Conceição permitiu-lhe tomar o pulso ao futebol europeu na Supertaça, mas há trabalho a fazer e o reforço é para ser lançado aos poucos.
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O potencial demonstrado nas seleções mais jovens do Brasil e no Palmeiras criou uma enorme expectativa à volta de Gabriel Veron, que no espaço de uma semana e meia já teve a oportunidade de sentir o pulso ao futebol europeu.
Primeiro, no particular com o Mónaco (9"), que serviu para o FC Porto se dar a conhecer aos adeptos; depois, na Supertaça Cândido de Oliveira, com o Tondela (3"), que lhe valeu o primeiro título do lado de cá do Atlântico.
Contudo, o processo de adaptação ainda está no começo e há um importante trabalho a realizar, principalmente no plano tático, uma vez que a chegada a Portugal aconteceu sensivelmente a meio da época na América do Sul e já levava 35 jogos nas pernas.
Segundo informações recolhidas por O JOGO, o maior foco está mesmo no capítulo defensivo. Os momentos e as zonas de pressão, o posicionamento, a reação à perda e a entreajuda são tudo características inegociáveis para Sérgio Conceição, que antes do confronto com os beirões alertou os mais impacientes de que seria "preciso tempo" até Veron estar pronto. "Se [a adaptação] vai demorar muito ou não, depende dele. Pode ser uma semana ou um mês", esclareceu o técnico, que repetiu a ideia ontem, em conferência de imprensa, embora não tenha dúvidas de que o ex-Palmeiras "tem tudo para se afirmar" no Velho
Continente.Pepê, por exemplo, foi titular três vezes desde o arranque oficial de 2021/22 até 31 de dezembro, beneficiando depois da partida de Luis Díaz para o Liverpool para se afirmar. Evanilson, por sua vez, foi utilizado de início em quatro ocasiões na primeira época, explodindo para os golos só na segunda, quando já não havia Marega no plantel.
A evolução dos últimos reforços garantidos pelo FC Porto no Brasileirão antes de Gabriel Veron, de resto, são um bom exemplo para o extremo de apenas 19 anos, contratado para ser uma aposta no futuro. Por isso, o objetivo passa por desenvolvê-lo na sombra, com paciência e sem a pressão que a falta de soluções ofensivas poderia provocar, por muito que os golos e as exibições no Palmeiras despertem uma enorme curiosidade nos adeptos. Aliás, os minutos nesta primeira fase até poderão não ser muitos, como se viu com o Mónaco e o Tondela. Contudo, Veron está avisado que todos a que tiver direito serão cruciais para mostrar a Conceição que está a aprender e convencê-lo a dar-lhe mais tempo no futuro.
Evanilson e Pepê têm funcionado como muletas para Gabriel neste começo de aventura na Europa. Paciência de ambos é exemplo para o jogador de 19 anos, contratado como aposta para o futuro.
3 questões a Pedro Bouças, treinador que integrou a equipa técnica do Santos em 2020
"Nesta fase ainda é um jogador selvagem"
1 O capítulo defensivo e o plano tático são os aspetos em que Sérgio Conceição deve incidir mais na adaptação de Gabriel Veron?
-Sem dúvida. Não só pelas características do Veron, mas também pelo rigor tático que o modelo de Conceição exige. É um jogador de imenso talento, com enormes qualidades técnicas e físicas, mas que precisa de ser moldado, de crescer na vertente tática e alia-se isso à importância que o Sérgio dá ao cumprimento minucioso dos posicionamentos e de todas as ações exigidas para se jogar neste FC Porto. Ver Sérgio dar prioridade a isso era esperado.
2 Hoje em dia, os jogadores brasileiros já chegam mais preparados ao futebol europeu?
-É uma pergunta difícil... Acredito que se trabalha cada vez melhor, mas cada caso é um caso. É mais difícil jogar na Europa, porque há menos espaço e menos tempo para pensar. E exige aos jogadores capacidade mental e disposição para ultrapassarem as dificuldades que, no início, terão sempre. E, se calhar, nem todos têm abertura para esse processo. O Veron veio de muito trabalho tático com o Abel [no Palmeiras], o que é uma vantagem, porque não chega com total desconhecimento das ideias dos treinadores portugueses. Em termos práticos, precisa desta fase de aprendizagem. Com o Sérgio, os jogadores foram entrando de forma gradual e crescendo, sobretudo no treino, soltando-se já com mais preparação e enturmados na ideia da equipa. Para o próprio Veron será bom aparecer aos poucos. Assemelha-se ao que aconteceu com o Pepê... Não são muitos os que entraram de caras com o Sérgio. O Evanilson é um exemplo e até o Taremi, que levou o seu tempo e hoje é fundamental.
3 O que é que Gabriel Veron pode dar de diferente ao FC Porto?
-Desequilíbrio individual. Antes, o Francisco [Conceição] entrava quando era preciso desbloquear o resultado e o Veron tem esse um para um desconcertante, tem velocidade, capacidade de finalização... Nesta fase, ainda é um jogador selvagem, por assim dizer, mas tem esse fator diferenciador no ataque, que é algo que não se encontra com facilidade em Portugal.