Jogos-treino extra para que não haja diferenças de ritmo, enquadramento específico nos prémios por objetivos, elogios públicos a quem mais se esforça e outros truques que têm resultado em pleno
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Os dez golos que saltaram do banco do FC Porto não são mais do que o reconhecimento dos menos utilizados ao método de trabalho de Sérgio Conceição. Parece evidente que todos os treinadores vão preparando os menos utilizados para que estes respondam a preceito quando chamados para esse efeito. A verdade é que nem sempre o rendimento ratifica o plano elaborado. No caso do FC Porto, o sucesso tem sido tremendo. Qual é, afinal, o método para o sucesso? Foi isso que O JOGO procurou descobrir. E encontrou relevância em várias dimensões.
No plano da preparação física e técnico-tática, o treinador obriga a que todo o plantel seja sujeito à mesma carga sempre que possível. E por isso promove jogos-treino logo no dia a seguir aos jogos oficiais, para que os menos utilizados possam competir, ser avaliados quanto às competências que foram adquirindo e tenham ritmo a um nível semelhante a quem fez o jogo oficial. No entender do treinador, só assim um habitual suplente está preparado para responder a cem por cento quando é chamado a jogar. E para Sérgio, esta é também uma arma de justiça, pois possibilita que todos estejam preparados para entrar na equipa, responder e lutar de forma igual para por lá ficar. Os exemplos de Sérgio Oliveira, José Sá ou Óliver Torres são, a este nível, sintomáticos. Quase sempre é chamada a equipa B; se não for possível, o técnico orienta um treino de intensidade aproximada, com o fisiologista Eduardo Oliveira também a garantir que as cargas são as mais aproximadas possíveis às de um jogo.
Sérgio Conceição tem uma forma muito própria de gerir os suplentes e tirar o melhor de cada um
Por falar em cargas, os menos utilizados são obrigados ao mesmo controlo físico e até de peso de qualquer outro jogador. Até aqui, tudo normal. Mas muitos destes dados, alguns recolhidos em treino pela tecnologia GPS, são utilizados junto dos habituais titulares como forma de aviso e até para reforçar a competitividade. De uma assentada, Sérgio elogia a aplicação e qualidade de quem não está a jogar e alerta o habitual titular de que é preciso manter o nível ou até melhorá-lo. A entrada surpreendente de um ou outro jogador no onze só o é para quem não está diariamente ao serviço no FC Porto. Os colegas vão percebendo que esse dia está para chegar. Além do mais, o grupo já se habituou a que Sérgio Conceição possa surpreender e também sabe que o treinador não tira o tapete a ninguém. Se quem entra justifica, então vai continuar no onze, independentemente de quem tenha de sair. Foi assim com Otávio no início desta época, está a ser assim com Corona e Óliver neste momento.
O reforço moral dos menos utilizados é uma preocupação constante da equipa técnica. E o próprio Sérgio já o assumiu. As conversas particulares são repetidamente utilizadas. E o elogio público deixou de surpreender. Conceição nem admite que lhe falem de três guarda-redes do FC Porto e faz questão de acrescentar o quarto: Diogo Costa. Isto é só um exemplo. Já o fez em conferência de Imprensa, como a propósito de outros jogadores que não são opção regular. Hernâni ficou a saber no balneário que o treinador o levaria consigo para onde quer que fosse. E muitos outros ouvem elogios em frente ao grupo. Aliás, os não utilizados também são ouvidos no treino seguinte ao jogo, quando o treinador pede opinião ao plantel sobre as incidências do mesmo, sobre o que esteve bem e o que podia ter sido melhor. E isso não só responsabiliza todo o plantel a ver o jogo com olhar crítico como valoriza a opinião de um suplente ao nível da de um titular.
Prémios na lista
Por fim, a dimensão financeira. No FC Porto, os prémios são pagos em função de objetivos propostos e minutos cumpridos. Antes de Sérgio Conceição, os jogadores que não eram utilizados numa determinada competição ou que pouco jogavam não ganhavam nada ou recebiam uma verba muito residual, proporcional à utilização. Com Conceição a treinador e Herrera como capitão (e o mexicano também teve influência direta), todos têm um mínimo garantido, independentemente dos minutos, em caso de conquistas. O administrador da SAD Fernando Gomes explicou o aumento de custos em 2017/18 com os prémios pagos pela conquista do campeonato. A verdade é que todos os jogadores receberam um prémio por isso, mesmo aqueles que quase não jogaram.
Onze em aberto segura motivação
A reta final da preparação dos jogos também tem particularidades. Conceição não é adepto de mostrar aos jogadores o onze que vai apresentar no jogo seguinte e opta, maioritariamente, por fazer alterações nos treinos e deixar tudo em aberto entre um determinado grupo de jogadores, não só para garantir empenho máximo até ao fim como também para que todos saibam exatamente o que fazer e se adaptem à exigência específica da referida partida. Assim, tão depressa rendem se forem titulares como se saltarem do banco.
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PARTICULARIDADES
Jogo de preparação após 90" minutos de competição
Nem sempre é possível, ou porque a equipa B não pode, ou porque há jogo a meio da semana, mas sempre que é possível, e num microciclo normal, Conceição promove um jogo-treino no dia seguinte ao jogo, para que os menos utilizados também somem 90".
Elogios para os bons exemplos e as surpresas que já não o são
Conceição não se coíbe de elogiar ou criticar. Se um suplente treina particularmente bem, costuma ser elogiado à frente de todos, até para que os titulares não baixem a guarda. A qualquer momento há uma novidade no onze. E já todos o sabem...
Prémios financeiros pelo trabalho diário e não só pelo rendimento
Mesmo os que quase não jogam têm direito a uma percentagem do prémio total por qualquer objetivo alcançado, pois é o trabalho diário de todos que puxa pela evolução e rendimento dos que mais jogam.