João Ferreira, técnico muito ligado à carreira de Jota Silva, treinou o Espinho na época passada e reconhece que a maior dificuldade em trazer os tigres para os nacionais, não passa pela pressão dos adeptos, mas, unicamente, pela falta de condições para concorrer com os rivais em condições similares
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Com longa ligação afetiva ao Espinho, seu técnico na formação, João Ferreira cumpriu em 2023/24 a segunda passagem pelo comando da equipa principal, não conseguindo como desejava empurrar os históricos tigres para os nacionais. O jovem técnico, de 41 anos...agora sem clube, lamenta mais um ano nas distritais, analisando os obstáculos que vão sobressaltando o presente e os desígnios a alcançar.
"Gostei de ter estado no SC Espinho pela segunda vez, aliás serei o quinto treinador com mais jogos realizados pelo clube e, desse top 5, aquele que tem maior percentagem de vitórias", contextualiza, expondo as sensações ditadas pela temporada feita na distrital de Aveiro. "Conseguimos jogar um futebol em muitos momentos espetacular e, dessa forma, criar condições para que vários jogadores se tenham valorizado, partindo para divisões superiores ou mantendo-se na mesma com melhores contratos", revela, analisando as vicissitudes que grassam em redor dos tigres. "A dificuldade não é lidar com os objetivos tendo em conta a pressão dos adeptos. Isso é fantástico e dá-nos ainda maior foco para as nossas tarefas. A maior dificuldade é conseguir concorrer com os nossos adversários em condições, direi, similares. Aí não conseguimos", evidencia João Ferreira, lembrando que o Espinho é um gigante à espera de um vigoroso despertar. "Pela sua história de 11 épocas de 1.ª Divisão, pela dimensão social que tem, naturalmente que atrai olhares dos mais variados quadrantes do futebol português. É prestigiante, desafiante e altamente motivador estar num clube que estando em divisão inferior ao seu estatuto, quer regressar, com urgência aos seus patamares competitivos naturais", explana o jovem técnico, ciente da aprendizagem no meio dos tormentos. "Quem sai de cá está preparado. E há vários exemplos quer de treinadores, como de jogadores, que souberam crescer neste clube para hoje se projetarem nos melhores patamares competitivos, não só em Portugal como no mundo", sustenta.
João Ferreira vai pensando no futuro, ou melhor, idealizando-o..."Quero sentir prazer de estar no futebol. Adoro o Futebol! O treino, a liderança, o jogo. Quero estar onde me queiram, onde me valorizem, ou me respeitem, onde a minha opinião/visão seja apreciada. Quero jogar um jogo que motive os jogadores, que tenha ética e estética", confessa, procurando defender vibrações positivas. "Devemos respeitar o jogo e o adepto em todos os momentos. Só assim conseguiremos atrair mais adeptos domingo após domingo."
Apesar de já ter andado precocemente no futebol saudita, fazendo parte de um projeto liderado por Eurico Gomes, João Ferreira não quer partir de Portugal. "Mais cá que qualquer outro contexto. Em 2011 estive em dois clubes da Arábia Saudita, num período muito diferente do atual, do ponto de vista desportivo e social. Gostei e sou grato mas parece-me mais realista seguir em Portugal", avisa um dos técnicos mais associados ao crescimento de Jota Silva. Foi em Espinho que o atacante do Vitória produziu uma das suas melhores temporadas.
"O Jota é o expoente máximo. Ter contribuído um pouco para a carreira de alguém que chegou à Seleção, que só é uma das melhores do mundo, é incrível. Mas há outros, como o Chapi Romano agora na Roménia, o Vieirinha no Chipre, o João Pinto no Ac. Viseu, o Rica Rocha no Vitória SC, o Kadu que connosco se fixou na seleção de Angola, Efrain que joga como titularíssimo na 1ª Divisão da Colômbia, Né Lopes que está no Torreense depois de já se ter estreado na Liga pelo Gil Vicente. Isto é muito importante, porque certifica o trabalho dum treinador", afirma João Ferreira, expandindo a leitura. "Mas há outros aspetos que têm que ver com a relação, com o exemplo, que são áreas da nossa intervenção onde espero ter deixado marca nestes e em muitos outros", conclui.