A acertar agulhas desde março, com múltiplas reuniões, a Liga viu por momentos o plano de regressar já no dia 3 em causa, porque, sem a assinatura do Marítimo, o FC Porto temia recomeçar.
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O comunicado oficial da Liga a dar conta da aprovação do plano de retoma foi enviado na sexta-feira a horas pouco comuns (meia-noite certinha), talvez porque tenha sido necessário algum tempo para recuperar o fôlego: o último dia de reuniões entre clubes, ao que apurou O JOGO, foi tenso, e não apenas pela conhecida intransigência do Marítimo em não aprovar a implementação das cinco substituições antes de a alteração ser ratificada em Assembleia Geral (AG) da Liga, marcada para dia 9, já depois da retoma do futebol.
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Os madeirenses foram os mais radicais, nesta e noutras questões que estiveram em debate - o que originou mesmo desabafos irónicos de outros clubes direcionados ao representante do emblema insular que esteve nas várias reuniões prévias onde as matérias foram sendo alinhavadas... -, mas, apesar de a Liga ter mencionado no comunicado a resistência de apenas um dos clubes (e foi o Marítimo, de facto), a dúvida sobre uma possível impugnação futura de resultados com base na fundamentação jurídica de a nova norma de substituições não ter passado em AG foi bem mais alargada, incluindo entre outros, e como O JOGO escrevera, o Benfica.
Face às dúvidas, a Liga retirou esse ponto da ordem de trabalhos, e pelo menos na primeira jornada da retoma, as substituições (três por jogo) e o número de suplentes autorizados no banco não sofrem alterações. Como todos estão de acordo com as vantagens, as jornadas que se vão disputar depois da AG de dia 9 (e até há um jogo da segunda jornada nesse mesmo dia...) já podem vir a contemplar a medida excecional que visa proteger os jogadores.
A hesitação preventiva do FC Porto
"Embora a competição não retome com um banco de suplentes mais alargado e a possibilidade de cinco substituições, o bom senso acabou por prevalecer e a competição retoma no dia 3 de junho", remata o tal comunicado oficial da Liga. E não é uma mera nota de rodapé, porque, à margem dessa questão das substituições, arrumada logo a abrir, houve outras alíneas do plano de retoma a gerar dúvidas, ao ponto de, segundo garantiram a O JOGO, o FC Porto se ter manifestado algo hesitante em jogar no dia 3, por temer futuras batalhas jurídicas com a argumentação de que também esses pontos deveriam ser ratificados em AG. A falta da assinatura do Marítimo no plano de retoma era uma das preocupações dos portistas.
Assembleia Geral da Liga é só no dia 9, já depois do recomeço do campeonato, o que levantou dúvidas jurídicas sobre a implementação de medidas que não fossem ratificadas em AG
Essa hesitação preventiva, porque os dragões entendiam que havia o risco de os resultados desta primeira jornada serem impugnados, gerou momentos de alguma tensão, isto porque, na cabeça de outros representantes, colocaria em causa o arranque do campeonato e toda a calendarização das 10 jornadas que fora já oficializada, com a inevitável confusão que daí resultaria. A situação acabaria por ser ultrapassada com o diálogo entre todos, e sobretudo porque o Marítimo, que de início chegara a ameaçar não assinar o documento, acabou por fazê-lo.
Mesmo assim, alguns emblemas continuam com dúvidas, dado o mundo novo que se abre à boleia da pandemia. Houve, por exemplo, quem levantasse questões sobre garantia de uniformidade de critérios por parte das autoridades regionais de saúde, a quem compete vigiar e regular as testagens pré-jogo.
Aqui, sendo o procedimento centralmente regulado pela Direção-Geral da Saúde, não haverá margem para entendimentos díspares. O receio de que as autoridade de saúde pudessem determinar o isolamento de toda uma equipa se houvesse um teste positivo antes de um jogo não tem base de sustentação, porque a DGS já esclareceu que apenas o visado será excluído. As múltiplas testagens obrigatórias fazem do futebol umas das atividades mais vigiadas e controladas, minimizando o risco. No que diz respeito a eventuais testes de resultados inconclusivos, apesar das dúvidas no caso de não ser possível uma contra-análise em tempo útil, a convicção é de que esses jogadores não podem jogar. Ponto. Mas, porque a argumentação neste mundo novo parece infinita, alguns emblemas consideram que as consequências desportivas de um qualquer incumprimento destes procedimentos obrigatórios de saúde, havendo uma qualquer falha de controlo que venha a ser apurada, deviam ter ficado explicitamente definidas e acauteladas nas regras da retoma