O meio-campo é o sector mais retocado em janeiro. Alas e médios interiores esmagam "concorrência"
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No calor do verão, quando parece que a competição nunca mais começa e há tempo para tudo em Portugal, dirigentes, treinadores e até adeptos sonham com avançados incríveis, daqueles que voam sobre os centrais para marcar uma vintena de golos. Paulo Sérgio, ao serviço do Sporting em 2010, nem pedia tanto. "Temos caudal ofensivo, mas falta um pinheiro com 1,90 metros, em que lhe possamos acertar com a bola na cabeça e ela vá para dentro da baliza", afirmou o técnico. À medida que a competição avança, percebe-se que não há pinheiros infalíveis e muito menos super-heróis, pelo que o pragmatismo impera mal reabre o mercado de transferências de inverno, na certeza de que os jogos se ganham, normalmente, no meio-campo. Em busca de consistência, precisão no passe e velocidade, são então recrutados sobretudo médios-interiores e alas, provenientes maioritariamente do estrangeiro e com uma média de 26 anos. Até ao fim do mês, o argumento deste filme não deverá sofrer alterações.
Desde 2000, Benfica, FC Porto, Sporting, Braga e V. Guimarães contrataram um total de 142 jogadores no mercado de inverno e quase metade destinava-se ao sector intermédio: 67 médios, 45 defesas, 25 avançados e cinco guarda-redes.
Quando falta qualidade, um treinador procura médios" - Domingos Paciência, treinador
Entre os que somaram pelo menos 12 jogos, os centrocampistas foram ainda os mais utilizados, com uma percentagem de 57%, seguidos por guarda-redes (40%), defesas (37%) e avançados (32%). Uma tendência que não surpreende o técnico Domingos Paciência. "Quando falta qualidade, um treinador procura novas opções do meio-campo para a frente. Para a defesa, arranjam-se sempre soluções", afirma, confirmando que grande parte dos reforços de inverno chegam em situações de emergência. "Vamos ao mercado porque algo não está bem e é necessário ganhar jogos. No princípio da época, os treinadores veem o melhor de cada um; só depois, com o trabalho, é que se percebe o resto", assume.
Os "defeitos e as lacunas" dos jogadores são nesta fase mais cristalinos e os reforços de inverno surgem como opção irresistível. Apesar da urgência, convém avaliar bem antes de comprar ou pedir emprestado. "O ideal é que venham de campeonatos competitivos", junta Domingos. Para que a "margem de erro seja mínima", defende o treinador, há que apostar na qualidade e não é preciso puxar muito pela memória para descobrir bons exemplos: Nuno Assis e David Luiz, contratados pelo Benfica em 2005 e 2007, respetivamente; Lucho e Quaresma, regressados ao FC Porto em 2012 e 2014; ou Bruno César, fisgado pelo Sporting ao Estoril em 2016.
Vítor Baía contra a tendência
Vítor Baía pode escapar ao padrão de reforço de janeiro, mas teve uma influência incomparável no FC Porto em 1998/99, sendo um exemplo de pontaria em transferências de inverno. Os dragões desesperavam com o guarda-redes sérvio Ivica Kralj, que se revelaria um "flop", e apostaram no regresso do internacional português, insatisfeito então no Barcelona, fruto das desinteligências com o técnico Van Gaal. Os lapsos e más intervenções deixaram de se verificar na baliza e o FC Porto disparou na liderança do campeonato, acabando por conquistar o tão sonhado penta. Em 16 jogos, Baía apenas sofreria oito golos.
Cissokho rendeu em tudo
Contratado ao V. Setúbal em janeiro de 2012 por 300 mil euros, Cissokho pegou de estaca no FC Porto e, seis meses depois, era vendido ao Lyon por 15 milhões de euros, passando a figurar entre os melhores negócios de sempre do futebol português. Melhor ou mais rápido do que isto seria quase impossível. Em pouco tempo, os tais 300 mil euros pagos aos sadinos seriam multiplicados por 50 vezes e nenhum outro reforço de inverno se valorizou tanto como o lateral-esquerdo. Única aquisição de inverno dos dragões em 2011/12, Cissokho foi um investimento seguro, mas são mais os casos de fracasso do que êxito.
Duas épocas antes, em período idêntico, o Sporting gastou cerca de 6,5 milhões de euros a contratar o avançado Pongolle (Atlético de Madrid) e o retorno desportivo foi uma desilusão: o francês disputou somente sete partidas e marcou um golo. Mas o clube de Alvalade já foi feliz em contratações de inverno, como se verificou em 1999/2000, com a equipa a ser reforçada com os centrais André Cruz e Marcos, o lateral César Prates e os avançados Mpenza e Spehar. Os quatro primeiros fortaleceram, de facto, os leões que foram campeões e puseram fim a 18 anos de jejum.
Grimaldo veio há um ano para se adaptar
Grimaldo, que está na agenda de Manchester City, Juventus e Valência, é o mesmo que há um ano chegou à Luz sem alarido para se adaptar, disputando apenas cinco jogos pelo Benfica. O ex-Barcelona B está blindado por uma cláusula de 60 milhões e não sai por qualquer preço.
Janko "preencheu" o vazio de Falcao
Alto, louro e de nacionalidade austríaca, Janko encaixou bem no FC Porto em 2011/12, numa altura em que parecia não haver ninguém à altura para marcar golos (Kléber e Walter não convenciam), após a saída de Falcao para o Atlético de Madrid em cima do fecho de mercado, por 40 milhões de euros. Em 12 jogos, Janko fez cinco golos.
Um tal Thiago Silva aterrou em 2005
Internacional brasileiro e figura incontornável do campeão francês PSG, o central Thiago Silva foi reforço do FC Porto B em janeiro de 2005. Pela mesma altura, os dragões contratariam o médio Anderson, então com apenas 17 anos, mantendo-o, porém, no Grémio, do Brasil.
Braga é o campeão no mercado de inverno
O Sporting costuma ser muito ativo em janeiro (há um ano repetiu as cinco contratações de 1999/2000), mas o recorde (seis)pertence ao Braga desde 2005/06, com Dong Hyun Kim (avançado), Matheus (ala), Wellington (central), Frechaut (lateral), Carlos Fernandes (lateral) e Marinelli (médio).