Fernando Nélson, antigo lateral-direito do FC Porto e Sporting, foi companheiro e amigo de Zé Manuel, pai do diamante portista que já impressiona o mundo. Lança uma visão sobre o talento do menino prodígio, nada relacionado com as caraterísticas do progenitor
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Fernando Nélson, antigo internacional português, lateral-direito com sucesso conhecido no Sporting e FC Porto, tendo também feito parte da geração que conquistou o Mundial sub-20 em 1991, delicia-se na sua cadeira, colado à televisão, com o rasgo magnífico de Rodrigo Mora, que tem sido um doce apuradíssimo para os adeptos portistas, numa época que esgotava sem qualquer paladar generoso. O banquete de talento com Casa Pia e Famalicão, três cocktails de sabor decisivo, projetou ainda mais a força do craque. Nélson cruzou-se com o pai do prodigioso atacante na formação do FC Porto, numa fase ainda precoce dessa caminhada. Falamos de Zé Manuel, que se notabilizaria como extremo numa carreira onde passou por Leixões, Braga, Moreirense e Lourosa.
"Penso que faço dois anos com o Zé, dos 11 aos 13, possivelmente. Depois ele segue para o Leixões, eu para o Salgueiros e fomos rivais algumas vezes. Era alguém que fazia todo o corredor, podia ser lateral, médio ou extremo. Fazia o seu flanco com muita tenacidade, sendo combativo e possuidor de alguma técnica. Era um extremo puro, à moda antiga, metia raça e não virava a cara à luta", relembra Nélson, avaliando a carreira do velho amigo. "Ainda jogou em clubes de prestígio como Braga, Leixões e Moreirense, não posso dizer se correspondeu ao valor que tinha, porque existem circunstâncias que não conhecemos em pleno, há lesões. Mas recordo-me bem dele, um bom amigo, demo-nos logo bem, era afável, cinco estrelas e também brincalhão. Fico agradado de ver o sucesso do filho, é sempre bom vermos filhos de antigos colegas atingirem esta dimensão", argumenta Nélson, aceitando o desafio de procurar encontrar traços do pai no filho, dos mais escondidos aos mais evidentes.
"A primeira caraterística que salta à vista é serem muito morenos, não precisarem de ir à praia. São morenos do inverno ao verão. Mas, futebolisticamente, nada parecidos. Um pai era um canhoto encostado à linha e raçudo como tudo. Talvez se associem, sim, pela vontade em campo, o quererem participar ativamente, não cederem nada na sua entrega. Tecnicamente o pai era só esquerdo, Mora é mais direito, o pai ia bem de cabeça e era combativo. O Rodrigo nunca será jogador para o futebol aéreo", relata, antecipando carreira de sonho da coqueluche do FC Porto, mas recomendando tranquilidade com a ditadura do mercado.
"Ainda são os primeiros passos na alta esfera, é preciso ter paciência, da equipa técnica aos dirigentes, e o próprio jogador. Isto é tudo precoce, há um longo caminho pela frente, e os passos devem ser seguros para que o ajudem a crescer e amadurecer. Passos demasiado grandes podem ser traiçoeiros para as aspirações. Temos vários exemplos de jovens que saíram muito cedo e tiveram retrocesso no seu desenvolvimento", analisa o antigo lateral-direito. "No lugar do Rodrigo, acho que é importante esperar e amadurecer, cimentando esta posição de relevo. Está a conquistar uma dimensão muito importante dentro do FC Porto e não lhe faltam condições nem qualidade para ser um jogador de referência internacional. É preciso suportar bem isso e acredito que o pai também tem isso em conta para o ajudar a singrar."
Passou a paixão
José Nuno Azevedo, histórico do Braga, também se cruzou com o pai de Rodrigo Mora, já Zé Manuel era sénior e atingia o seu clube mais destacado, entrando no 1º Maio. "Tratou-se de um jovem que não se conseguiu impor no Braga, ao fazer esse salto a partir do Leixões. Era um jogador canhoto, explosivo, de corredor, tanto como lateral como extremo", recorda, maravilhado com a herança futebolística que ficou e os pés abençoados que animam a plateia portista. "O Mora é um criativo de corredor central, talento puro no desequilíbrio, no último passe e na definição da finalização. É um, talento inacreditável aos 17 anos, mas, sou dos que defendo, que é preciso deixar crescer a sua maturação de forma tranquila porque tem o mundo à sua frente. Tem qualidade para almejar tudo no futebol, espero que sem pressa", avisa José Nuno Azevedo, detetando um estofo familiar que blindará o prodígio azul-e-branco do deslumbramento. "Lembro o Zé Manuel e vem-me à memória uma grande paixão. Tenho a certeza que a passou ao filho e, será sempre importante para o Rodrigo. O pai pode ter sofrido por não ter conseguido aquilo que pensou ser possível, uma carreira muito melhor, e, com isso, colocar o Mora sempre "com os pés no chão "