Pinto da Costa: "Sondagens? São sempre a favor de quem as encomenda. Eu não encomendei nenhuma..."
ENTREVISTA O JOGO/TSF, PARTE II - Declarações de Pinto da Costa, candidato da Lista A às eleições do FC Porto
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André Vilas Boas disse-nos que tem sondagens que lhe dão uma vitória por números confortáveis e que o senhor Pinto da Costa também deverá ter essas sondagens com esses números. Tem?
-Não. Não tenho sondagem nenhuma, porque se há uma coisa que não acredito é em sondagens. Basta ver nas últimas quanto tinha o Chega e quanto na realidade teve. Portanto, as sondagens são encomendadas e, naturalmente, são sempre a favor de quem as encomenda. Eu não encomendei nenhuma, nem estou preocupado com isso. As minhas sondagens são na boca das urnas, é no voto que se lá deposita. Isso é que são as sondagens. O resto, para mim, é tudo conversa.
Em caso de derrota, admite falar com o vencedor para suavizar a transição para a presidência?
-Estarei sempre ao serviço do FC Porto para ajudar. Em 1980, deixei a direção do FC Porto e a primeira coisa que fiz foi passar todas as indicações ao meu sucessor, que foi o saudoso Luís Teles Roxo. Eu dirijo o FC Porto não para mim, dirijo o FC Porto para os sócios. Naturalmente, quando cá não estiver, estarei disponível para ajudar em tudo o que quiserem. Quando saí a primeira vez de diretor do FC Porto, tinha sido diretor três anos com o Sr. Afonso Pinto Magalhães a presidente e o Dr. Américo de Sá queria que eu continuasse. Não continuei e, na altura, ele compreendeu. Havia, na Direção que ia entrar, uma certa hostilidade com o Sr. Afonso Pinto Magalhães e eu disse que era para me incomodar e que não estaria bem, porque à minha frente ninguém poderia atacar um homem daqueles. E saí. Mas a primeira coisa que me convidaram, e que fiz, foi para fazer parte de uma comissão para construir o pavilhão, que teve o nome do Dr. Américo Sá. Depois, quando ele foi concluído, o Dr. Américo Sá deu-me até uma medalha e uma carta de agradecimento, muito admirado por ter sido o motor daquele pavilhão. Portanto, não tem nada a ver. Sirvo o FC Porto, estando ou não estando, sempre que o FC Porto precise.
É sua intenção no caso de vitória, cumprir todo o mandato?
-Sim. Caso contrário não me candidatava.
Porque muita gente está convencida que, se ganhar, a meio abdica em favor, por exemplo, de António Oliveira...
-Isso são disparates que se dizem. Sabe, das poucas coisas que não paga IVA é o disparate. Por isso é que ouvimos tantos na televisão. Se um dia puserem IVA no disparate, metade dos comentadores são despedidos.
António Oliveira disse há poucos dias que, se perder estas eleições, em 2028 candidata-se ele à presidência para ganhar. O que é que sentiu ao ouvir isso?
-Senti que foi uma coisa que disse no entusiasmo. Estava um ambiente realmente fantástico, empolgante, e saiu-lhe aquilo. Devo já dizer que não influenciarei de modo nenhum, no caso de vencer estas eleições, no fim do mandato, para que seja este ou aquele. Os sócios é que terão de escolher. Se ele se candidatar, é um problema dele e dos sócios. Será certamente um bom candidato, mas espero que, se ele se candidatar, não seja por termos perdido as eleições, mas por termos ganho e termos posto o clube muito melhor e mais fácil de governar.
Pensa que com António Oliveira, nessa altura, em 2028, o FC Porto ficará bem entregue?
-Não faço ideia. Daqui a quatro anos... O Mundo muda tanto de um dia para o outro. Portanto, é impossível pensar se é ou não é. Neste momento, teria sido, mas não quis. Agora, no futuro, não sei, nem quero saber, nem vou intrometer-me. Estou preocupado nestes quatro anos do FC Porto, com a garantia de que não continuarei. Será o meu último mandato. Portanto, não é um assunto.
“Ninguém tem história na lista B”
Fez uma profunda alteração e renovação nas listas a estas eleições. Porquê agora?
-Porque é agora que há eleições. Não podia remodelar a meio. Estou muito grato a toda a gente que colaborou comigo, todos deram o seu melhor, todos fizeram boas coisas, muitas vezes ignoradas, todos foram muitas vezes injustamente criticados e até insultados, que é uma coisa que agora já existe, infelizmente, na comunicação social. Já não é crítica, é insulto. Entendi que era preciso renovar, com novas ideias. Quem entra traz sempre mais entusiasmo, traz sempre mais vontade e disponibilidade de se sacrificar ao serviço do clube. Procurei pessoas com grande capacidade e que sentissem o clube. Não é por acaso que tenho na minha direção gente que foi uma glória com a camisola do FC Porto vestida, como o Vítor Baía, como o António Oliveira, como o Vítor Hugo, o supercampeão do hóquei em patins, gente competente que serve o FC Porto com paixão. E acho que quando há dificuldades num clube, se não houver paixão, as pessoas vão lá dar o recado. Se não têm história, como ninguém tem história na Lista B, penso que não poderá haver capacidade para disponibilizar-se totalmente para viver o FC Porto.
Recentemente vieram ao público rumores que davam conta de uma ligação entre Adelino Caldeira e André Villas-Boas. Tem alguma informação nesse sentido? Isto tem algo a ver com a saída dele?
-Não, não tenho nada e não tem ligação. Ter ligação não é motivo... Também tive ligação até há bem pouco tempo com pessoas que estão por trás da candidatura e que algumas até têm feito muito mal ao FC Porto. Portanto, se tinha qualquer ligação, ou até profissional, é evidente que ninguém pode criticar isso, nem de um lado, nem do outro. Se um advogado é requisitado para prestar um serviço, se o cliente confia nele, não pode estar a ligar as ligações ou às conotações desportivas. Isso não me diz absolutamente nada.
João Koehler disse há uns dias que há informação interna do clube a ser passada para fora por funcionários afetos à lista B. Acha que é preciso fazer uma limpeza do balneário no FC Porto?
-Não. É preciso fazer uma limpeza no balneário, não de balneário, porque os balneários ficam sempre sujos depois dos jogos. Não comungo dessa ideia. Qualquer pessoa, funcionário ou não, tem direito de ter as suas opções. Sei que há aqui gente dentro que tem muita ligação, não é ao Villas-Boas, que ao Villas-Boas ninguém tinha, mas ao Antero [Henrique], que é o promotor da candidatura. Portanto, é natural que tenha uma certa simpatia. Agora, que isso esteja a prejudicar o bom andamento dos serviços e do FC Porto, creio que não.