Reisinho segurou Boavista na I Liga num remate: "Árbitro avisou que não haveria recarga..."
Poucos dias depois de ter sido o herói que garantiu a permanência do Boavista na I Liga, o médio-ofensivo voltou a pisar o relvado do Estádio do Bessa para conversar em exclusivo com O JOGO.
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Rei do Bessa, Reisinho para o mundo do futebol. O médio deixou a sua marca ao converter a grande penalidade que garantiu a permanência do Boavista na I Liga no último pontapé da temporada, num jogo dramático.
“O segredo foi nunca hesitar. Vi toda a gente a festejar e estava um bocado receoso. Tentei enganar o guarda-redes com o olhar”
O que lhe passou pela cabeça quando colocou a bola na marca de penálti?
-Passaram-me muitas coisas pela cabeça, sou sincero. O segredo foi nunca hesitar. Vi toda a gente a festejar e estava um bocado receoso. Na altura em que coloquei a bola na marca do penálti, tentei enganar o guarda-redes com o olhar e, no momento em que parti para a bola, sabia que ia fazer o golo. Antes de ter a bola, o guarda-redes estava um bocado indeciso, porque não sabia quem ia bater o penálti. Entretanto, pego na bola, estou frente a frente com o guarda-redes, numa troca de olhares, pouso-a na marca do penálti, dou dois olhares para o meu lado direito, a dar a entender que ia bater cruzado, e estava a sentir que ele olhava para mim. Vou outra vez para trás, o árbitro tem uma conversa e avisa que não haveria recarga, que era a última bola de jogo. Sabia que o guarda-redes estava convicto que eu ia chutar para o lado esquerdo dele. Quando vou para a bola, só posicionei o corpo a dar entender que ia bater cruzado e meti-a do outro lado. Foi uma emoção.
“No momento do penálti, o árbitro tem uma conversa e avisa que não haveria recarga”
Disse que pensou em muitas coisas. Está a falar de quê?
-Passou tudo, porque foi uma época difícil. Sabia que estava a carregar multidões. Na hora de marcar, percebia-se um silêncio de nervosismo e isso ainda deixa o jogador um bocado mais nervoso. Estava nervoso, sou sincero, mas confiante de que ia fazer o golo.
Sabiam o resultado do jogo do Portimonense em Faro?
- Sabíamos, porque, querendo ou não, as coisas sabem-se. Na bancada não há o grito do golo da outra equipa, estava um ambiente pesado. Isso notava-se em campo e eu sabia que estava ali muita coisa em jogo, concretamente a permanência na I Liga, e não só, estava em jogo 120 anos de história do Boavista.
Agora, a frio, percebe a importância do golo para o futuro do Boavista, inclusive para a sobrevivência do clube?
- Agora, de cabeça fria, sei a importância desse golo. No momento, só queria festejar com os amigos, estava muito contente, depois de tudo o que passámos. Sim, sei a importância deste golo. Estava ali a carregar muita história, muita história mesmo! Sabíamos as dificuldades que passámos, mas há que realçar a união e o caráter deste grupo. Merecíamos esta felicidade.
Assegurar no último minuto a permanência tem o sabor de um título?
-Nunca lutei por um título, mas, o que se passou naquele momento, tenho quase a certeza de que é muito maior do que ganhar um título, porque estava muita coisa em jogo. E quando se passa por um momento desses, sabendo que é a última bola e que não há recarga, não dá para falhar, é aquele o momento, não há outra oportunidade.
Pensou que em segundos podia ser herói ou vilão?
-Quando vou para a bola não estava com o pensamento de ser herói nem vilão, pensava em marcar e atirar tudo o que tínhamos passado para trás e conseguir fazer a festa. O que me deixa mais feliz não é por ter sido eu a marcar, mas pela felicidade dos adeptos, do staff, de toda a gente que trabalhou connosco, essa felicidade é o que me deixa mais orgulhoso.
"Pedi ao Salvador para marcar"
Habituado a marcar os penáltis para o lado esquerdo do guarda-redes, Reisinho mudou a estratégia contra o Vizela, depois de ver o comportamento de Buntic.
Reisinho conta a história da grande penalidade que até nem devia ter marcado
Por que mudou o lado para onde costuma bater a bola?
-Costumo bater quase sempre para o lado esquerdo, mas ele [Buntic] atirou-se para lá. Temos acesso a vídeos e o guarda-redes provavelmente sabia que eu iria bater para aquele lado. Ele começou com as suas coisas, muito confiante, a pensar que ia defender, mas senti logo que ia converter o penálti.
Estava decidido que seria o Reisinho a marcar o penálti ou foi na hora?
- Não estava decidido. Foi um momento de confiança. Fui ter com o Salvador [Agra], peguei na bola, disse-lhe que ia marcar e ele aceitou. Foi um momento de inspiração.
Se não fosse o Reisinho, quem iria marcar o penálti?
-Primeiro era o Bruno [Lourenço], mas ele já não estava em campo, depois creio que era o Salvador [Agra] ou o Bozenik. Vi o Salvador com a bola, não sei se ia bater ou não, só lhe estiquei os braços, ele passou-me a bola para a mão e ninguém se opôs. Foi um momento bonito.