Simão Bertelli foi chamado à titularidade no lugar do ídolo Ochoa frente ao Braga e correspondeu com uma exibição para recordar
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Depois da boa exibição na vitória sobre o V. Guimarães, Simão Bertelli voltou a brilhar noutro dérbi do Minho, agora com o Braga, que o Aves SAD perdeu por 1-0, no domingo.
“Talvez tenha sido o meu melhor jogo em Portugal. Já tive outros jogos marcantes, principalmente no Brasil, na Série B ou numa final da Série C, mas este foi especial. Acho que ninguém consegue nada sozinho, não é só o guarda-redes, é a equipa toda. Estivemos todos bem no jogo, especialmente em termos defensivos, e as minhas defesas aconteceram porque estamos ali para ajudar. Preparamo-nos diariamente, treinamos muito para quando a oportunidade aparecer conseguirmos corresponder. É claro que nem sempre as coisas correm como queremos, preferia nem ter tocado na bola e termos vencido o jogo. Isso era o mais importante porque precisamos de ganhar. Em termos individuais, isso foi bom para retomar a confiança e para mostrar o meu trabalho”, disse.
A exibição dá-lhe mais confiança para lutar pela titularidade na baliza? “Claro que sim. Um guarda-redes precisa de confiança e ritmo de jogo. As coisas tornam-se mais fáceis quando há uma sequência de jogos. Sou tranquilo, trabalho diariamente para ser titular ou mesmo não ser convocado, como já aconteceu. Comecei bem a época e tenho aprendido bastante com a chegada do Ochoa. Respeito e admiro-o como profissional e como guarda-redes, pois no dia a dia, aprendo muito com ele, mesmo que seja só a observá-lo. Um guarda-redes precisa de conhecer os atalhos, como melhorar o posicionamento, e nisso ele é excelente. Tanto eu como o Pedro [Trigueira] estamos a treinar forte porque sabemos que a equipa pode precisar de algum de nós e quem jogar terá de estar preparado. É como diz o treinador, só joga um mas esse um representa-nos a todos”.
A chegada de um guarda-redes com o estatuto do Ochoa: “A contratação de um grande guarda-redes como o Ochoa foi uma decisão do clube. E, como já disse, para mim ele é um ídolo. Quando comecei a jogar inspirava-me nele e até hoje vejo vídeos das suas defesas para me motivar. Preparei-me para ser titular e comecei bem a época, mas como é óbvio há ajustes porque a I é diferente da II Liga. É um jogo mais técnico, em que a sequência de jogos ajuda muito. A chegada dele também foi positiva porque me trouxe mais experiência e calma. Muitas vezes, os mais novos querem tomar decisões precipitadas, e ele ajuda a acalmar. O mais importante é que há respeito entre nós. Só joga um, é verdade, mas quem jogar representa os outros dois. Preparo-me com muita fé em Deus e sei que há coisas boas reservadas para mim e para o Aves SAD”.
Lutar de igual para igual com Ochoa pelo lugar na baliza do Aves SAD: “Isso depende do treinador. Tenho recebido muita confiança, inclusive do próprio Ochoa, que me deu essa oportunidade de jogar quando menos esperava. Senti-me preparado e confiante para corresponder. Se precisarem de mim para uma sequência até ao final da competição, ou apenas para um jogo decisivo, como aconteceu no ano passado, nos jogos do play off, estarei pronto”.
As duas grandes defesas, ao penalti de Bruma e à recarga: “É um tipo de lance que treinamos quase todos os dias. O penálti foi uma questão de intuição, pois sabia que o Bruma esperava sempre que o guarda-redes decidisse primeiro e esperei ao máximo, ele não acertou bem na bola e eu consegui fazer a defesa. Na recarga houve sobretudo uma reação rápida. Tentei abrir os braços para ocupar o máximo de espaço possível e, felizmente, a bola bateu no meu braço. São momentos muito rápidos, em que não há tempo para pensar, apenas de reagir. Estou feliz com o meu desempenho, mas preferia que tivéssemos vencido o jogo sem eu tocar na bola porque precisamos de uma vitória para retomar a confiança”.
Após análise do vídeo do jogo, os erros a não repetir: “Analisamos o jogo e ajustámos algumas coisas que o treinador pediu. Defensivamente, demos pouco espaço a uma grande equipa como o Braga, mas na segunda parte recuámos demasiado. Não era necessário recuar tanto mas isso é algo que acontece naturalmente quando somos empurrados para trás. O mais importante, agora, é perceber o que o treinador quer e ganhar porque precisamos dessa vitória para recuperar a alegria, a confiança, e arriscar mais em campo”.
O impacto no futebol brasileiro dos treinadores portugueses como o Jorge Jesus, o Abel Ferreira e, agora, o Artur Jorge, que venceram a Taça Libertadores: “O futebol brasileiro está a crescer muito, tanto na Série A como na B, e os treinadores portugueses têm tido muito sucesso no Brasil porque trazem algo que faz a diferença, os detalhes e o profissionalismo. Não ensinam os brasileiros a jogar futebol mas acrescentam pormenores, como a organização tática e o trabalho minucioso nos treinos. No Brasil, há muita pressão dos adeptos, mas os portugueses têm conseguido impor-se e fazer um trabalho excelente”.
Se sentiu essa diferença quando chegou a Portugal, ao Paços de Ferreira: “Sim, no início senti bastante. Era um nível superior para quem vinha da Série B, do Brasil. A profundidade, o jogo com os pés, o relvado sempre molhado e rápido… Foi difícil adaptar-me mas com o tempo fui melhorando. Na altura tive uma lesão grave e regressei ao Brasil e quando voltei para o Aves SAD estava mais maduro. Hoje sinto-me completamente adaptado e o meu objetivo é continuar a crescer, sempre com foco em alcançar um nível superior no futebol português".