; o FC Porto procura completar o trio das taças, no que daria cores mais vivas às páginas de 2022/23. Um vai ficar triste, o outro já vai ter um mini São João.
Braga: religião e tradição ao jeito minhoto
"Na final da Taça de 2016, era presidente da Associação de Festas de São João e andávamos com cabeçudos e gigantones com a frase "o São João é de Braga!"", conta a O JOGO, divertido, Rui Ferreira, investigador bracarense que dedicou uma tese de mestrado às festas sanjoaninas da cidade. "É o feriado municipal mais celebrado no país. Em Braga tem muita identidade. A parte religiosa está muito vincada e tem as características típicas de uma romaria minhota, como as ornamentações e a capela com o santo", descreve Rui, com uma revelação: "Nos anos 1930, os bracarenses tentaram evitar que as festas da cidade do Porto coincidissem. O São João do Porto apagou-nos o mediatismo, mas não a tradição. Não é uma festa de uma noite."
Claro que, de 23 para 24 de junho, as gentes de Braga também "saem à rua com martelinhos, ervas de cheiro e têm fogo de artifício", mas há mais que ver antes e depois, exemplifica Rui Ferreira: "O cortejo tem a dança do Rei David, acompanhada por um alto barroco, há o carro dos pastores e o carro as ervas, que saía antes das procissões para perfumar as ruas. Temos a batalha das flores antes da procissão, os gigantones e cabeçudos, os quadros bíblicos e o cavaquinho, que saiu de Braga para o mundo inteiro."
Porto: "Ganhou a borga" da comemoração pagã
"O São João do Porto, realmente, de religioso não tem nada a não ser o nome e a cascata das Fontainhas com o batismo de Cristo. É uma grandessíssima festa pagã", atira a O JOGO Hélder Pacheco, historiador portuense, também com bibliografia sobre o São João do Porto. Implantada a República, cabia aos municípios escolher o seu feriado e, no Porto, o "Jornal de Notícias" resolveu o impasse com o voto popular, em 1911. O dia de São João venceu a corrida (em Braga foi unânime) e o diário titulou "Ganhou a borga". "O que mais distingue é ser uma festa repartida por toda a cidade. Em praticamente todos os bairros, em muitas ruas e ilhas, as pessoas faziam um arraial. Depois iam em rusga, daí a origem do nome, até às Fontainhas, um lugar mágico de onde saíram alguns dos primeiros divertimentos mecânicos. As grandes multidões na baixa não eram características do São João tradicional, mas as tradições inventam-se", explica Hélder Pacheco, com um exemplo: "A sardinha foi importada da Feira Popular de Lisboa. A tradição era, à meia-noite, tomar café e torradas. Depois aproveitavam os fornos das padarias para assarem os almoços", conta.