Duas semanas após a aplicação dos castigos de jogo à porta fechada a Benfica, Braga (suspensos por providências cautelares) e Paços de Ferreira (cumprido), o G15 confirma estar a preparar projeto de alteração ao regulamento para a sanção ser usada apenas em "casos extremos". Governo, Liga e PSP são por endurecimento de penas
Corpo do artigo
Exatamente duas semanas depois de a secção profissional do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol ter anunciado (11 de setembro) a aplicação da sanção de jogo à porta fechada a Benfica, Sp. Braga (suspensas com providências cautelares) e Paços de Ferreira (cumpriu-a na Taça da Liga frente ao Aves), o G15 decidiu avançar com uma proposta de alteração regulamentar para que esta punição seja aplicada apenas em casos extremos, numa reunião do grupo em Mortágua a 26 de setembro. Governo, Liga e PSP fecham a porta: estão a favor do gradual endurecimento das punições contra clubes/SAD e adeptos.
"Faltam consequências desportivas e significativas para o orçamento e que afetem os seus adeptos. Perda de pontos ou jogo à porta fechada têm consequências sérias e os clubes vão evitar comportamentos violentos ou intolerantes a todo o custo. Vai levar clubes a evitarem um discurso de ódio e a reforçar os mecanismos de segurança", disse a O JOGO fonte governativa (o Ministério da Administração Interna respondeu a um conjunto de perguntas remetendo para o despacho regulamentar 10/2018, que criou a Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto).
Uns quantos clubes do G15 ainda parecem, no entanto, baralhados. Contactados vários, informalmente, por O JOGO, houve alguns que disseram que o tema da alteração ao regulamento disciplinar nunca foi abordado. Mas o Braga confirmou oficialmente que foi abordado na reunião de Mortágua e que está a ser desenvolvido um projeto a apresentar brevemente à Liga. Aliás, o presidente do organismo prometeu "uma reflexão" sobre o assunto após o encontro de quinta-feira com o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, na companhia de Sporting, Braga, Marítimo e Belenenses, da I Liga, e de Estoril e Penafiel, da II Liga.
Uma fonte da Liga disse a O JOGO, antes dessa reunião, que "nenhuma proposta ou abordagem tinham sido feitas" no sentido de mexer na sanção à porta fechada, que existe pelo menos desde 2003 (quando foram digitalizados os arquivos do organismo). Na época passada houve uma alteração que passou a prever que o arremesso de artefactos pirotécnicos que interrompa o jogo por dez minutos à terceira vez tem de ser punida com sanção de jogo à porta fechada. A mesma fonte admitiu que a tendência tem sido contrária: endurecimento das medidas de coação sobre atos violentos, discriminatórios e intolerantes. E deu o exemplo da interdição individual pelos clubes, que têm essa competência legal mas não a exercem. "É uma batalha da Liga e vai ser tratada nos grupos de trabalho sobre "banning orders" [ordens de restrição, enquadradas pela Lei 39/2009], que são aplicadas pelos tribunais como pena acessória de não poder entrar no estádio. Mas os clubes dizem: "Recebo o nome dele, mas como vou identificá-lo?" A resolução é adicionar a presença obrigatória na esquadra", explicou.
Num tom mais forte, o superintendente da PSP Luís Elias (ver entrevista a O JOGO na edição de ontem) diz que a polícia "vê com bons olhos jogos à porta fechada e interdições individuais". A PSP é a força policial a que recorrem 15 dos 18 clubes/SAD na I Liga (e 11 dos 18 da II Liga). Revelando que o número de incidentes globais até diminuiu esta época (ver infografia), o diretor do departamento de operações da Direção Nacional da PSP, com muita tarimba no combate e prevenção da violência no futebol (Mundial"2018, Euro"2012 e anos de I Liga e competições europeias), diz que a realidade "não deixa de ser preocupante, claro". "Não estou a escamotear a importância dos dados", diz, mas sublinha que o facto de 98% dos incidentes se verificarem com Benfica, Sporting, FC Porto, Braga, Guimarães, Boavista, Feirense e Belenenses se deve enquadrar no universo de adeptos que sobretudo os primeiros cinco clubes movimentam (na I Liga 2017/18, estes cinco somaram 2 842 866 milhões de espectadores nas bancadas, contra 812 347 mil dos outros 13 clubes juntos - 3 655 213 foi o total de espectadores nas 34 jornadas).
Os sete jogos à porta fechada nas ligas profissionais
17/18 Paços de Ferreira - Um jogo (agressão simples com reflexo no jogo por período igual ou inferior a dez minutos). Multa de 1785 €.
15/16 Leixões - Dois jogos (racismo). Multa de 16 421 €.
14/15 Chaves - Um jogo (racismo). Multa de 7140 €.
12/13 V. Guimarães B - Dois jogos (invasão e distúrbio coletivo com reflexo grave no jogo). Multa de 7650 €.
12/13 V. Guimarães - Um jogo (arremesso perigoso de objetos com reflexos no jogo - interrupção superior a dez minutos). Multa de 10 200 €.
12/13 Nacional - Um jogo (racismo: raça, religião e ideologia). Multa de 15 300 €.
12/13 Leixões - Um jogo (racismo: raça, religião e ideologia). Multa de 10 200 €.