Aves e Famalicão recebem os dois candidatos e estão em extremos opostos: os famalicenses só vendem 400 ingressos aos adversários; já o Aves, com problemas financeiros, poderia encaixar 240 mil euros.
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Com 10 jornadas para disputar até final do campeonato e as duas equipas que discutem o topo da tabela classificativa, FC Porto e Benfica, separadas por apenas um ponto, os últimos jogos revestem-se naturalmente de um interesse muito maior.
Em condições normais, estes seriam jogos capazes de arrastar multidões de adeptos aos estádios, sublinhando o papel do chamado 12.º jogador, de quem se diz ser capaz de empurrar as equipas para a vitória, até à conquista do título. Este não é, no entanto, um campeonato normal e a retoma dos jogos, após a pausa decretada a 12 de março, será quase de certeza feita à porta fechada.
Se, por um lado, o fecho das bancadas defrauda os adeptos desejosos do regresso do futebol, por outro, também deixa depauperadas as finanças dos clubes - oito - que contavam receber nos seus estádios Benfica e FC Porto e fazer significativos encaixes com a venda de bilhetes (uma vez que transmissões televisivas e publicidade são verbas asseguradas à partida). É que os cálculos feitos por O JOGO, depois de contactados os responsáveis destes clubes (o Marítimo não respondeu e houve quem não especificasse valores), apontam para um total de perdas superior a 500 mil euros - concretamente, 506 mil euros -, havendo dois emblemas que se destacam, Aves e Famalicão, por receberem os dois candidatos, embora se trate de casos diferentes, como veremos.
Em casa da equipa sensação desta temporada, a receção aos chamados grandes até nem gera particular euforia. O jogo do Sporting em Famalicão (a 3 de março) teve pouca gente. É certo que aconteceu a uma terça-feira e estava a chover, mas o fator primordial é não serem permitidos adereços dos outros clubes em nenhuma bancada a não ser na visitante e onde os famalicenses se limitam a reservar os 400 lugares estipulados pela percentagem definida pela Liga. Além disso, nos jogos grandes só vendem bilhetes para sócios, o que equivale a falar de um rombo relativo, que não será muito superior a 10 mil euros por jogo.
Bem diferente é a situação do Aves. A passar por dificuldades financeiras, o clube podia ter na receção aos candidatos uma verdadeira lufada de ar fresco nas contas. O emblema não avançou com números, mas, atendendo à ocupação média do estádio na época passada nas receções a FC Porto e Benfica (superior a 80%) e com um preço médio por bilhete de 25 euros, o encaixe rondaria os 250 mil euros nestas duas partidas. A este valor deve descontar-se cerca de dez mil euros relativos às despesas de organização.
Entre os clubes que recebem apenas um dos candidatos, o Portimonense estima uma perda a variar entre os 75 e os 80 mil euros, já retirando eventuais despesas que teriam na organização do jogo. Anda perto dos valores que o Tondela poderia encaixar com a venda de 3500 bilhetes a adeptos portistas, que renderia, subtraídas despesas associadas, mais de 80 mil euros.
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O presidente do Paços de Ferreira, Paulo Meneses, foi dos primeiros a alertar para esta realidade e a fazer contas a um prejuízo global de 350 mil euros. Desde logo, pela questão da bilheteira. "Ainda temos jogos contra FC Porto e Braga, e sendo à porta fechada a perda de receita de bilheteira será naturalmente significativa. Depois, também teremos prejuízos a nível de publicidade, patrocínios e, por exemplo, quotizações", afirmou a O JOGO, a 18 de abril. A este valor, e contando que o Paços receba as verbas estipuladas pela televisão, como salientou, acrescenta, agora, 50 mil euros a gastar em testes à covid-19.
O Rio Ave, com uma bancada fechada por questões de segurança desde o início da época, teria cerca de dois mil bilhetes para ceder a adeptos do Benfica, o que representa uma perda de 40 mil euros. Quantia idêntica encaixaria o Braga, que esta época tem disponibilizado apenas 1500 bilhetes a rivais. Se usarmos como valor base o preço por bilhete praticado na receção ao Benfica (jornada 4, a 1 de setembro), a 31 euros, a perda fixa-se nos 46 500 euros.
Mecanismo de solidariedade seria bem vindo
Em desigualdade perante outros emblemas que já receberam os candidatos, estes oito clubes garantem que não foi pensada nem falada a criação de um mecanismo de solidariedade para amenizar esta ausência de receitas. No entanto, Paços de Ferreira, Portimonense e Tondela são perentórios em afirmar que não o rejeitarão, caso venha a existir.
Tondela faz o pleno com os grandes
A única equipa grande que o conjunto de Natxo González vai receber são os azuis e brancos, embora nestas 10 jornadas que faltam tenha confrontos com as três. A próxima ronda (25) será no Estádio da Luz. A deslocação imediatamente a seguir é ao de Alvalade (J27), enquanto na jornada 31 terá a receção ao FC Porto.
Sporting e Boavista também defrontam os dois candidatos ao título no que falta jogar do campeonato 2019/20, mas sempre na condição de visitantes.