"Revejo-me em Pinto da Costa na luta contra tudo e todos, por causa dele simpatizo com o FC Porto"
O Vilar de Perdizes vai receber o FC Porto em Chaves, em jogo da terceira eliminatória da Taça de Portugal. Márcio Rodrigues, presidente do clube de Montalegre, falou com O JOGO.
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O sonho comanda a vida e o espírito de resiliência estreita o caminho para a felicidade, no que podem ser realizações impensáveis, namoros com a glória, por mais efémera ou passageira que seja. Vilar de Perdizes é terra de superstições ou maldições, de comemoração do oculto, de um Padre Fontes que colocou uma aldeia de Montalegre no mapa, aconselhada e requisitada por particularidades como o impacto de qualquer sexta-feira 13. Os encantos transpuseram-se para o futebol, uma equipa livre de demónios, apenas munida de prazeres reais, de jogo e salto estratosférico de realidade.
É uma azáfama de semanas, desde o que o FC Porto caiu em sorte, pois não há aqui pesadelos, no sorteio da Taça de Portugal, e um modesto conjunto do Campeonato de Portugal com quase toda a sua vida existência percorrida na distrital. Diferenças abissais, mundos opostos, exaltação inevitável de um desejo impossível de conter, de desafiar quem é gigante, de envaidecer um povo e promover uma imagem em tela nacional. Tudo é mais gracioso, partindo de quem agilizou a obra impensável.
Márcio Rodrigues preside ao clube, rodeado pelo irmão como diretor-desportivo, do pai como relações públicas e auxílio em todas as necessidades logísticas correntes, e a mãe como gestora de tudo o que é relacionado com balneário e rouparia. Gestão familiar mais fiel não existe. O único desencanto é não chegarem os craques do FC Porto a Vilar de Perdizes, ao seu campo da Lage, e os adeptos não entupirem os lugares de restauração da aldeia. Márcio Rodrigues transferiu o jogo para Chaves, cidade que já tem vestido as cores dos vilarenses em jogos do Campeonato de Portugal, e não tem parado um segundo nas diligências.
"São jogos de logística enorme, geralmente há estruturas profissionais que tratam de tudo. Aqui tenho de tratar de tudo, estou a 100 por cento com tudo o que é envolvência do jogo. Haverá algum apoio do Chaves, que tem sido inexcedível connosco. Só por eles é que conseguimos disputar o Campeonato de Portugal", precisa o dirigente, que retorquiu ao concelho de Montalegre procurar fazer o jogo dentro do seu território.
"Fez-se mais barulho do que devia, o barulho deve ser feito na hora e local certo. O município não foi coerente, mandou-nos arranjar soluções para competirmos este ano. Estivemos em risco de extinguir a equipa sénior. Compreendo que tenham feito força para levar o jogo para a sede de concelho mas não é compreensível lembrarem-se só do Vilar de Perdizes por um jogo que dá visibilidade. Eu fui coerente na minha proposta porque a minha preocupação não é este jogo, é o futuro do clube. Se havia dinheiro para fazer o jogo, também devia haver dinheiro para nos darem melhores condições", relata Márcio Rodrigues, de escudo bem firme pela defesa do clube, lamentando que uma obra de 2017, que deixou o clube equipado com um sintético e uma bancada de 300 lugares não tenha contemplado medidas oficiais, porque faltou mandar abaixo um rochedo.
"Fizemos história aqui ao subir da distrital. Vilar de Perdizes precisa do futebol e muita gente de vários lados temos conseguido atrair até cá. Mas há esse isolamento, estamos aqui cercados por Espanha e o futebol seria importante para os nossos comerciantes. Temos oito cafés, três restaurantes, um supermercado. Como seria importante o jogo para essas pessoas. Queríamos muito mas não depende de nós", regista Márcio Rodrigues, confiante numa festa também inolvidável a partir de Chaves.
"Já foi histórico defrontarmos o Vitória no Bonfim, que foi algo que fez que muita gente emigrada fosse ver o jogo. Agora tenho a certeza que a aldeia vai ficar deserta, porque vamos jogar numa cidade próxima que nos acolheu de braços abertos, tratados como se fôssemos de lá. Há uma envolvência muito significativa com a gente de Chaves. Têm apoiado imenso nos nossos jogos do Campeonato de Portugal. Chaves será a nossa casa, será Vilar de Perdizes no dia 20. Somos um exemplo de como os pequenos devem sonhar, estamos a representar clubes de aldeias. Não tenho memória de qualquer aldeia ter tido uma equipa a defrontar um dos grandes", enfatiza.
"Ganhando, mata-se uma vitela e é festa durante 48 horas"
Márcio Rodrigues, de 36 anos, não vê a hora de estar lado a lado com Pinto da Costa, assumindo formalidades bem distintas de um técnico de informática, como, aliás, leva a vida. Como jovem presidente, antigo jogador do clube, está deslumbrado com o ambiente que se pinta. E o presidente dos dragões até é icónico pelo perfil combativo com o centralismo.
"Revejo-me no que é lutar contra tudo e todos. Por causa dele simpatizo com o FC Porto, já nada com o Benfica. Comungo da visão de luta contra Lisboa, contra o centralismo. Eu sofro disso a um nível mais local. É o presidente mais titulado do mundo. Eu com 36 anos, sentar-me ao seu lado, dá para imaginar o quanto é incrível!", reporta o presidente do Vilar de Perdizes, não escondendo que clube mesmo pelo qual puxa é só um, à parte do seu.
"Se falarmos no que é o impacto televisivo, eu sou adepto do Real Madrid, pois só via televisão espanhola até aos 16 e 17 anos. Estávamos isolados, as redes e os canais eram espanhóis", evidencia Márcio Rodrigues, o homem que manteve a reputação de uma aldeia depois de toda a profusão de informação do Congresso de Medicina Popular criado pelo padre Fontes.
"Quando fomos campeões distritais, ele chorou perante o grupo que já podia morrer feliz, porque se pôs Vilar de Perdizes no mapa, havia já alguém a dar continuidade pelo futebol. Foi um orgulho enorme ouvir isso. Ele é o mentor do que é Montalegre, deu vida ao concelho e é o nosso maior embaixador. Como apaixonado pela minha terra irei até ao limite das minhas forças para divulgar Vilar de Perdizes", sustenta Márcio Rodrigues, que não exortou poderes ocultos para travar o FC Porto. Apenas tem presente a recompensa por uma graça retumbante.
"Que fique apontado. Se seguimos em frente, que se mate uma vitela e teremos 48 horas de festa, no mínimo".