A AF Bragança nega ter sugerido que fosse o treinador branco do Africanos de Bragança (os outros dois são negros) a dialogar com os árbitros quando lhe chegou a queixa de que a equipa estaria a ser vítima de racismo por parte de alguns árbitros no campeonato distrital. "É uma calúnia", reagiu a associação, em comunicado
Corpo do artigo
Os Africanos de Bragança ponderam desistir da Divisão de Honra, queixando-se de racismo e da atitude complacente da AF Bragança em relação ao comportamento de alguns árbitros nos jogos do clube. Óscar Monteiro, treinador e diretor do clube, acusa os árbitros Nélson Ramos, Rui Domingues e Joel Miranda de serem "intolerantes com as pessoas africanas" e acusa a Associação e o seu presidente, António Ramos, de "compactuar com o comportamento de discriminação racial de alguns árbitros". A equipa tem três treinadores e Óscar Monteiro afirmou que o presidente da AF Bragança os terá aconselhado nos seguintes termos: "Que fale o branco com os árbitros". António Ramos argumenta, em comunicado, que esta "é mais uma calúnia para atingir fins inconfessáveis".
Diretor e treinador dos Africanos de Bragança, Óscar Monteiro, acusa António Ramos, líder da Associação, de ter dito: "Que fale o treinador branco com os árbitros". Ramos fala em "calúnia"
A AF Bragança defendeu que "não pactua com situações de violência e racismo exacerbados", e aponta este caso como uma tentativa do clube, que ocupa o último lugar, de esconder os maus resultados. "Quando os diretores e treinadores não conseguem atingir os resultados a que se propuseram entram em situações de contestação, para com quem gere o futebol distrital e, principalmente, com os juízes de campo, que são o alvo principal dessa contestação", lê-se no documento assinado por António Ramos.
Clube dos distritais pondera desistir por haver árbitros "intolerantes com pessoas africanas"
"Enquanto se mantiver esse clima de racismo não vou voltar ao banco de suplentes. Vamos continuar com o João Cruz, porque ao português ninguém lhe faz mal", assumiu Óscar Monteiro. O dirigente e técnico diz mesmo que a Direção do clube está a ponderar abandonar o campeonato. "Estamos a ver se terá penalizações. Se não tiver, vamos abandonar e não voltamos a competir até esta Direção da AFB se demitir. Nem que tenhamos de alegar falta de condições financeiras, o que não é mentira. Não temos dinheiro para estar sempre pagar multas à AFB", adiantou, recordando que "no último jogo multaram os Africanos em 200 euros e eu fui repreendido porque estava na bancada [cumpre castigo de três meses] e usei expressões de futebol". Óscar Monteiro estranha ainda que esteja "sempre a ser expulso, tal como Edivaldo, adjunto, que também é cabo-verdiano". "O outro, João Cruz, que é português, nunca foi", sublinhou.
Árbitros retribuem acusações
No comunicado da AF Bragança lê-se que "os árbitros criticam e acusam" Óscar Monteiro de "atitudes racistas para com alguns deles". Confrontado com esta afirmação, Monteiro reagiu assim: "Como posso ser racista se um dos adjuntos, português, é o meu melhor amigo? E tenho quatro jogadores portugueses e um brasileiro no plantel...". O treinador e diretor diz que nos últimos 15 anos teve "um trabalho de integração, de luta pela igualdade". "Se o presidente da Associação tiver dúvidas, que investigue o que faço em prol da integração social em Bragança", completou.