"Benfica e o FC Porto fizeram ações semelhantes e ninguém sabe quem é o investidor"
Administrador da SAD e "vice" da Direção para as finanças não quer quebrar sigilo com investidores norte-americanos, que perante antecipação dos 65 milhões de euros do contrato com a NOS injetam verba para suprir necessidades de tesouraria imediatas
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Francisco Salgado Zenha, administrador da Sporting SAD e "vice" do clube para a área financeira, abordou esta quinta-feira a antecipação de 65 milhões em receitas do contrato celebrado com a NOS por parte da sociedade, operação em parceria com o Apollo (omisso no comunicado à CMVM) que vai proporcionar a entrada imediata de 65 milhões de euros para suprir dívidas bancárias e também a fornecedores. O gestor explica ponto por ponto todas as contas e o porquê de não ter surgido, de forma pública, o nome do fundo norte-americano. Confira as declarações à televisão do clube.
Omissão da Apollo: "Enquanto empresa e enquanto parceiro que somos dos investidores, devemos manter as coisas em sigilo. Não vou revelar... Já muito se falou e nós nunca transmitimos nada, nem vamos fazê-lo. O Benfica e o FC Porto fizeram transações semelhantes e não partilharam essa informação. Na altura, também ninguém quis saber dessa informação. Tenho de ser coerente como gestor: não se escrutina este tipo de informação em praça pública. É confidencial. Não podemos ser um livro aberto e andar a partilhar essa informação".
"O Benfica e o FC Porto fizeram ações semelhantes e ninguém sabe quem são as contrapartes. Não vejo motivo para partilhar essa informação quando mais ninguém partilha. O Sporting não deve ser diferente dos outros, nem ter as suas finanças em praça pública. Os sportinguistas devem entender isso. Não podemos fazer mal a nós próprios. Fez-se muito isso na campanha. Não concordei e temos tentado evitar fazer isso. Assim continuaremos, a ser coerentes. Transparência? Somos transparentes, mas também temos de ser inteligentes e adaptarmo-nos à gestão de uma empresa. Uma empresa não é um livro aberto. Com que armas negoceio se sou exposto na praça pública?".
Destino dos 65 milhões: "O uso destes fundos serve essencialmente para reduzir passivos. Recordo que, quando chegámos, as necessidades de tesouraria para fornecedores eram muito altas - já se falou dos tais 40 milhões de euros. Vamos usar estes fundos para pagar dívidas a fornecedores".
Situação financeira: "Disse que não havia buraco nas contas, como foi confirmado pelos próprios auditores. O que encontrei foi o que estava visível no relatório e contas. Havia, sim, necessidades de tesouraria muito exigentes. Este ano, em dívidas a vencer este ano, estamos a pagar metade do custo do plantel do Sporting, um esforço muito, muito exigente. É como construir um plantel do zero e pagar metade num só ano. Quando nos deparamos com estas situações, temos de fazer operações que nos permitiam cobrir essas responsabilidades".
"Não existe buraco nas contas. Exemplo: no GES, na altura, descobriu-se um buraco de 2 milhões. Quando cheguei, o que estava nas contas correspondia à realidade, o que não significa que não haja necessidades de tesouraria, assim como sustentabilidade financeira. Temos contratos interessantes, como o da NOS, ativos interessantes. Os jogadores da formação até estão registados a zero... Tínhamos dificuldades de tesouraria".
Renegociação da dívida bancária: "Estamos em negociações com os bancos pelo acordo de reestruturação e utilizaremos parte deste financiamento para reembolsar os bancos".
O que é a titularização: "Não é mais do que uma antecipação de receita. Uma operação de financiamento com uma garantia, com uma cedência de receitas desse contrato televisivo. Desmistificando, não é mais do que um financiamento. É um financiamento para pagar outra dívida. Mas em vez de fazer um financiamento por um lado, foi ceder diretamente a receita junto do fornecedor [o Apollo]".
O que resta do contrato? "São 65 milhões, que representam dois anos de contrato. Uma parte já estava antecipada, mais dois anos em cima desses dois anos".
Clube vai gerar receita no futuro? "Vamos cumprir o nosso plano financeiro, é nisso que acreditamos. O caminho é difícil, mas estamos a construi-lo para sermos capazes de gerar receitas que cubram as nossas responsabilidades. O que nós herdámos não permite fazer isso, daí fazermos esta operação. Não geramos receitas organicamente".
Reembolso: "Quisemos assegurar que, em determinado momento, poderíamos recuperar de volta parte do contrato que cedemos".
Taxa de juro: "Foi, de certeza, a melhor possível, tendo em conta em que foi feita a operação. Estou muito confortável. Fizemos um bom trabalho. É um processo que começou em dezembro, competitivo. Não fechámos com a primeira contraparte. Envolveu intermediários, uma espécie de leilão com os maiores investidores do Mundo. Tivemos seis ou sete a mostrar interesse, fizemos uma ronda final com três e escolhemos o que achámos mais interessantes. Não estamos a falar de empresas de investidores de vão de escada. São dos maiores do Mundo. Fizemos o que devia ter sido feito".