Salgado Zenha, administrador do Sporting: "Não somos obrigados a vender, podemos gerir"
Declarações de Francisco Salgado Zenha, administrador da SAD do Sporting, em entrevista à TVI
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Quem está mais contente depois do título conquistado, os adeptos ou os administradores?
"Claramente todos estamos contentes, o mais importante são os adeptos, é para isso que cá estamos. Mas naturalmente estamos muito satisfeitos."
Sporting estava falido quando esta administração chegou ao clube, ganhou depois um título, mas estava em falência técnica até ao ano passado. Como se transforma um clube falido num clube campeão?
"Dois pontos críticos. Acertar custos, assumir que podemos ser menos competitivos no início para sermos mais competitivos no futuro e não nos desviarmos do caminho. Mesmo que haja pedras no caminho, manter essa consistência. Nós quando entrámos, num contexto muitíssimo difícil, em 2018, fizemos isso mesmo: reduzimos custos numa fase inicial muito desafiante e em 2019/20 tivemos um ano muito aquém das expetativas em termos desportivos. Mas nem por isso, no final dessa época que ficámos no quarto lugar, fomos capazes de reduzir o orçamento. No ano seguinte fomos campeões nacionais de futebol, campeões europeus de hóquei em patins, campeões europeus de futsal entre outros títulos importantes."
Consegue dizer quanto vale um título de campeão nacional?
"Há um impacto direto nas receitas que o Sporting consegue a nível de negócio pelo interesse que gera nos sócios e simpatizantes por termos sido campeões. O mais importante é também o acesso à Liga dos Campeões e depois a valorização dos nossos ativos. O conjunto destas coisas é importante."
O Sporting faz em média receitas anuais de 50/60 milhões de euros em vendas de jogadores. Este ano como vai ser? Vai vender? Precisa?
"O Sporting e o seu modelo tem de se aproximar do dos seus concorrentes europeus. Isto é, sim o Sporting é um clube vendedor para ser cada vez mais competitivo na Europa. E agora pode perguntar porquê. Eu dou-lhe um exemplo em números. O Sporting fechou a época 2022/23 com cerca de 125 milhões de euros de receitas operacionais sem transações de jogadores e esteve na Liga dos Campeões. Um clube do meio da tabela de Inglaterra faz duas ou três vezes mais. Para lhe dar outro número, o Sporting faz mais ou menos 20 milhões de euros de receitas em bilhética, incluindo camarotes, corporate, etc. Um Ajax ou um Celtic fazem 40 ou 50 milhões."
É difícil competir no panorama europeu?
"Nós somos uma economia muito mais frágil que os nossos concorrentes europeus e temos de tomar uma decisão. Queremos continuar a ser competitivos a nível europeu, a ir à Liga dos Campeões ou não queremos? E se queremos temos de arranjar formas de lá estar e sermos competitivos. A resposta do Sporting é continuar a trabalhar bem o negócio do futebol, gerar rendimento desportivo e económico com jogadores e ao mesmo tempo temos de ir melhorando o negócio do entretenimento para ir mitigando a necessidade de vender jogadores. É isso que temos de fazer. Mas continuar a vender, só que com uma nuance: hoje não somos obrigados a vender, podemos gerir o nosso timing. Vamos acabar por vender. Vendemos e compramos todos os anos, mas gerimos o nosso timing."
O plantel está avaliado em cerca de 120 milhões de euros nas contas, números oficiais, mas sabemos que esse valor está certamente subavaliado. Consegue dar-nos uma estimativa do verdadeiro valor de mercado?
"Por exemplo, o Transfermarkt avalia o plantel em cerca de 330 milhões de euros. Aquilo que nós temos a certeza é que o plantel vale sempre mais do que o seu valor contabilístico, até porque os jogadores da formação não têm valor contabilístico. É só contabilizado o valor de aquisição. Portanto, quando se olha para a fotografia do clube do ponto de vista financeiro, esta mostra que temos mais força do que por vezes transparece."
Se estivermos de novo daqui a um ano neste estádio, o que quererá estar a dizer-me nessa altura?
"Gostava de estar ainda mais satisfeito do que estou hoje. Significaria de que teríamos ganho ainda mais títulos, estaríamos mais próximos também de dar a nós e aos adeptos cada vez mais gozo de estarmos aqui."