Afastada dos campeonatos profissionais, e a correr o risco de descer aos distritais, a SAD tem um passivo de 156 milhões de euros. Jogadores com contrato, entre os quais Sidoine Fogning, Joel Silva e Bozenik, têm os salários em dia e não têm qualquer cláusula que lhes permita rescindir o contrato alegando justa causa.
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Um dia depois de não conseguir inscrever-se na Liga para competir no segundo escalão, após ter ficado em último lugar no campeonato, o Boavista ainda não acordou do pesadelo e a SAD continua sem apresentar soluções, mantendo-se ainda o silêncio de Gérard Lopez, acionista maioritário.
Sem apresentar as certidões de não dívida à Autoridade Tributária e à Segurança Social até à meia-noite de quarta-feira para se inscrever nas competições organizadas pela Liga, porque a SAD não teve atempadamente acesso aos fundos de Gérard Lopez, que terá tentado transferir 2,5 milhões de euros na segunda-feira para regularizar a situação financeira – O JOGO sabe que ontem a verba ainda não estava disponível –, a SAD axadrezada não consegue garantir nada, nem mesmo a inscrição na Liga 3. A queda para os campeonatos distritais seria uma inevitabilidade/fatalidade, mas falta saber até que ponto a SAD tem viabilidade, tendo em conta que regista um passivo de 156 milhões de euros. A insolvência, como aconteceu no caso do Bordéus, outro clube detido por Gérard Lopez, e que desceu ao quarto escalão do futebol francês, poderia ser um sinal de esperança para os boavisteiros, mas o passivo astronómico e a falta de património da sociedade, já que o Estádio do Bessa pertence ao clube, podem conduzir à falência técnica.
As nuvens negras, as dúvidas e as dívidas afetam, e muito, o futuro de uma SAD com “cancro terminal”, assim descreveu a situação catastrófica Carmelo Fraile, administrador da sociedade do Boavista, colocando ainda na expectativa o futuro de Stuart Baxter, o treinador escolhido para orientar a equipa na II Liga, e também de 13 jogadores que têm contrato, alguns deles com muito mercado, concretamente Sidoine Fogning, Joel Silva e Bozenik. Todos têm os salários em dia e sem qualquer cláusula que permita uma rescisão com justa causa.
Históricos em choque e críticas do clube
O futuro apresenta-se, por tudo isto, como uma incerteza e não deixa ninguém indiferente. João Alves, o mítico “luvas pretas”, antigo jogador e capitão do clube, vê a queda do Boavista com “estupefacção”, considerando que o declínio axadrezado está relacionado com “o funcionamento do futebol moderno”, em que vários clubes “deixaram de ser dos adeptos e dos sócios”.
Igualmente ontem, a Direção do clube, presidida por Rui Garrido Pereira, emitiu um comunicado no qual se demarca de responsabilidades na não inscrição da equipa profissional na Liga e acusa a SAD axadrezada de falta de diálogo durante todo o processo. “Fomos todos surpreendidos com a notícia da não inscrição da equipa profissional da Boavista FC, Futebol SAD, na II Liga. Até então, tudo indicava, pelas informações públicas e internas, que os procedimentos estavam a decorrer dentro dos prazos”, pode ler-se no comunicado.
No mesmo texto é criticada a falta de colaboração entre a SAD e o clube. “A revitalização da Boavista FC, Futebol SAD, deveria ser feita com a colaboração ativa do clube. No entanto, lamentamos nunca termos sido envolvidos nesse processo, apesar das várias tentativas de diálogo e entendimento - sempre sem o retorno desejado”, lamentam, considerando “ser imperativo que o Boavista continue presente com equipas de formação e, pelo menos, com uma equipa sénior”.