Quando Quim Berto chegou, em janeiro, a equipa da Série A do CdP estava em zona de descida. Menos de três meses depois, festejou a permanência
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Nem o apagão de 28 de abril travou o interesse na história de sucesso do técnico Quim Berto e do adjunto Tiago Targino. A conversa, inicialmente marcada para esse dia, ficou pendente e, uma semana depois, chegámos ao Parque de Jogos do Brito (freguesia do concelho de Guimarães, com cerca de 5500 habitantes) para conhecermos o segredo do trabalho dos dois ex-jogadores, que ajudaram, em menos de três meses no banco, a evitar a descida do clube aos distritais.
Dois dos embaixadores do Vitória de Guimarães – Miguel Campos e Ismael Lopes, “Parauta” – completam a equipa técnica, que conduziu um plantel com 22 jogadores (três da formação) a uma recuperação meteórica: em 12 jogos, somaram oito triunfos e quatro derrotas (24 pontos, em 36 possíveis). Neste período de jogos da Série A do Campeonato de Portugal, ficaram apenas um ponto atrás da equipa B do Vitória, que disputa a fase de apuramento de subida à Liga 3.“O objetivo era tirar o Brito da zona em que estava. Após o bom trabalho de André Anastácio nos últimos dois anos e meio – saiu para ser adjunto do Al Hussein, da Jordânia –, assumimos a equipa num lugar que não condizia com o que se pretendia para esta época”, revela Quim Berto. “Até ao final, tudo correu bem, mas as coisas só se conquistam com muito trabalho”, sublinha, recordando um percurso que começou com a vitória, por 2-0, na receção ao Vila Real, a 19 de janeiro, e terminou com a concretização da permanência, na penúltima jornada, a 6 de abril, em Dume, perante o Dumiense (triunfo por 5-1).
“A competência não se compra, põe-se em prática, independentemente das dificuldades que passámos, porque entrámos num contexto muito difícil. Tinham já saído jogadores – e alguns fundamentais, como o Roger, ponta-de- lança que era o melhor marcador do Brito –, e tínhamos um plantel muito curto. Mesmo chegando em janeiro, não contratámos nenhum reforço, também pelas dificuldades que todos os clubes do Campeonato de Portugal passam, o que é muito normal”, admite o técnico, de 53 anos.“Tivemos de nos segurar com os jogadores que tínhamos, alguns deles miúdos, entre juvenis e juniores, que treinaram connosco para que nada nos faltasse nos treinos. Mas foi, acima de tudo, um trabalho árduo”, reforça.
Os exemplos do trabalho feito para ter êxito em tão pouco tempo são muitos. “Trabalhámos em meio campo, dividimos o campo [sintético] com as equipas da formação; tínhamos, por isso, apenas 50 metros para treinar, e ao domingo não jogávamos em 50 metros. Desde a nossa entrada, a exigência foi um ponto fundamental. Isto é um trabalho da equipa técnica, é de todos e, acima de tudo, dos jogadores. Mesmo com o plantel reduzido, demos a volta”, conta Quim Berto, com um sorriso elucidativo.
A par do Vitória de Guimarães B, que terminou em 1.º lugar na Série A do CdP, o Brito foi a única equipa da AF Braga que garantiu a continuidade no quarto escalão, tendo descido Joane, Pevidém, Os Sandinenses e Dumiense. “Numa nova era e com um novo líder, conseguimos, felizmente, mudar o rumo, sempre com os mesmos jogadores. Não tivemos lesões desde a nossa entrada até ao final do campeonato, e o mais importante de tudo foi os jogadores perceberem, mesmo com poucos jogos, que é tudo uma questão de mentalidade e ambição. Fizemos um final de época de excelência”, rematou o treinador.
Um combate de boxe no balneário...
Na penúltima jornada, quando o Brito jogou em Dume (estádio com o nome do avô de Luís Freitas Lobo), em Braga, Quim Berto fez um acordo com o capitão. “Se garantíssemos a permanência – ganhámos 5-1, num campo onde o Brito nunca tinha vencido –, tínhamos de fazer uma brincadeira, com o intuito de fortalecer o bom espírito do balneário”. A vítima escolhida, conta o antigo defesa-esquerdo, “era ideal para este tipo de brincadeiras”. “Pelo aspeto dele, pela forma de ser no dia a dia e no campo. Julga que é o maior, superior a todos. E, para marcar esse ponto da superioridade, os colegas amarraram-no no meio do campo, numa marquesa, com película aderente”, acrescenta. “Esteve ali algum tempo, com os outros jogadores a correrem à volta do campo a brincarem e a mandarem bocas”, recorda Quim Berto.
Outro momento de tentativa de criar um bom espírito foi protagonizado na paragem do campeonato para as seleções. “Foi uma semana difícil para mim, porque não pude estar aqui devido ao falecimento de um familiar”, conta o treinador principal do Brito. Na ausência de Quim Berto, os adjuntos organizaram um combate de boxe no balneário, na sequência de “uma pega no treino entre o Tiger e o Afonso Machado”. “Eles eram todos amigos, mas esses dois que se desentenderam vinham juntos de Braga e foi mais uma razão para encontrarmos uma forma de fortalecer o espírito de grupo”, testemunha Targino. “No treino, houve um bate-boca, e é normal que por vezes fiquem mais exaltados. Para quebrarmos o gelo, para fazerem as pazes, resolvemos, em tom de brincadeira, montar um ringue com fitas das sinaléticas dos acidentes, um dos jogadores tinha umas luvas e foram distribuídas pelos dois que se desentenderam, todos a aplaudirem… Um ambiente como num combate de boxe a sério”, conta Targino. “Só faltaram as meninas para levantar os cartazes”, diz Quim Berto.