Operação de financiamento fixada em 35 M€ vence em junho, mas contexto desaconselha emissão de outra para a pagar
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O FC Porto vai propor aos obrigacionistas do empréstimo que vence a 9 de junho o prolongamento por um ano. Foi essa a solução encontrada para resolver um problema criado pela incerteza do mercado.
"Não corremos o risco de ser penalizados [pela UEFA] desde que provemos uma relação entre a pandemia e as nossas dificuldades"
"O que faríamos normalmente", explicou o administrador financeiro Fernando Gomes a O JOGO, "seria o lançamento de um novo empréstimo obrigacionista no mesmo valor e com a mesma taxa [4,5%], que é bastante boa. Já fizemos sete e sempre tivemos procura bastante superior à oferta. Neste último, superou em 2,5% os 35 milhões de euros. Mas entendemos que o momento é demasiado incerto para tentarmos essa operação."
Num empréstimo obrigacionista, são os pequenos investidores quem financia a entidade a troco de juros normalmente acima dos praticados pela banca e pelos fundos comuns. Quando há demasiados compradores, faz-se um rateio por todos eles, e é isso que tem sucedido em todos os empréstimos do FC Porto. Neste momento de insegurança, explica-nos o administrador financeiro, essa resposta positiva seria tudo menos certa. Um fracasso obrigaria automaticamente a SAD a pagar aos anteriores investidores a diferença entre o montante arrecadado e os 35 milhões de euros. Então sim, haveria o risco do chamado "default", isto é, o incumprimento das condições assumidas na oferta pública.
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Este plano B, que terá de ser aprovado em assembleia de obrigacionistas, propõe o pagamento dos juros no próximo dia 9 de junho, outra vez em 9 de dezembro e depois a liquidação total de todo o empréstimo mais juros remanescentes daqui por um ano. Fernando Gomes está convencido da aceitação dos obrigacionistas, dado que se mantêm os 4,5% dos juros e o investimento continua a ser interessante para eles. Também ficará em aberto a possibilidade de antecipação do reembolso, eventualmente para o mercado de transferências de janeiro de 2020.
Os salários e despesas mais comuns "estão assegurados para os próximos meses"
Esse caminho - da venda de jogadores - já vinha sendo preparado, mas ficou bloqueado automaticamente pelas consequências da pandemia. Num contexto de cortes salariais e lay-off de funcionários, nenhum clube se sente em condições morais, nem financeiras a curto prazo, para negociar compras milionárias. Fernando Gomes remete esse via para a retoma da competição, assegurando que os salários e despesas mais comuns "estão assegurados para os próximos meses".
Restará, ao FC Porto, a frente de batalha da UEFA, onde se mantém a supervisão financeira. "Nos contactos que eu e o presidente vamos mantendo, e que vêm de antes da pandemia, foi-nos dito que não haverá alteração à legislação do fair-play financeiro, mas que este contexto anormal será tido em consideração. Não corremos o risco de ser penalizados desde que provemos uma relação entre a pandemia e as nossas dificuldades, coisa que não será difícil." Por garantir, ficou a séria hipótese - já adiantada por O JOGO - de este ser entendido como um ano nulo, ou ano zero, em termos de fair-play financeiro. Outras fontes garantem-nos que a UEFA acabará por ser empurrada para algo assim pela simples previsão do volume monumental de incumprimentos dos clubes durante este próximo ano.
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No caso específico do FC Porto, será também importante perceber qual será a definição do ano económico. Fechando as contas, como habitualmente, a 30 de junho, não haverá receitas de transferências para atenuar os números da última época, mas um eventual prorrogamento da UEFA para julho, dadas as circunstâncias, poderia mudar bastante esse cenário. Também por isso será importante o recomeço das competições, que encerram, digamos, a última parcela desta grande equação económica em que o FC Porto (e quase todos os outros clubes) estão envolvidos. À parte a questão já muito debatida dos operadores televisivos, não reatar a época à porta aberta implica compensar os compradores de lugares e camarotes por quase um terço dos jogos que pagaram para assistir no estádio, uma medida que, mesmo não passando pela devolução de dinheiro, sujeitará sempre os clubes a eventual perda de receitas futuras.