Sequeira, antigo lateral do Braga, fala a O JOGO da sua primeira época no estrangeiro, marcada pela descida de escalão do Pendikspor. Apesar dos bons desempenhos em 36 jogos, Sequeira viu o Pendikspor, estreante na I Liga, ser despromovido, fazendo-o pensar num novo rumo, apesar de ter assinado contrato de duas épocas.
Corpo do artigo
A experiência de Sequeira na Turquia correu bem individualmente, mas não tanto a nível coletivo. Adivinham-se novos projetos.
Como definir esta primeira época na Turquia, marcada por uma descida?
-Foi o meu primeiro ano na Turquia. Não conseguimos atingir o objetivo, mas a nível individual considero uma época positiva num novo cenário futebolístico onde sabia que iria enfrentar novos desafios. Acho que me correu tudo bem individualmente, não tive lesões e só falhei dois jogos por castigo. Era um clube que estava na I Liga pela primeira vez e com naturais falhas de organização. Para quem era estreante no patamar, algumas coisas não foram perfeitas e sentimos isso. A nível pessoal sinto que correspondi.
Que razões para esta mudança aos 32 anos?
-Emigrar com esta idade era algo que eu já pensava há algum tempo. Queria ter esta experiência de sair da minha zona do conforto e do país. Ao surgir esta oportunidade para a Turquia, decidi conjuntamente com a minha família dar este passo, foi uma opção tomada sem receios e não estamos arrependidos. Nada ia ser perfeito, seria testado e desafiado por algo novo, que, no fundo, me faria crescer.
Que retrato da época faz a nível individual?
-A nível coletivo foi, realmente, uma época difícil. A equipa começou mal o campeonato e faltou sempre a tranquilidade necessária para conseguirmos estabilizar e pôr em prática o nosso futebol e as melhores qualidades de cada um. Passar o campeonato inteiro nas posições de baixo dificulta muito e há jogadores que não chegam a conseguir mostrar o seu melhor por estarem pressionados pelos pontos e pela necessidade extrema de ganharem jogos.
Foi essa pressão que também condenou o treinador Ivo Vieira?
-Esse estado também nos acompanhou na fase do Ivo Vieira. Não foi fácil para ele vir nas circunstâncias em que veio, apanhando um clube nada habituado a jogar neste patamar. Encontrou dificuldades próprias para impor as suas ideias num campeonato turco muito formatado e bastante particular. Teve de se adaptar à realidade mas para mim, ser treinado por ele, foi uma ótima experiência.
Como projeta agora a próxima época, já que a II Liga turca parece curta?
-Falar de planos futuros passa por reconhecer que tenho mais um ano de contrato. Mas é certo que gostaria muito de arranjar uma solução diferente, porque tenho capacidade para jogar na I Liga, seja na Turquia ou noutro campeonato. Estou a ver com o meu agente as melhores opções e resta esperar e decidir.
Mas sente que atraiu atenções na Turquia?
-Fui consistente, falhei dois jogos por castigo, a época foi boa mas, claro, a equipa falhou o objetivo. Mas acho que posso ter aberto portas para jogar noutras equipas do campeonato. Vamos ver. Tenho de encontrar a melhor solução para mim e para a minha família.
A porta de saída que foi sugerida
Os sete anos em Braga não se apagam e terá sido um espetador atento da última temporada. Que avaliação faz?
-Em relação ao Braga, foi uma época inconstante com grandes momentos e outros menos bons. Mas se no final há um título conquistado, estamos a falar de uma época positiva, pois vencer um troféu é sempre mais um marco na história do Braga. Mas devo confessar que não previa tanta inconsistência.
Apanhado de surpresa por Artur Jorge não ter chegado ao fim da época?
-Fiquei surpreendido pela saída do Artur Jorge, que tinha ganho uma Taça da Liga, mas como não estou a par de tudo o que aconteceu...não consigo dizer mais.
Depois de tantos anos em Braga, imagino que tenha custado sair, sem ter esse prazer de jogar a Champions?
-Mentiria se dissesse que não era um sonho e um objetivo. Claro que o era. Mas, felizmente ou infelizmente, a vida é feita de mudanças. Não atingi esse objetivo pessoal de jogar pelo Braga na Champions, mas sei que dei o meu contributo na época em que conseguimos a vaga. Isso deixa-me orgulhoso.
Sente um Braga em transformação, olhando o histórico de algumas saídas?
-Em relação às saídas, a minha, do Castro, do André Horta, depois do Pizzi e do Fonte, acho que sim, que indicam uma nova fase. Nota-se que estão a fazer uma reconstrução. Eu, falando por mim, quando senti que ia deixar de ser importante, que já não acreditavam tanto nas minhas capacidades, segui o meu caminho. Não sei se aconteceu o mesmo com todos. Tenho muito orgulho no que conquistei em Braga e também sei que quem vier a seguir tem de elevar a fasquia. O treinador Daniel Sousa irá certamente corresponder às expectativas do clube e ajudá-lo a projetar novos patamares.
“Sentimos-nos jogadores a sério”
Conhece-se a competitividade da liga turca e os muitos jogos que fogem do controlo. Que radiografia faz?
-Ao nível de jogo jogado, o campeonato turco tem muitas particularidades e custou-nos o desconhecimento do patamar, em relação à maioria das equipas. Quem conhece, já sabe como lidar melhor com a desorganização do jogo a dada altura, pois fica mesmo partido a partir dos 70 minutos. É algo evidente e característico.
E ainda temos o fanatismo e o ambiente incrível nos estádios. Convence?
-O fanatismo não dá mesmo para explicar. O ambiente nos estádios principais, Fenerbahçe, Galatasaray, Besiktas e Trabzonspor, é algo impressionante. Os estádios das equipas pequenas também são incríveis. Dá gosto jogar e o que senti foi realmente o que me contavam. Sentimo-nos, mais do que nunca, jogadores de verdade nestas atmosferas.
Ao trocar o Braga pelo Pendikspor, custou-lhe enfrentar nova realidade?
-Ao nível da adaptação, tive um período para me adaptar. Estava habituado a um clube como o Braga, a ter condições fantásticas, em que não faltava nada. Não me devo queixar muito das instalações mas, no geral, era algo diferente.