Rui Costa, presidente do Benfica, fez o balanço da temporada 2023/24 das águias, abordando diversos temas. O dirigente esteve à conversa com vários diretores de órgãos de comunicação social
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Que deficiências detetaram? O que há a melhorar e como? "Se considerássemos que a resposta da época foi inteiramente da responsabilidade de Roger Schmidt, talvez a situação fosse outra. Não tivemos o mesmo acerto em termos de 'input' que demos à equipa, não conseguimkos ter o mesmo sucesso, sobretudo imediato. Desde a primeira jornada, na época passada, o Roger Schmidt acertou o onze e foi andando a época toda. Este ano houve problemas e foi mudando. Aqui considero que a não é culpa do Roger Schmidt, houve coisas que não correram bem, não acertámos. Eu, como presidente, assumo a responsabilidade. Resta criar as mesmas condições de há um ano. Trabalhar de corpo e alma. Foram anunciando clubes que o podiam pretender. De forma muito honesta, se o próprio não considerasse que podia fazer o trabalho, acredito que ia assumir isso. Para quem trabalha e convive diariamente, pela paixão e entrega pelo clube, pelo trabalho e pelo que testemunhámos dos jogadores para com ele, acreditamos plenamente que terá todas as condições para fazer um bom trabalho. O que aconteceu há um ano, quando desconhecia os jogadores, e tendo feito o trabalho que fez, não pode ser obra do acaso. Conhecemos perfeitamente a qualidade. Para dar estabilidade aos clube e à equipa, o Benfica não pode constantemente, assim que não ganhe um campeonato, mudar tudo. Mudando treinador, jogadores, e não criando estabilidade para atacar títulos... Tem sido assim o historial. Acredito que o Benfica pode ter sucesso. E não significa que seja ad eternum. Coom tudo o que foi feito nestes dois anos, com remodelação... temos de proporcionar ao treinador o que não teve em mãos e teve de improvisar. É raro o treinador que está num clube e prefere ser prejudicado, dar a cara ele, em vez de atacar o clube. Completamente inserido no clube, máxima vontade de fazer o que não foi feito. Houve muitas lacunas, desde logo em termos de mercado. Não conseguimos ter o mesmo impacto de há um ano. No ano do título chegaram e jogaram, não quer dizer que os que chegaram não têm qualidade, mas tem a ver com a adaptação. Não teve o mesmo impacto que no ano passado e isso foi prejudicial. Nomeadamente os laterais. Acabámos por não conseguir colmatar a saída do Grimaldo, que foi muito importante no ano passado. Em várias posições oscilámos. Não passou unicamente por Roger Schmidt a ausência de títulos ou a época menos conseguida. É essa a minha crença. Seria muito fácil e populista mudar de treinador e preparar uma nova era. Mas pergunto também em relação ao nosso público. Se da exigência, desde o campo à bancada, de representar o Benfica. Se a época não corre bem, há constestação, é natural e compreensível. A troca de treinador é mais fácil, mas e se o próximo treinador viesse e as coisas não corressem bem? Alterava alguma coisa na exigência? Acredito que não. Não podemos mudar sempre os projetos e começar do zero. Não correu tão bem, iremos emendar os erros e vamos aparecer muito mais fortes e candidatos ao título com este treinador."
Se Schmidt saísse a custo zero, manteria na mesma? "Não quero colocar situações não colocáveis. Muito se fala do contrato, que o Benfica não troca [de treinador] pelo contrato. Acredito que se eu quisesse trocar de treinador não estaria na cabeça dele cobrar os dois anos de contrato. Numa conversa franca que tivemos, a vontade dele é expressa, grande dinamismo para a época correr melhor, rejeitou muita coisa para ficar neste clube. Acredita plenamente que pode voltar a fazer o que fez há um ano atrás. Custo zero? Nem se colocou essa questão."
Momentos conturbados. Houve conversas por isso? Que garantias dá? "Garantias que dá é o que conheço do trabalho dele. Esta equipa não teve o equilíbrio de há dois anos. Uma diferença grande, basta olhar para há duas épocas, até que momento da época utilizou mais ou menos a mesma equipa. Isso não nasce do acaso, nasce do trabalho e conhecimento do jogadores. Este ano não conseguimos muito tempo manter a bitola que esperávamos. Falei dos laterais e porque não mais? Partimos para a época com dois laterais esquerdos e um lateral direito. Partimos para esta época só com um lateral direito e um joker, a posição do Aursnes é de joker, mais do que tudo joga bem em qualquer posição. Tivemos um problema de adaptação imediata de Jurásek, percebemos que estava a demorar a adaptar-se à responsabilidade de jogar no Benfica, mas fomos buscar um jogador completamente credenciado, Bernat. Chegou sim com um problema em fase final de recuperação, foi extremamente avaliado, recuperação de problema muscular. Nunca tivemos Bernat. Chega com 5 anos Bayern, PSG, chega com mais cartel do que o Grimaldo que saiu do Benfica. Uma razão de não ir à seleção era Bernat. Não tendo Bernat quase o ano inteiro, foi fustigado com lesões raras na carreira, não teve lesões no passado. Teve lesão a que foi operado. A determinada altura sem lateral esquerdo, porque Jurásek, sem rendimento esperado, sem Bernat, e por ironia do destino Bah fez meio campeonato. São um número muito reduzido jogos para a titularidade de um jogador. Deu o caso de estarmos grande parte da época sem os dois laterais. Roger Schmidt teve de improvisar. Erro crasso e assumido e que teremos de corrigir. Isso impediu que rotinas bem vincadas do ano anterior... foi quase mexer constantemente na equipa para dar equilíbrio ao que foi acontecendo ao longo do ano e das falhas do início. Se calhar tínhamos de ter feito mais. Pela minha parte, obrigámos o nosso treinador a ter de improvisar e até a ser contestado por isso, sem ter responsabilidade de ser médico, jogador e algo mais. Não posso considerar Roger Schmidt o bode expiatório, não foi só questão técnica, foram várias."