Plano B está na Universidade: oito atletas, da formação aos bês, estão a tirar cursos superiores
A ideia de que um jogador põe os livros de lado mal percebe que pode ter uma carreira no futebol já não faz sentido. Há cada vez mais atletas em ambiente académico, uma prática incentivada pelo Vitória.
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Há uma nova geração de jogadores a despontar no Vitória. Se num passado recente encontrar um atleta que frequentasse a universidade era uma tarefa praticamente impossível, agora o cenário é bem diferente. André Almeida, da equipa B, Tomás Händel, dos sub-23, e Rafael Gomes, dos sub-19, são alguns exemplos de jogadores vitorianos com vidas paralelas.
Quando terminam os treinos, começam as aulas na universidade ou os estudos em casa. Todos eles frequentam o ensino superior, uma espécie de plano B para o caso de não conseguirem carreiras a um nível competitivo elevado. Além deste trio, há ainda mais quatro jogadores da formação com frequência universitária e 15 matriculados no 12.º ano de escolaridade ou que já completaram essa fase.
"Os meus pais incentivaram-me sempre a estudar. Se vir que não tenho possibilidades no futebol, fico com um plano de recurso. Estudar enriquece o intelecto e ajuda no futebol, porque o jogo tem sempre uma grande componente tática", analisa o guarda-redes Rafael Gomes, dando conta que por ter entrado no polo de Braga da Universidade do Minho ficou algo receoso com a receção por parte dos outros estudantes, devido à enorme rivalidade com o Braga.
"O simples facto de estarmos na universidade funciona como um incentivo para muitos jogadores da formação" André Almeida, médio da equipa B
"Não se passou nada, afinal. E há lá muitos vitorianos", junta o estudante de Bioquímica, que terminou o secundário com média de 17. O médio André Almeida, da equipa B, alinha na teoria de que "o ambiente familiar tem um peso enorme" na instrução dos filhos, da mesma forma que vê no curso de Ciências Empresariais uma forma de continuar a carreira do pai. "Sempre fui bom a matemática", sublinha o jogador, que não tem sido poupado nas internacionalizações nas seleções jovens portuguesas (31 chamadas).
Apaixonado por tudo o que diga respeito ao desporto, Tomás Händel está matriculado na Universidade de Coimbra e uma das primeiras coisas que recebeu quando começou o curso de Ciências do Desporto foi um kit da Académica. "Sou vitoriano", diz o médio da equipa sub-23, como quem torce o nariz à oferta. "No futebol posso aplicar a componente teórica do curso e no futuro posso seguir uma carreira ligada ao desporto", acrescenta.
"No futebol posso aplicar a componente teórica do curso e no futuro posso seguir uma carreira ligada ao desporto", Tomás Händel, médio da equipa sub-23
O Vitória olha para esta questão com muita atenção. Há muito tempo que o clube incentiva os jovens da formação a completarem o ensino secundário e a seguirem para a universidade, atribuindo mesmo prémios para os melhores alunos. De resto, está em curso o projeto UAARE (Unidade de Apoio ao Alto Rendimento na Escola), uma estrutura técnicopedagógica, criada no âmbito da Direção Geral de Educação, que tem como objetivo ser uma entidade facilitadora entre o rendimento desportivo e o sucesso académico.
O emblema vitoriano é mesmo o primeiro a ter um protocolo com o Ministério da Educação, a Escola Secundária Martins Sarmento e a Câmara Municipal de Guimarães. O projeto UAARE prevê a instalação na Academia do Vitória de uma sala de estudo denominada Aprender+, já existente na Escola Secundária Martins Sarmento, e que faculta aos jovens atletas apoio presencial e apoio à distância.
"Está errada a ideia de que um jogador de futebol não estuda e que não pode ter uma carreira académica", assegura Tomás Händel, que se lembra de ver João Afonso a estudar no intervalo de um jogo que estava a assistir no Estádio D. Afonso Henriques. O defesa-central do Vitória concluiu em 2015 o mestrado em Atividade Física da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Castelo Branco. "Estarmos na universidade funciona desde logo como incentivo para muitos jogadores da formação", salienta André Almeida.
"Estudar enriquece o intelecto e ajuda no futebol, porque o jogo tem sempre uma grande componente tática", Rafael Gomes, guarda-redes da equipa de sub-19
Jorge Freitas: "A inteligência é o que mais procuramos"
A formação integral do atleta é algo a que se dá muito valor na Academia do Vitória, de acordo com Jorge Freitas, o diretor do espaço. Ter cada vez mais jogadores no ensino superior é o objetivo, porque acredita-se que o retorno será benéfico para a modalidade. "Para além da parte desportiva, damos muita importância à formação académica. No Vitória todos os atletas têm de estudar e ter um bom aproveitamento escolar. O futebol é um jogo cada vez mais complexo, onde não é somente importante ser-se apenas bom tecnicamente ou ter um bom perfil físico. A tomada de decisão é algo determinante, logo exige-se ao atleta que pense rápido e que tenha um bom entendimento do jogo. A inteligência é, sem dúvida alguma, uma das características mais importantes que procuramos nos atletas", explica Jorge Freitas.
Jogadores do Vitória de Guimarães matriculados na Universidade:
Sérgio Carvalho: Guarda-redes da equipa sub-19); Universidade do Minho; Mestrado Integrado em Telecomunicações e Informática - 1.º ano.
Rafael Gomes: Guarda-redes da equipa sub-19; Universidade do Minho; Bioquímica - 1.º ano.
Pedro Nuno: Defesa da equipa sub-19; Faculdade de Desporto da Universidade do Porto; Ciências do Desporto - 1.º ano.
Fernando Marques: Defesa da equipa sub-19); Universidade do Minho; Economia - 1.º ano.
João Mendes: Defesa da equipa sub-19; ISCE Douro; Curso Técnico Superior Profissional em Exercício Físico - 1.º ano.
Tomás Händel: Médio da equipa sub-23; Universidade de Coimbra; Ciências do Desporto - 1.º ano.
André Almeida: Médio da equipa B; Instituto Superior Politécnico do Porto, polo Felgueiras; Ciências Empresariais - 1.º ano.