"Que haja muita gente que, perante o que Rui Pinto descobriu, se sente no banco dos réus"
Bruno de Carvalho, antigo presidente do Sporting, considera que o Football Leaks "sedimentou uma série de informação"
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O antigo presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, admitiu hoje, após declarações ao tribunal que julga o denunciante Rui Pinto, esperar "que haja muita gente que, perante o que ele descobriu, se sente no banco dos réus".
"Como cidadão espero ver muita gente, muita instituição no banco dos réus pelos crimes que cometeram. Seja como for, não quero passar uma mensagem de que toda a gente deve temer ver a sua privacidade violada", afirmou o antigo dirigente.
À saída da 13.ª sessão do julgamento do processo Football Leaks, que tem Rui Pinto como arguido, Bruno de Carvalho, ouvido como testemunha, referiu que "tudo isto veio demonstrar muita coisa. Fui dizendo, ao longo de cinco anos e meio, muita coisa e acho que o Football Leaks veio materializar isso em termos documentais. Acho que o Football Leaks sedimentou uma série de informação".
"Podemos estar satisfeitos. Não vou qualificar o crime que o Rui Pinto cometeu. Houve uma série de processos cujas investigações andaram mais depressa e as pessoas sentem-se mais confiantes a partir do momento em que um miúdo de 30 anos fez o que fez", referiu.
Relativamente ao facto de o Fottball Leaks ter exposto informação classificada do Sporting, ainda no seu tempo na presidência dos leões, acrescentou: "Há duas questões: primeiro, houve uma série de informação que saiu do Sporting. Mas o que saiu do Sporting, após a minha saída, sobre os salários dos jogadores, é muito mais grave para a honra do clube, porque o colocou em desvantagem perante os rivais. Não vejo nenhum processo, se calhar não foi um processo externo que deu essa informação à imprensa...".
"O tribunal tem de fazer um trabalho que, para mim, seria complexo se estivesse no lugar deles. O que ele [Rui Pinto] apurou foi demasiado grave e importante, não só para Portugal, mas também não vou chegar aqui e dizer que o tribunal não tem de fazer um trabalho difícil. (...) Não sou investigador, não sou polícia. Espero que haja muita gente que, perante o que ele descobriu, se sente no banco dos réus. Como cidadão espero ver muita gente, muita instituição no banco dos réus pelos crimes que cometeu, apesar de terem sido obtidos da forma que foram. Seja como for, não quero passar uma mensagem de que toda a gente deve temer ver a sua privacidade violada", acrescentou.
Os fundos funcionavam para o futebol como a droga para os que são agarrados à mesma
Por outro lado, e porque a Doyen é uma das partes interessadas neste processo contra Rui Pinto, Bruno de Carvalho disse: "Os fundos de investimento não são todos iguais. O Sporting estava a lidar com três fundos e o pior, devido ao contrato, era a Doyen. O que eu aprendi com eles era que os fundos funcionavam para o futebol como a droga para os que são agarrados à mesma. Vinham com muito dinheiro, davam sensação de prazer e alguma calma, mas depois percebiam que não conseguiam resolver a dívida que já tinham e que ainda tinham de ir ao fundo receber a nova dose para pagar essa dívida. Tinham que pedir novamente ao fundo e ficavam com três dívidas ao fundo".
"O departamento jurídico do Sporting fez queixa [da Doyen], ninguém ligou nada. Tendo em conta que o tribunal tem uma missão difícil de decisão sobre os crimes apontados, em termos de filosofia de operação estratégica, fico contente que um miúdo de 30 anos tenha posto o mundo a olhar para o futebol, sistema bancário e político de uma forma que nunca tinham pensado".
Sobre a atualidade do Sporting, foi lacónico: "Não falo".