Rui Costa analisa o mercado do Benfica: as entradas, as saídas, os casos de Rafa e Dí Maria e o plano
Rui Costa é entrevistado esta sexta-feira na BTV, canal de televisão do Benfica
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"Percebo que haja muita questão à volta de Rafa e Di María, estão a acabar contrato. Gostava de começar pelo início da época. Quer um quer outro abdicaram de muitos milhões. O Di María abdicou de grandíssimos contratos para voltar a vestir a nossa camisola, só por essa razão pudemos ter o Di María de novo, tendo feito o esforço financeiro que entendeu fazer já. O Rafa teve enormes propostas para sair logo no início da época. Na tal famosa conversa em Inglaterra, parecia que ia haver golpe de estado, na nossa conversa houve compromisso de ambas as partes. O Rafa rejeitou propostas enormes e o Benfica prescindiu de valores económicos por ele, arriscando a que saísse a custo zero no final da época. Comportamento e compromisso assumido naquele dia. O comportamento tem sido exemplar, tem sido uma das duas grandes épocas, mostrando vontade de ter sucesso. Só por terem ficado nestas condições merece de todos o respeito e aplauso. Temos de estar gratos, vamos ver o que vai dar. Não vale a pena antecipar cenários. Todos estamos focados para que que esta época acabe com sucesso."
"Quero dar conhecimento de Sven-Goran Eriksson. Soubemos internamente, bem antes dos adeptos, há cerca de um ano, sobre este grande senhor, que será sempre da casa e terá sempre aqui a sua casa. Ele não está de todo esquecido por nós. Em setembro do ano passado, no início da época, durante o jogo com o FC Porto, estava organizada uma homenagem. Infelizmente, com tudo já marcado, ele trazia toda a família, não pôde viajar na véspera para vir para Lisboa. O médico desaconselhou vivamente a vinda a Lisboa. Só por essa razão é que ainda não esteve connosco. Temos grande dificuldade em poder trazê-lo por essas razões. Ele não veio, mas toda a família veio. A filha viu o jogo ao meu lado. Não temos memória curta. Todos conhecemos a enorme história entre o Benfica e o Eriksson. Foi o treinador que me fez estrear na equipa principal. Jamais poderia passar ao lado deste facto. Se ainda não veio a Lisboa, é porque não pode. Estamos todos com ele nesta luta, toda a nação benfiquista está com ele, esperando que possa ganhar mais esta batalha."
"Tem muito a ver com a política desportiva que tracei para o clube, à qual se junta a política financeira. O meu compromisso foi com a política desportiva e é nessa linha que procuro seguir. Quando se faz uma remodelação tão grande como a que fizemos, nem sempre se acerta. Uma máxima no clube que procuro que todos defendam, no futebol é essencial: pode-se falhar no jogador, não no critério, e tentamos utilizar sempre essa máxima em todas as operações. É natural que, ao fazer uma remodelação tão grande, se possa falhar num ou noutro aspeto, procurando não falhar em nenhum. Neste ano e meio, foi essencialmente criar plantéis melhores, que possam ser vitoriosos e salvaguardar o clube desportivamente em todas as épocas. Se olharmos para a realidade de hoje, comparada com o que era há um ano e meio, na vinda de Roger Schmidt, começamos a época com 54 jogadores, com mais nove aquisições, tínhamos 63 ativos. Neste momento temos 31. Uma parte dessa política foi rentabilizar todo o aspeto financeiro para dentro do plantel. Destes 24 no plantel, sete são emprestados e quatro deles são da formação. Uma das partes da política desportiva passa por aí: menos jogadores e os emprestados que sejam da formação, para seguirmos o caminho que queremos. Não estou satisfeito com tudo, é um trabalho contínuo, não se faz um plantel para 25 anos, faz-se para que dure uma época. Estou muito feliz pelo que foi feito neste ano e meio. Temos um plantel com uma mistura de juventude e experiência, com Otamendi, Rafa, Di María, João Mário, Fredrik. E uma panóplia de jogadores até aos 24 anos que salvaguardam o clube no lado desportivo e criam um modelo de plantel muito mais valioso. Salvaguardados em ambos os campos, com muito mais qualidade do que há um ano e meio. Estou satisfeito com o que foi feito até agora. Queremos fazer sempre melhor, o que foi feito até hoje deixa-me otimista e vai de encontro ao que projetamos. Se compararmos com há um ano e meio, na salvaguarda do plantel, temos um plantel muito mais valioso. Mesmo temos 14 jogadores até aos 24 anos, com Trubin, António, Silva, Kokçu, João Neves. Nenhum benfiquista quer prescindir destes, até pela sua maturidade. Com uma mistura de juventude e experiência, o Benfica ficou mais forte, mais preparado para o futuro. Isso dá-nos esperança de continuar este projeto, que nunca estará finalizado."
