Rubén de la Barrera: "Alegro-me que haja maior eficácia, o Vizela merece a I Liga"
Treinador espanhol dirigiu minhotos nos dois principais escalões, mas não resistiu aos resultados e à contestação. Acompanha com agrado o desempenho da equipa com o sucessor
Corpo do artigo
Chegou a Portugal vindo de passagem pela seleção de El Salvador. Seguiu no cargo após a descida do Vizela, mas não conseguiu os resultados ideais na II Liga. Puxa de galões pela herança que deixou a Fábio Pereira, que conduziu a equipa ao atual sétimo lugar.
Ainda à espera de voltar ao ativo, o treinador galego reflete sobre o que correu menos bem em Portugal, num clube cheio de paixão. Diz que deixou um jogo sólido e está contente que esteja agora a dar frutos.
Com 34 jogos em Vizela, com passagens pelos dois principais escalões, como olha de forma mais distante para a sua saída, com deceção ou orgulho?
-Foi uma experiência muito positiva, enriquecedora em vários aspetos relativos ao processo, ao dia-a-dia, e pela forma como fomos procurando extrair o melhor rendimento estratégico, coletivo e individual.
Que nível encontrou na I Liga?
-Considero-a uma liga altamente competitiva, na qual fomos encontrando equipas realmente importantes e superiores. Muitas transições, nas quais o controlo e a gestão do caos é determinante.
“Na passagem pela I Liga conseguimos cerca de mais 15 pontos em relação ao expectável”
Uma descida e uma luta difícil na II Liga. O tempo correu muito depressa...
-Na passagem pela I Liga conseguimos cerca de mais 15 pontos em relação ao expectável, apesar dos condicionalismos. Houve impacto futebolístico e o reconhecimento de muita gente do futebol português, mesmo descendo. Estiveram postos em nós olhos de quem percebia a realidade dos jogos. Na II Liga éramos a equipa com a melhor defesa, a que menos chances permitia, e também a que tinha mais posse e que mais situações de golo criava. Havia solidez no jogo, mas infelizmente não chegou para ganhar com regularidade.
Num clube com paixão exacerbada nas bancadas, como encara o julgamento que existiu, por vezes severo, dos adeptos?
-Tinha noção do lugar onde chegava, ainda que um treinador só depois conheça a verdadeira realidade. Tento levar as coisas positivas e recolher aprendizagens de tudo o que me aconteceu, isso é que me ajudará no futuro. Senti respeito da parte de todas as pessoas que conheciam a realidade e entendiam o que nós pretendíamos.
De longe, que ligação guarda a Vizela?
-Ao terminar algo é momento de analisar e refletir. Mantenho uma relação afetiva com o Vizela. As pessoas sabem o que fizemos e as melhorias que se produziram. É uma cidade especial, onde há uma ligação forte a certos valores. Sigo os resultados e vejo que ainda podem lograr os objetivos. Quando saímos, éramos a equipa menos batida. Havia um processo positivo, apesar do andarmos no meio da tabela. Alegro-me que agora haja maior eficácia. O Vizela merece a I Liga.
O que gostava de ter feito e não pôde?
-Não tem a ver com o tempo, foram as circunstâncias. Elas é que trariam maior regularidade e ajudariam a estabilizar o clube na I Liga com aspiração de crescer ano após ano.
Quais são as maiores diferenças entre os segundos escalões de Portugal e de Espanha?
-No futebol todas as divisões secundárias são muito complicadas, mas considero que a II Liga espanhola é muito forte e competitiva. Entendo mesmo que poderá ser uma das oito ligas mais fortes da Europa.
Paixão que pedia outra comunicação
Como foi lidar com a paixão dos adeptos, para o bem e para o mal?
-A paixão deles é muito característica, acompanham a equipa a todo o lado, deslocam-se por todo o país, isto apesar das dificuldades. É algo que só se pode elogiar. O certo é que esse sentimento tão forte pelo clube obriga a criar a melhor comunicação possível para evitar situações que podiam ser antecipadas.
Faltou ligar mais o grupo à cidade?
- Ter a melhor comunicação tem a ver com todos os departamentos do clube no que é a ligação aos adeptos e à cidade. Isso sempre facilita o desempenho. Permite que todos saibam o que cada um faz e os porquês. Isso favorece e pode traduzir-se em segurança e tranquilidade, repercutindo-se no rendimento dos jogadores.
Vendas: Essende saiu por cinco milhões e foi o maior negócio do clube
Rubén de la Barrera aborda o plantel que teve ao dispor e uma SAD muito ativa no mercado, trazendo jogadores de diferentes proveniências. O destaque foi Essende (na foto), que rendeu golos e uma saída por cinco milhões de euros para os alemães do Augsburgo.
“O clube tinha objetivos financeiros, mas os jogadores queriam ficar, mesmo quando tinham poucos minutos. Havia uma empatia com o nosso trabalho que os ajudava a serem melhores. Foi reconfortante mas difícil de gerir a médio prazo. Muitos acrescentaram o seu valor e o expoente de tudo isso foi o Essende”.
“Quero regressar um dia”
Pensa voltar a Portugal depois desta experiência?
-Portugal pareceu-me um cenário ótimo e maravilhoso para qualquer treinador trabalhar. A minha vontade é voltar um dia e poder fazer o que sinto que é possível, desde que as circunstâncias também o favoreçam.
“É normal que o jogador espanhol olhe para Portugal, dado tratar-se de uma liga muito visível”
Com que impressão ficou dos técnicos portugueses? O cenário em Portugal favorece o jogador espanhol?
-Em Portugal vi vários treinadores consagrados e outros com potencial muito interessante. Para mim, é normal que o jogador espanhol olhe para Portugal, dado tratar-se de uma liga muito visível e que, certamente, poderia criar grande impacto, muito positivo, nas carreiras de todos eles.