Recusou ofertas da II Liga e voltou a casa: "Há coisas que o dinheiro não compra"
Hugo Vieira explica regresso ao clube onde cresceu menino e onde embalou para um sucesso gigante. De coração no Santa Maria, para jogar na Distrital, declinou propostas da II Liga.
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É por devoção que se conta este regresso, paixão pelas raízes e por uma felicidade que não se quer medida pelo dinheiro. Hugo Vieira, aos 35 anos, é reforço do Santa Maria, da distrital da AF Braga, retomando contacto com o futebol após breves passagens por Roménia e Malta. E no clube onde cresceu menino e proclamou as suas intenções de ser alguém diferenciado no toque de bola. Volta a correr e a suar no campo onde marcou os primeiros golos, desfeiteando adversários com truques fulminantes, açucarando o jogo. Um regresso às origens, mais marcante ainda por reencontrar o primo Carlos Fonseca.
Teve contrato com o Benfica, conquistou a adoração das pessoas na Sérvia e Japão mas não quis ser mais um em clubes da II Liga ou de outros escalões inferiores. Preferiu voltar a casa, sentir a proximidade e a comunhão com os amigos de infância, os treinos mais tardios, pisando um relvado que traçou o seu destino e uma inspiradora ascensão. Nunca perdeu o rumo, nem quando foi abalado por dura perda pessoal.
"A verdade é que sempre prometi que quando a minha filha entrasse para a escola, não sairia mais do país. Tive propostas da II Liga, da Liga 3, mas não as achei financeiramente atrativas. Olhando a tudo, achei por bem voltar ao meu Santa Maria e terminar onde tudo começou", relata Hugo Vieira, invadido por memórias dos dez anos, quando se iniciou, dos 17 quando se estreou nos seniores, ou dos 19, quando voltou a casa para despertar atenções do Gil Vicente. "A minha vida foi toda ali, com esse interregno em que fui um ano ao Estoril e passei alguns meses no Bordéus. A minha história foi escrita no Santa Maria", reforça a O JOGO.
"Estou aqui mas conquistei o mundo"
Não há margem para encolhimento ou objetivos menores nesta aventura em que Hugo aposta forte e garante vertigem competitiva sem freio. Já venceu a Supertaça da AF Braga, foi decisivo e bisou ante o Ribeirão. "É mais um início perfeito, quase sempre foi assim. Faz-me sentir especial. É um sabor incrível ajudar o clube, estes miúdos, e também contribuir para o primeiro título do Tinoco como treinador principal", regista. "A ambição é a de sempre. Jogar todos os jogos e marcar em todos. E estamos a fazer uma equipa forte. Estou feliz também por reencontrar o meu primo Carlos Fonseca. Ele começou comigo e é mais um pormenor giro. Vamos todos fazer um ótimo trabalho", assevera Hugo Vieira, falando de outro nome forte que passou pela I Liga, no Feirense, e desenvolveu grande parte da carreira entre Bulgária e Azerbaijão.
"É um misto de emoções muito forte! Lembro o início da minha vida, a minha adolescência, tendo a consciência que nada foi fácil, aliás foi um caminho muitas vezes complicado. É também o perceber que estou aqui mas conquistei o mundo. Tenho sensações ótimas, revejo-me em alguns colegas, que são miúdos de muita qualidade", desvenda, ilustrando a dimensão de chegar a um patamar de respeito. "Sinto que os ajudo, que basta ver a forma como olham para mim para sentir isso. Dou conselhos, faço papel de pai. Estou a gostar muito, só posso confessar-me realizado, é indescritível! Como foi possível sair daqui e conquistar o que conquistei. Na Sérvia querem sempre falar comigo, acharam incrível este passo que dei. Mas para mim foi a coisa mais normal do mundo. Podia ganhar muito mais, mas há coisas que o dinheiro não pode comprar", atira, taxativo, em paz com a decisão tomada, recordando anos dourados, de verdadeiro ídolo para os adeptos do Estrela Vermelha e do Yokohama.
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