"Depende sempre das ocasiões, mas neste momento, conseguimos aportar ao plantel o que era preciso de uma forma equilibrada. O Benfica não tem necessidade de fazer all-in, está tudo bem estudado. Procuramos sempre que haja um equilíbrio e foi isso que fizemos neste mercado, que nós dá a possibilidade de olhar para o futuro de uma forma positiva. Há mercados onde vamos ter de gastar mais, há outros em que a economia prevalece. Este mercado isso não fugiu à regra."
"Estava praticamente feito para o verão, mas com a saída de Guedes e a possibilidade de só o começarmos a pagar na próxima época, trouxemo-lo agora. Entendemos que pode ser útil ainda esta época e ainda para antecipar a sua adaptação. Quando trazemos jogadores desta idade têm de ser suportados por outros jogadores que já estão no plantel. Temos no plantel jogadores abaixo de 24 anos, mas temos outros que podem ser a muleta de adaptação. É verdade que um jogador sul-americano precisa de cinco/seis meses de adaptação. Ter espaço para ajudar no presente, mas ter tempo para se adaptar e ser uma mais valia para o clube. Dou vários casos, temos de ponderar que a adaptação destes jogadores desta idade está muito suportada por jogadores que temos no plantel. Quando chegam da América do Sul precisam de 5/6 meses de adaptação, como foi o caso do Enzo Perez. Jogar no Benfica não é fácil para ninguém, temos o caso do Arthur Cabral, que fez golos a toda a vida e sabíamos que ia fazer aqui. Jogar no Benfica é difícil, a responsabilidade é enorme e nem todos podem no imediato convencer. Muitas vezes somos nós, benfiquistas, que não conseguimos dar uma margem para a dúvida. Mas vestir esta camisola obriga uma responsabilidade grande e é preciso dar um tempo de adaptação aos atletas."
" Trouxemos o Bernat e o Jurásek. Bernat era um jogador consagrado, era um valor afirmado na Europa, mas lesionou-se e não esteteve ao serviço do Benfica, praticamente. Tem sofrido bastante por estar ausente e muito se tem falado dos laterais do Benfica. Tivémos Bah e Bernat lesionados, dois titulares absolutos, não por não termos contratado jogadores para as posições, mas pelas lesões graves. Era, por isso, necessário reforçar. O Álvaro Carreras é um jovem, mas com bom andamento nas pernas, escola Real Madrid, passou pelo Manchester United. Tem muita qualidade técnica. Acreditamos muito no seu potencial, estava identificado e tivemos a sorte de o trazer"
"Perante a carência de golos dos avançados, entendemos que devíamos ir buscar mais um avançado. Entendemos que há quem pense que os reforços devem ter impacto imediato, mas não há nenhum clube que venda em janeiro um avançado a fazer 20/25 golos, Quisemos um jovem avançado que pudesse acrescentar no imediato, mas a olhar para o futuro. O Marcos Leonardo só foi possível contratar porque o Santos desceu de divisão, aproveitamos essa oportunidade e as boas relações que temos com os clubes. São aquisições que só são pagas a partir da próxima época e isso é muito vantajoso para nós. O Marcos dá nos garantias para o presente, mas também para o futuro. Acho que ele tem mostrado o porquê da vontade de vir já"
"O último a assinar, mas o que foi feito mais cedo, praticamente no mercado de verão: Mas, pela idade dele não poderia vir, só em janeiro, quando fez 18 anos."
"Nós avaliamos muito se ele está na posição certa ou não. A crítica diz que ele é médio esquerdo, a verdade é que ele foi contratado para médio-centro, a posição em que ele jogou menos até agora. Ele desempenha todas as posições com espetacularifdade. Sem excessos, para mim foi o melhor lateral-direito neste meio ano. Mais importante do que se está ou não correto ali, é pensar se joga bem ali. Discutimos a contratação de mais uma opção para lateral-direito. Pensava-se que Bah demoraria mais tempo a recuperar, quando percebemos que estava perto de voltar, e já voltou, entendemos que era mais urgente reforçar outras posições"
"Foi um elemento importante do plantel, que teve muito quando saiu o Enzo. Terminava contrato este ano, com a contratação do Kokçu não teve os minutos esperados, estava a terminar contrato. Teve esta solução para ele, para nós não foi exageradamente vantajoso, mas foi melhor do que sair livre. Considerámos que podia ser uma saída airosa para ele. Por tudo o que ele deu ao clube, não merecia que lhe cortássemos essa oportunidade."
