Figura incontornável da história do clube poveiro, o agora ex-jogador pretende implementar um projeto novo, mas antes é obrigatório reduzir o enorme passivo e negociar dívidas com os credores
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Ricardo Nunes já deixou de treinar com os companheiros de equipa e concentra-se agora na missão de salvar o clube do coração de uma grave crise. Vender património, negociar dívidas e adequar o orçamento à competição em que participa são algumas das ideias do ex-guarda-redes caso vença as eleições. O plano para um novo Varzim está bem definido.
Após um jogo em que o Varzim bateu o Lourosa por 4-3, anunciou o final da carreira. Se escrevesse um guião, faria melhor?
-Nenhum sonho seria tão perfeito. Foi tudo o que sonhei para o fim da carreira. Foi naquele relvado que tudo começou e era ali que queria acabar, junto dos meus e no clube do meu coração. Foi o coroar de uma carreira da qual me orgulho e na qual atingi patamares que sonhei em menino.
No final do jogo, em pleno relvado, anunciou que será candidato à presidência do Varzim. Faltando apenas seis jogos para terminar a época, qual a razão para ter antecipado o fim da carreira?
-Sempre tive o objetivo de ser presidente do Varzim, mas apenas imaginava candidatar-me daqui a quatro ou cinco anos. Sentindo que o Varzim atravessa uma fase muito difícil, achei que era a altura de dar um passo em frente. Em relação aos timings, depois da derrota com a Académica e em conversa com o míster Vítor Paneira, achámos que ficou muito difícil o objetivo da subida de divisão e achei que era o momento certo para sair. Terei tempo para preparar a minha equipa e para entrar com força neste novo projeto, organizando tudo até ao período eleitoral que teremos no final da época. Havia ainda a questão da incompatibilidade de ser candidato e capitão de equipa numa altura em que temos salários em atraso. Não me iria sentir bem a defender os direitos dos jogadores e passar depois para o lado de lá.
Estando o Varzim numa situação financeira muito complicada, quais as ideias que vão sustentar o seu projeto?
- É tudo uma questão estrutural e de liderança. O Varzim, neste momento, precisa de elucidar os seus sócios e começar a trabalhar, não pelo telhado, mas pelos alicerces. O Varzim pode ser um clube de primeira, mas neste momento está na Liga 3 e tem de se adaptar a isso, fazendo orçamentos deste patamar e não de II Liga. Só pelo seu nome, pela sua história e com a sua massa adepta, o Varzim será sempre um candidato a subir de divisão, mas temos de adequar o orçamento à realidade em que compete e deixar de viver acima das possibilidades. O Varzim há de chegar onde merece, mas é preciso tempo para poder estruturá-lo e ter estabilidade financeira, para nunca mais vermos o nome do clube nas notícias pelos piores motivos. Chega de colocar pensos rápidos para tratar doenças terminais.
Se for eleito, quais serão as suas primeiras medidas?
-O importante é eliminar o passivo, e existem várias possibilidades em que estamos a trabalhar. Uma delas passa pela alienação de património, com a venda do campo de treinos e da antiga sede, caso os sócios o aprovem, um ponto que será fundamental, assim como as negociações do PER [Processo Especial de Revitalização] com os credores para vermos qual será o perdão de dívida, que pode bater nos 6,5 milhões de euros. A ideia será reduzir o passivo para metade, para que depois, com a venda do tal património, as contas fiquem completamente sanadas e para que, sem dívidas, o Varzim comece a trilhar o seu caminho. Na nossa liderança caberão todos os varzinistas e será uma liderança para agregar. Queremos chamar todos os que se afastaram do clube.
A criação de uma Sociedade Anónima Desportiva no futuro é inevitável?
-Para o Varzim dar um salto qualitativo e estruturar-se para uma I Liga tem que dar esse passo. Mas não pode ser a todo o custo, tem que se trabalhar para que, quando se negociar essa SAD, o Varzim esteja totalmente sem dívidas e tenha outra capacidade negocial. Com o potencial que o clube tem e com o peso da sua história, não vão faltar investidores. É um clube apetecível e, depois de conseguirmos essa estabilidade financeira, poderemos fazer uma abordagem ao mercado. Não vão faltar pessoas que queiram investir no Varzim, numa SAD credível.