Restruturação financeira do Sporting quase fechada: Varandas limpa 100 M€ em dívida
Redução dos cerca de 362 M€ de passivo bancário poderá atingir valores superiores, dependendo ainda dos acertos que estão a ser feitos. Terceira entidade, a Apollo, deverá fazer a intermediação
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O Sporting está a ultimar o acordo de renegociação da dívida bancária com as entidades financiadoras da sociedade e do clube - Banco Comercial Português (BCP) e Novo Banco - e, segundo O JOGO apurou, o elenco liderado por Frederico Varandas deverá conseguir pelo menos uma redução da dívida entre os cem e os 130 milhões de euros (M€).
Anúncio: acordo poderá ser revelado até à AG do clube na próxima quinta-feira
As negociações estão a ser conduzidas pelo administrador da SAD e vice-presidente do clube responsável pelo pelouro financeiro, Francisco Salgado Zenha, aproveitando a conjuntura internacional, em que os bancos, devido às imposições da União Europeia no que concerne ao rácio de NPL ("non-performing loans", ou seja, créditos malparados), têm de se libertar da dívida acumulada, minimizando as perdas registadas ao longo dos anos.
A conclusão da reestruturação financeira, de acordo com informações recolhidas pelo nosso jornal, pode mesmo vir a ser anunciada até à assembleia geral do clube que está marcada para a próxima quinta-feira - a qual tem como objetivo a aprovação do relatório e contas referente ao exercício que terminou a 30 de junho último. Porém, por questões de confidencialidade, os detalhes da mesma podem não ser revelados de momento pelas partes - Sporting e entidades bancárias - que suportam o acordo-quadro de reestruturação financeira que está em vigor. Seja como for, o princípio de acordo deverá ser comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) quando for oportuno.
Acordo deverá envolver uma terceira entidade
As bases do acordo que está a ser ultimado são complexas e, ao que tudo indica, deverão passar por uma terceira entidade, no caso o fundo Apollo, que assumirá parte dos créditos libertados pela banca. Ora, de momento a Sporting SAD tem uma dívida ao BCP e Novo Banco, entre empréstimos bancários e outros financiamentos, na ordem dos 154 M€, aos quais se acrescenta uma dívida do clube próxima dos 73 M€, juntando-se-lhes igualmente as VMOC (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis) no valor de 135 M€ , subscritas pelas entidades bancárias mencionadas.
Ora, perante este montante, que atinge os 362 M€ de créditos malparados, os bancos, ao que tudo indica, vão ceder os mesmos a uma terceira entidade, encaixando uma verba que se poderá cifrar entre os 200 M€ e os 220 M€, enquanto o Sporting, globalmente, reduz o montante em dívida entre 100 M€ e 130 M€, ainda que pelo meio haja sempre custos inerentes à intermediação e participação do fundo de investimento na operação.
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Cedência das VMOC já prevê perdão de 94,5 M€
Uma das alterações que serão feitas ao abrigo do acordo de reestruturação financeira está relacionada com a cedência das VMOC, para a qual a SAD, BCP e Novo Banco já chegaram a um princípio de entendimento, que permite um perdão de 94,5 M€. É que em abril de 2018, ainda no decurso do mandato de Bruno de Carvalho, foram iniciadas as negociações entre as partes, tendo as mesmas retomado o tema em setembro do mesmo ano.
Já com Frederico Varandas na liderança da sociedade, procedeu-se então ao estabelecimento de um preço unitário fixo correspondente a 0,30 € por VMOC, quando os 55 milhões e 80 milhões de VMOC, respetivamente denominadas "Valores Sporting 2010" e "Valores Sporting 2014", foram adquiridos por um euro por unidade, perfazendo assim os 135 M€. BCP e Novo Banco vão agora ceder as mesmas por 40,5 M€, recuperando essa fatia dos 135 M€ investidos inicialmente.
Receita da TV dá margem
As limitações financeiras da SAD têm condicionado fortemente os últimos exercícios da sociedade, que em março último recorreu à cessão de parte dos créditos decorrentes do contrato de direitos de transmissão televisiva, e não só, no valor de 65 milhões de euros (M€), os quais lhe deram margem de manobra.
Com a dita receita, os dirigentes leoninos procederam à substituição de passivos financeiros e não financeiros, fórmula que poderá vir a ser utilizada no futuro. Posteriormente, a SAD emitiu um empréstimo obrigacionista no montante de 25,9 M€, que foi utilizado para reembolsar o empréstimo de 30 M€ que vigorou entre 2015-18.