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"Não era nosso jogador, esteve cá emprestado um ano. Teve várias lesões que o condicionaram a ganhar mais espaço. Era um jogador que estava com poucos minutos e não sendo nosso, teve a oportunidade de ir para Espanha com um treinador que conhecia. Tinha vontade de ir e nós cedemos. A vinda do Rollheiser preencheu essa vaga. O Guedes não merecia que impedíssemos a saída, já que não estava a ter a importância esperada. Mas não me posso esquecer, será sempre um de nós, sempre mostrou grande empenho, como mostrou o ano passado em Alvalade, quando se lesiona gravemente no joelho. Ainda hoje ninguém sabe como é que ele aguentou aqueles 15’ em Alvalade. Ficámos com ele para o recuperar e para ter influência. Perdeu tempo a recuperar da lesão e não teve o espaço e, por isso, não fazia sentido não aceitar a mudança para Espanha, estávamos preparados para essa saída. É um jogador que precisa de minutos. Todos os jogadores que saíram e que não tiveram importância, foram sempre importantes."
"É uma questão diferente. Teve mais minutos do que os outros três, mas com a recuperação de Arthur Cabral, com Marcos Leonardo e com o Tengstedt não fazia sentido continuar com os quatro. Um deles iria ter menos minutos e poderia passar pelo Musa. Com uma propostas destas, considerámos oportuno fazer a mudança, sabendo que o Musa nos deu muito este ano e no ano passado, um jogador influente a sair do banco, mas não fazia sentido ficar com os quatro e só jogar um. Também financeiramente, é preciso balanço. Era uma proposta vantajosa, que pode chegar aos 12m, e corríamos o risco de chegar ao final do ano e não ter a mesma proposta. Todas as partes acharam que era uma solução oportuna. Se não tivesse aparecido, a decisão podia ter sido diferente, mas assim quisemos aceitar.
"O Lucas Veríssimo foi uma pena, quer pelo jogador quer pelo homem. Mas na altura em que era titular aqui e na Seleção lesionou-se e perdeu um ano de competição. Apareceu depois o António e o Morato, Otamendi... e ele foi perdendo o espaço que tinha. Teve um comportamento exemplar o ano passado, mesmo sem ser usado. Foi emprestado ao Corinthians já que tinha pouco espaço no onze inicial. Agora havia a solução permanecer ou a ida para o Catar com uma verba boa que, não tendo a oportunidade de ficar com ele, achámos que era o melhor."
"Temos a esperança que Jurásek tenha seis meses a jogar e depois se avalie a situação de novo. Tem uma opção de compra, não obrigatória, e será muito melhor para o seu futuro jogar numa Bundesliga [Hoffenheim], do que não ter minutos na equipa do Benfica."
"Gabriel? Não fez parte do plantel no ano passado, nem agora. Vinha de dois empréstimos, a um ano e meio de acabar contrato... procurámos soluções, mas não encontramos. Então acabamos por rescindir com ele, dentro da política que queremos, não tendo assim mais encargos. Foi a solução mais viável. Não íamos ter lucro com a saída dele e por isso preocupámo-nos em não ter mais encargos."
"A vinda do Rollheiser, antecipadamente, preenche essa vaga. Guedes não estava a ter, infelizmente para todos, a importância que se esperava no início da época. Não posso esquecer, até porque será sempre um de nós, o comportamento dele"
"O Jurásek tinha grande expectativa, até pelos números, e não me custa admitir que não teve o impacto que esperávamos, numa posição que não era nada fácil pelo impacto que Grimaldo tinha tido. Achávamos que Jurásek estava pronto"
"Para anular alguma dúvida, não há nenhuma aquisição do Benfica que não tenha um entendimento do presidente e do treinador. Infelizmente, Jurásek não teve o impacto que se esperava"
"Acreditamos que fizemos um bom trabalho e que preenchemos a equipa com novos jogadores que podem acrescentar muito ao plantel. Estamos satisfeitos e com a esperança que seja proveitoso no final da época"
Rui Costa é entrevistado esta sexta-feira na BTV, canal de televisão do Benfica. Para acompanhar a partir das 19h00
"O João Victor foi contratado no início da época passada, quando tínhamos Otamendi, Vertonghen e Morato. Precisámos de um quarto central. Encontrámos em João Victor a indicada, numa fase que ainda não tinha nascido António Silva, que acabou por ser a grande surpresa. O João Victor, que chegou lesionado, acabou por perder o espaço inicial. Foi emprestado, voltou este ano e face aos poucos minutos jogados e perante a boa proposta para ele e para o clube, entendemos que era a melhor solução aceitar esta proposta. Voltou ao Brasil e nós recuperámos praticamente todo o investimento feito e usufruímos do António Silva ser um ponto positivo no Benfica. Acabou por ser vantajoso para todos."
Recordemos as movimentações do Benfica no passado mercado de inverno, que encerrou a 31 de janeiro: contratações de Marcos Leonardo, Benjamín Rollheiser, Gianluca Prestianni e Álvaro Carreras; saídas de Gonçalo Guedes, Jurásek, João Victor, Musa e Chiquinho.
Trata-se da habitual entrevista que Rui Costa dá à BTV após os dois mercados de transferência