Elogiado a diferentes níveis e em distintos locais pela resposta dada à pandemia de covid-19, será Portugal também uma espécie de oásis quando o tema é o regresso do futebol?
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Por cá, a crise teve o condão de unir adversários e rivais na trincheira da sobrevivência desportiva e financeira e até aquilo que transpira das reuniões para definir protocolos de proteção individuais e coletivos, esquemas e tipos de testes e calendários para a retoma está longe do habitual prolongamento mediático que essas reuniões costumam incluir.
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E do resto da Europa não param de chegar exemplos de divergências entre os mais diversos intervenientes - de jogadores a treinadores e dirigentes, passando por adeptos e até ministros.
Em Espanha, no domingo, na conferência de imprensa diária para dar conta das estatísticas da doença, o ministro da Saúde, Salvador Illa, afirmou não poder garantir que o futebol profissional esteja em atividade antes do verão. "Seria uma imprudência da minha parte", acrescentou, reconhecendo poder haver um prolongamento do confinamento até 9 de maio, altura em que La Liga contava já poderem estar a decorrer treinos. A decisão, tal como cá (DGS), competirá aos responsáveis sanitários. No plano para o regresso, segundo o jornal "Sport", está incluída a obrigatoriedade de uma concentração mínima de duas semanas prévias ao recomeço da competição com a qual os jogadores não estarão de acordo. Esta segunda-feira poderão sair novidades da reunião da Comissão Delegada da liga.
Há quem queira acelerar a volta dos jogos e quem a tema por razões de saúde. E também adeptos que preferem esperar
"Desconcertante" foi a palavra - em francês - usada por Romain Philippoteaux, médio do Nîmes, da Ligue 1, para traduzir o que sente em relação a um regresso aos treinos nas próximas semanas. O ceticismo do jogador deve estar a arrancar folhas a calendário - dia 11 de maio, fim do confinamento em França, deve marcar o recomeço dos treinos individuais, com regras como quatro metros de distância entre cada atleta durante os exercícios. Os dias 17 de junho e 2 de agosto são as datas previstas para reinício e fecho da temporada. "Quando se vê o número diário de mortos e o cancelamento até setembro de vários eventos não percebo como nós futebolistas vamos recomeçar a treinar a meio de maio e a jogar em junho", referiu Philippoteaux, citado pelo "L"Équipe".
Também com data marcada está o futebol inglês, que aponta a 8 de junho o dia do retorno da Premier League (até 27 de julho), pelo qual anseiam adeptos, mas também os que estão nos polos do lado económico da questão, clubes e televisões. Esta semana deverá haver novidades, uma vez que o governo britânico vai reunir com as principais federações para preparar um regresso do desporto "nas próximas semanas".
A questão financeira tem sido igualmente o foco, insistente, das discussões de uma parte do futebol alemão, a dos patrões. Um dia depois de se saber que o histórico Werder Bremen (agora penúltimo classificado) foi salvo pelos bancos, duas figuras de proa dos principais clubes deram a cara pela necessidade urgente do negócio ter a bola a rolar nos estádios (mesmo que sem público). "Se não jogarmos nos próximos meses, a Bundesliga vai colapsar, vai deixar de existir como a conhecemos", disse o diretor geral do Dortmund, Hans-Joachim Watzke, no que foi corroborado por Uli Hoeness, ex-presidente do Bayern, a quem não agrada a ideia de jogos à porta fechada, mas reconhece serem de "importância vital" para a situação financeira de alguns clubes. A Bundesliga deveria regressar no dia 9, mas poderá fazê-lo só a 15, uma vez que só a 30 o governo federal vai pronunciar-se (era para ser na sexta feira) e as equipas querem ter 15 dias para se prepararem. A polícia está preocupada com eventuais ajuntamentos de adeptos e estes, através de uma poderosa associação, já se manifestaram contra o fecho dos portões dos estádios. Também os jogadores se manifestam, no caso com estranheza, perante a possibilidade de terem de usar máscaras ou do breve retorno ao ativo. "Não me imagino a jogar futebol de um dia para o outro", disse Dominik Kohr, colega de Gonçalo Paciência e André Silva no Eintracht Frankfurt. "Usar máscara, na minha opinião, seria irritante", disse ainda.
Em Itália, são os adeptos que não querem que o futebol volte por não considerarem seguro em termos sanitários nem quererem que seja privilegiado em relação a outros setores da sociedade, designadamente na disponibilização de testes à covid-19. Foi isso que responderam 64% dos inquiridos numa sondagem que teve mais de mil respostas, feita neste fim de semana, da quais quase 600 foram de pessoas que se consideraram "muito" ou "bastante" adeptas de futebol.
Esta semana trará novidades ao nível de decisões oficiais em vários países quanto ao desporto - e o futebol em concreto - poder ser retomado
Portugal espera decisão na quinta-feira
Para quinta-feira, dia do próximo Conselho de Ministros, são aguardadas decisões sobre o regresso do futebol em Portugal. Estas incluem a Direção-Geral da Saúde, a quem compete a definição das condições sanitárias para se voltar a jogar (sem público nos estádios). Recorde-se que o plano da Liga prevê o regresso dos campeonatos profissionais para 30/31 de maio ou 6/7 de junho (esta será a altura mais provável) e sua concretização em seis semanas, ou seja, mês e meio, deixando margem para a final da Taça de Portugal antes de agosto.
O panorama europeu
- Alemanha arranca a 9 ou 15 de maio
A Bundesliga é a primeira das grandes Ligas a regressar, com os clubes a saberem no próximo dia 30 se os jogos, à porta fechada, recomeçam a 9 ou 15 de maio. Os clubes já estão todos a treinar, com os plantéis divididos ainda em pequenos grupos e muitas cautelas sanitárias. A previsão da Liga para o fim da prova aponta para 30 de junho.
- Serie A com luz verde para treinos no dia 18
O Governo italiano deu ontem autorização para os desportistas iniciarem os treinos individuais a partir do dia 4 e os coletivos a partir do dia 18, sempre sob apertada vigilância médica. Os planos da Serie A passam por voltar à ação no início de junho e acabar a competição a 2 de agosto.
- Premier League aponta a 8 de junho
Com Boris Johnson a ver no futebol uma forma de elevar o moral da nação, a Premier League aponta para 8 de junho o regresso. As equipas ainda não estão a treinar, aos jogos só poderão aceder 400 pessoas, desde que acusem negativo no teste à covid-19. A ideia é que as partidas sejam transmitidas em sinal aberto e a prova se conclua a 27 de julho.
- Governo trava desejo de La Liga
O Governo espanhol não garantiu ontem que o futebol profissional possa voltar antes do verão e travou os planos de La Liga. Esta queria o regresso aos treinos a 4 de maio, após testes de despistagem rigorosos, mas o desejo de impor concentrações mínimas de duas semanas não agrada aos jogadores. A meta de acabar a prova até 31 de julho está assim em risco.
- Ligue 1 com distância mínima de 4 metros
O fim do confinamento em França está agendado para 11 de maio e prevê-se que a partir daí os clubes possam voltar aos treinos individuais, com uma distância mínima de quatro metros entre os atletas. Antecedida pelas finais das Taças, a Ligue 1 pretende recomeçar a 17 de junho e terminar a 25 de julho.