Extremo bateu recorde pessoal de jogos num só clube e Rui Duarte, que o viu despontar, avalia o impacto no plantel de Bacci. O antigo técnico do Braga viu o abnegado extremo estrear-se ao mais alto nível como seu colega no Olhanense e deixa tributo ao jogador mais utilizado da pantera, condenado a não descansar.
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Salvador Agra vai aos Açores como líder de minutos do Boavista e embaixador itinerante da alma axadrezada. Tão raçudo quanto polivalente, mobília de um núcleo duro no Bessa, peça inestimável pela sua valentia ao longo das últimas épocas, o extremo é, em 2024/25, o expoente da dedicação e superação, emprestando todos os recursos a uma equipa pejada de juventude e um plantel arrasado por saídas influentes. O jogador de 32 anos, que até era substituído em quase todos os jogos na última época, fruto do desgaste que acumula nas pernas pelos piques de velocidade e intensidade nos duelos, vai completando cada partida neste arranque de temporada, percebendo Cristiano Bacci que Agra é fulcral, e até mesmo inesgotável. Foi rendido apenas nos descontos da primeira jornada.
Antes quebrar do que torcer, esta foi sempre a imagem de marca do vila-condense, que, por onde passou, empregou o seu perfil abnegado na defesa da causa, pelo que também não duvidou em renovar pelo Boavista já na época passada, quando se avistavam dúvidas e tormentos. Contra o Benfica abraçou os 75 jogos como pantera, batendo o recorde do seu próprio trajeto: 74 pelo Nacional.
Fazemos aqui uma viagem à primeira época de afirmação na liga, em 2011/12, tinha o extremo 20 anos, despontando como revelação do Olhanense. Rui Duarte, antigo técnico do Braga, via crescer um miúdo com patente registada no seu jogo. Entrega em cima de entrega.
“Apanhei-o no início de carreira; procurava o seu espaço, mas já era um lutador. Essa imagem foi reforçada nestes anos de Boavista. É um bocado isso que ele é, construiu a carreira assim, na luta, acreditando muito, dando tudo nos treinos”, elogia o antigo médio do Olhanense. “Acho que ele casa na perfeição com a identidade do Boavista, vendo toda essa raça que mete na forma de jogar”, acrescenta Rui Duarte, analisando o desgaste que se apodera de qualquer jogador num cenário como aquele que se conhece no Bessa, de juventude a saltar para a ribalta pela debandada da primeira linha ou vendas necessariamente feitas por algum fôlego financeiro. “Muito certamente, há um desgaste mental grande. Sendo ele um dos mais velhos no plantel, sabendo eu como ele treina, provavelmente como comunica com toda a gente, acredito que esses miúdos o vejam como exemplo a seguir. O Agra é capaz de pôr toda a gente a trabalhar como ele”, elogia Rui Duarte, sintetizando a admiração por um outrora menino que também conheceu no consulado de Sérgio Conceição, em Olhão. “Ele merece todo o reconhecimento, pelo miúdo humilde que é, por uma carreira feita a pulso, pois lutou imenso para chegar onde chegou. Esta fase do Boavista não é fácil, é pública, mas ele nunca cederá”, sublinha o técnico que completou a época 2023/24 em Braga.