Benfica divulgou uma entrevista a Rafa, que fez, frente ao Arouca, na ronda 33, o último jogo de águia ao peito
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Rui Costa: "O Rui, para mim, é difícil eu dizer Presidente Rui, porque para mim o Rui é um amigo. Foi ele uma das pessoas que me trouxeram para cá, na altura. E é o que ele é. Ele acolhe muito bem, foi jogador, sabe bem o que é que nós sentimos, sabe bem o que é que nós passámos, foi um grande jogador. E então, há a amizade que eu acabei por criar com ele, foi uma amizade muito importante para mim. É um amigo e será sempre um amigo. Devido a tudo o que nós criámos aqui, devido a todos estes anos, são muitos anos juntos, muito anos de relacionamento. E lá está, é isso o que eu gosto no futebol. Não interessa muito o que é que nós somos, interessa a maneira como nós nos tratamos."
Troféus ganhos pelo Benfica: "Não foram fáceis. Gostava de ter mais, como é óbvio. Sinto que muitas vezes podíamos ter tido outro desfecho, mas o futebol é assim. Para mim, o futebol e a vida são assim. Não é tudo como queremos, não vamos ganhar sempre, e o sabermos estar, o sabermos estar a perder, também é uma coisa que tive de aprender, e saber lidar, porque não é fácil. As pessoas pensam que nós saímos daqui e está tudo bem, porque ganharam o dinheiro deles e agora vão para casa, vão de férias. As coisas não são assim. Mas isto é a nossa vida. Nós gostamos genuinamente do que fazemos, e, para mais, o que gostamos mais é do sítio que estamos a representar, porque, lá está, é o sítio que nos dá as condições certas para conseguirmos evoluir, e para conseguirmos ser o que nós vamos ser, e o que nós somos. E então acaba, para mim, por ser um bocadinho de emoções mistas. Contente pelas conquistas, mas poderiam ter sido mais."
Adeptos: "A verdade é uma: o Benfica quando está a ganhar torna-se o que o Benfica é. O Benfica quando não está a ganhar – e eu digo isto de quando está a ganhar troféus ou quando está a perder os troféus... Quando está a ganhar um jogo e quando está a perder um jogo, vai-se muito aos extremos... Do bom e do mau. Então, eu acho que se tem de começar a dosear um bocadinho a maneira como se trata as pessoas, porque nós cá dentro também somos pessoas, estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para conseguirmos ter o melhor desfecho no jogo, neste caso, em cada jogo. Tentar ganhar, porque o que interessa é o fim, o que interessa são os troféus, no fim, que conquistamos. E acho que muitas das vezes, porque um jogo não corre bem, já começar a duvidar do que está a ser feito não ajuda. E nunca vai ajudar ninguém. A pressão? Nós temos pressão. Isso faz parte do nosso dia a dia, não é por dizerem que A, B ou C é mau ou é bom que vai ajudar. O objetivo é apoiar o Benfica, e o objetivo é que o Benfica conquiste títulos. Nunca nos metemos à frente do clube, e eu falo por mim, eu não me meto à frente do Clube e nunca me vou meter à frente de nenhum clube."
Saudades: "Como eu disse, isto vai-me custar mais do que eu alguma vez poderia imaginar, porque saberia que teria de sair e iria sair pelo meu pé. Nunca na vida ia esperar que já não tivesse condições para representar. Disse sempre que chegaria a altura, e eu saberia quando era a altura para sair, e foi isso mesmo que eu fiz. Eu cheguei a um ponto em que senti que estava na hora, que estava na minha hora. E pronto."
Clube no coração: "Eu sou benfiquista, sim. É verdade. Não tenho problema nenhum em dizer isso. Amo o Benfica. Hoje em dia, faz-me muita confusão como é que o que interessa são fotos nas redes sociais, o que interessa é beijar o símbolo ou a maneira como se festeja um golo, quando se devia olhar muito para o que a pessoa é, para o que a pessoa faz e também para o que a pessoa… para o que a pessoa sente pelo clube. Não é por eu não demonstrar sentimentos, porque é a maneira como sou como pessoa, que não sinta o Benfica ou que me esteja a 'c...' para o Benfica, ou seja o que for. Acho que a maneira como eu estive no Benfica foi a maneira certa. É a minha maneira de ser, é a minha maneira de estar. Não vou mudar porque as pessoas acham que eu devo meter coisas nas redes sociais, ou tenha de festejar mais efusivamente, porque não é isso que me faz amar mais o Benfica ou o que me faz odiar o Benfica. Eu gosto do Benfica e amo o Benfica, à minha maneira, e vai ser sempre assim."
Sentimentos: "Não sinto que dei muito ao Benfica. O que eu sinto, e o que vou sempre sentir, é: eu senti o Benfica. Eu estive cá porque quis, eu fiquei cá porque decidi ficar cá, nunca estive obrigado. E, acima de tudo, a minha família foi feliz cá, por isso, se a minha família foi feliz, e passámos maus bocados. Houve, como é óbvio, e há vida. Passámos situações boas, passámos situações más, mas sinceramente não guardo mágoa. Mas acho que uma coisa que também se tem de ter no Benfica, e tem de se sentir, é um bocadinho de respeito e de gratidão, porque nós não somos robôs, nós não somos máquinas. Vi muito colega meu e muitos amigos meus, que deram muito ao Benfica, e as pessoas não têm nem noção do sentimento que criam nas pessoas ao fazerem o que fazem."
O Rafa de agora: "Boa barba. Sou este. Depois de oito anos, aprendi muito. Sem dúvida que sou um conjunto das duas, mas sou muito mais este, porque nós vamos sempre olhar para trás e vamos sempre pensar que somos uma versão melhorada de nós mesmos, e é isso que eu penso de mim. Acho que piorei em alguns aspetos também, mas isso faz parte. Mas, acima de tudo, tentei melhorar as coisas que menos bem fazia e a maneira se calhar menos boa que era. Talvez. Sem dúvida que sou um conjunto das duas, mas sou o jogador que se despediu neste último jogo [com o Arouca], como é óbvio. E a pessoa."