Planear, executar e falhar: ex-dirigentes analisam época e apontam dedo a Varandas
Goleada na Supertaça (0-5) sofrida diante do Benfica, eliminação com o Alverca, do terceiro escalão, na Taça de Portugal e final de I Liga sem o 3.º lugar explicam-se com má organização e falta de estratégia, garantem
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A derrota na Luz atirou o Sporting para o quarto lugar, caindo do pódio, o único objetivo que lhe restava. A primeira época totalmente planeada pela direção de Frederico Varandas - entrou em setembro de 2018, logo com a temporada em andamento - ficou, por isso, bem longe dos objetivos propostos.
Ex-dirigentes sem pejo na hora de apontar o dedo a Varandas após ano de recordes negativos
Desportivamente, o clube somou a pior classificação na I Liga dos últimos sete anos (em 2012/13 acabou em sétimo), perdeu pela terceira vez na história os quatro clássicos do campeonato; antes, vira fugir a Supertaça diante do Benfica com uma goleada por 5-0 e caiu na 3.ª eliminatória da Taça de Portugal, num 2-0 em Alverca, clube do terceiro escalão.
Tombou ainda nas meias-finais da Taça da Liga ante o Braga, foi superado na Turquia, por um 4-1 que colocou o Basaksehir nos oitavos de final da Liga Europa, e perdeu 17 vezes na época, algo inédito em 114 anos.
O JOGO conversou com ex-dirigentes, que apontam a responsabilidade à Direção. "Há falta de competência de quem dirige a instituição: não teve conhecimentos e capacidade de fazer bons investimentos, nem sequer de gerir os melhores ativos. Deixaram sair jogadores com capacidade, não trazendo qualidade equivalente. Para quem diz que sabe o que é um balneário de futebol, faltou conhecer a realidade", atira Carlos Vieira, ex-vice-presidente do clube, sob a égide de Bruno de Carvalho, que até olha para o FC Porto na forma de resolver crises.
"A Direção tinha gente capaz, mas, com as saídas, passou a ser um grupo de amigos. A covid-19 afetou todos os clubes, mas incomoda-me que falem da herança que deixámos para mandar areia para os olhos dos sócios. Essa herança deu muitos títulos. O terceiro lugar estava quase garantido e morrer na praia revela falta de liderança e capacidade de gestão: basta ver como o FC Porto lidou com a questão Nakajima e que, mesmo estando com dificuldades financeiras, sabe criar valor. Dizer que um jovem vai pagar o valor investido no treinador é uma declaração imatura."
Fernando, Jesé e Bolasie voltaram aos seus clubes antes da época acabar
A investida final no mercado de verão trouxe por empréstimo Fernando, Bolasie e Jesé, trio que foi entretanto devolvido. De contratações, só Vietto, Plata e Sporar, este resgatado a meio da época, ficaram no onze. Nomes como Rosier, que chegou lesionado, e Eduardo, que sairá do clube, são exemplos de jogadores que não trouxeram rendimento, avalia-se.
"Houve incompetência dos dirigentes na escolha dos treinadores, na maneira, nos momentos em que se mudaram: depois os eventuais reforços foram verdadeiros barretes. Há jogadores que não podem ser do Sporting. Li a entrevista do Silas e ele conta que as ideias dele eram diferentes do presidente e do diretor-desportivo [Beto]. Não se trocar ideias com o técnico que vão contratar é de um amadorismo criminoso, fora as indemnizações pagas com as demissões", assinala Dias Ferreira, ex-presidente da Mesa da Assembleia-Geral e ex-candidato à presidência."
O Sporting ganhou 25 dos 48 jogos da temporada, ou seja pouco mais de metade dos encontros realizados, perfazendo uma média de 52,1 % de vitórias
Amorim fez o que pôde
Vieira e Dias Ferreira estão contra o investimento de 10 milhões de euros num técnico, mas criticam um percurso que dizem errático de Varandas quanto ao comando técnico num ano com quatro treinadores. "Não tem o nível pedido pela Liga e entregámos dinheiro a um rival direto [Braga], mas agora tem de se apostar nele, de valorizar o ativo. A culpa não foi dos treinadores. A direção andou a brincar ao "Football Manager". Nunca se devia ter mandado embora o Mihajlovic sem este se mostrar, não devia ter saído o José Peseiro, talvez o Keizer não tivesse feito pior e até os resultados do Silas andam perto dos do Rúben", enumera Carlos Vieira. "É caríssimo pagar 10 milhões para ser quarto, mas o Rúben fez uma boa recuperação, desfalcou o Braga, em simultâneo, e apostou nos miúdos. É o menos culpado da situação", concretiza Dias Ferreira.
Olhar aos jovens sem pensar em negociar
Dias Ferreira pede rumo e capacidade para manter os jovens: "Tenho medo para onde vão levar o Sporting. Não há outro remédio que não apostar nos miúdos, só que devem querer vender três ou quatro destes. Assim, talvez voltemos a não ter equipa." Vieira corrobora: "Tem de haver alguém a escolher melhor. Não vejo capacidade nos nomes que se falam. Temos jogadores emprestados que têm mais qualidade do que os que lá estão. Precisamos de um avançado que fature e que não espera que a bola lhe chegue."
CRONOLOGIA
Goleada na Supertaça não alarmava o líder
A 5 de agosto, o Sporting saiu goleado por 5-0 da Supertaça com o Benfica e Frederico Varandas segurou Keizer no comando, apesar da derrota e dos seis jogos particulares sem vitórias. "Triste? Sim! Preocupado? Não!", disse o presidente ainda no Algarve.
Marcel Keizer caiu quatro jogos depois
Duas vitórias e dois empates depois, Keizer cairia mesmo, a 3 de setembro, do banco leonino - fim da era para quiem tinha conquistado dois troféus na temporada imediatamente anterior. Entrou Leonel Pontes, que estava a dirigir os sub-23.
Leonel Pontes nem uma vitória conseguiu
O técnico madeirense, que entrou interinamente, mas também à experiência, durou quatro jogos e não venceu qualquer jogo. Chegou, portanto, Silas, que se encontrava sem clube após saída do Belenenses.
Silas tremeu na Taça com ida ao Ribatejo
Duas vitórias nos dois primeiros jogos... até à eliminação na Taça ante o Alverca, a 17 de outubro. Silas aguentou-se, mas no final do ano civil já estava a 13 pontos do líder, FC Porto. Não viria a resistir e Varandas jogou a cartada final - Amorim.
Recuperação, mas sem o "match point"
Chegou Rúben Amorim, com o peso de ser o mais caro da história. Tinha quatro pontos de atraso para o Braga, aguentou-se invicto até ir ao Dragão, de onde saiu com a possibilidade de fechar o terceiro lugar em casa ante o V. Setúbal. Ficou com três pontos à maior e falhou o match point no último jogo.
Focados no mercado e em preparar 20/21
O dia de ontem não marcou qualquer reação da estrutura do Sporting sobre um fim de época que acabou por ditar o falhanço do objetivo de ficar em terceiro e só o capitão Coates (ver página 22) deu um ar da sua graça, ao usar as redes sociais para o toque a reunir. A SAD foca-se agora no mercado e em dar a Rúben as melhores armas rumo à temporada que aí vem.