Pinto da Costa responde em comunicado ao que considera serem "ataques" a ele dirigidos
Ex-líder dos dragões quebrou o silêncio para se defender do que considera serem ataques que denigrem o seu caráter, trabalho e legado. Contas da SAD, resultados da auditoria, comissões em transferências e bilhética motivaram um comunicado de cinco pontos enviado ao nosso jornal pelo presidente honorário
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Num comunicado com cinco pontos enviado à redação d’O JOGO ontem à noite, Pinto da Costa quebrou o silêncio dos últimos meses por considerar que se se tornou “por demais evidente o objetivo de denegrir o caráter, o trabalho e o legado de quem dedicou longos anos ao serviço do clube”.
A lutar contra um cancro na próstata nos últimos anos, Pinto da Costa esteve várias semanas em repouso domiciliário, mas entretanto apresentou melhorias e na sexta-feira já foi visto a regressar a casa na companhia de Fernando Póvoas
O presidente honorário dos dragões refutou a acusação de ter deixado apenas oito mil euros nos cofres do clube e defendeu-se dos resultados da auditoria.
“Ao longo dos últimos meses tenho mantido o silêncio perante os ataques que me têm sido dirigidos, procurando, assim, contribuir para a preservação do bom nome do FC Porto e para não suscitar qualquer foco de instabilidade que possa ser visto como causador de insucesso desportivo. Assisti no estádio aos primeiros jogos, tendo recebido inúmeras manifestações de carinho, mas que não foram bem entendidas por alguns. O silêncio deixa, assim, de ser uma opção, numa altura em que se torna por demais evidente o objetivo de denegrir o caráter, o trabalho e o legado de quem dedicou longos anos ao serviço do clube”, começou por escrever.
Pinto da Costa passou depois à defesa pessoal e da sua anterior administração. “Uma das mensagens que mais insistentemente se faz passar, é a de que a administração a que presidi apenas deixou 8 mil euros aos seus sucessores, ficando o clube estrangulado e sem soluções para o futuro. Nada de mais falso, como agora se tornou evidente”, apontou, antes de justificar. “Investimos e valorizámos um plantel que permitiu à atual administração, apenas na primeira metade da época, um encaixe de 167 milhões de euros. Concretizámos novas parcerias, nomeadamente com a Ithaka, envolvendo a atribuição de uma verba de 65 milhões de euros. Foram ainda as receitas futuras desta nova empresa criada pela parceria com a Ithaka que serviram de garantia para o financiamento de 115 milhões de euros a longo prazo e que foi recentemente contratado. Do passe de Otávio para o Al Nassr, a atual administração vai agora receber mais 20 milhões de euros”, frisou, referindo outras conquistas. “ Do legado faz ainda parte a qualificação do FC Porto para o novo Mundial de Clubes, consequência da competitividade internacional dos anos anteriores e interessante oportunidade desportiva e financeira. E deixámos também um estádio e um pavilhão integralmente pagos, bem como um centro de treinos e formação e um museu de última geração”.
No ponto três do comunicado, Pinto da Costa refere-se aos resultados da auditoria forense. “Constato tristemente que as conclusões foram ao encontro do que quem as encomendou pretendia, lançando-se uma série de informações descontextualizadas. Omite-se que as contas foram sempre auditadas pelas maiores empresas internacionais do setor, inclusive pela agora autora da auditoria forense, sem nunca algo ter sido assinalado de irregular”, explicou, antes de continuar. “Ignorou-se que o recurso às despesas de representação aprovadas pela Comissão de Vencimentos não são de agora. Sempre existiram na SAD, sendo uma prática aceite no universo empresarial e sem que alguma vez tenham sido postas em causa pelos auditores o que, a ter acontecido, seria motivo para imediatamente se corrigirem procedimentos. A prova de que assim sempre aconteceu, é que o atual Presidente do Conselho Fiscal, sendo administrador financeiro da SAD no período imediatamente anterior ao da auditoria, também assim procedeu. Mesmo já depois de ter abandonado o cargo continuou a apresentar faturas para esgotar o saldo que deixou na SAD, por ser entendimento de que tinha esse direito”, acusou.
As comissões nas transferências também motivaram uma longa exposição de Pinto da Costa com críticas implícitas a Villas-Boas. “ Também se procurou qualificar como absurdo o pagamento em transferências de jogadores de futebol, não se tendo identificado, contudo, qualquer ilegalidade ou discrepância relevante face à prática de clubes concorrentes. A importância das comissões no sucesso de negócios que têm impacto desportivo não muda através de operações de cosmética, como a alteração do nome das comissões ou a inflação de negócios para que aparentemente não as incluam”, referiu, desejando que “a investigação prossiga para que possa apurar-se se o tão relevante valor referido pela auditoria como indevido se verifica, assumindo-se então as consequências que daí advêm”.
Pinto da Costa versou ainda sobre a polémica com a venda de bilhetes, embora sem grandes detalhes. “Também no campo da bilhética se preferiu a aposta nos episódios mediáticos, face à constatação de que não se pode imputar diretamente à anterior administração qualquer atuação à margem da lei.”
Presidente durante 42 anos, Pinto da Costa lembrou que não é fácil dirigir um clube “com a dimensão e a ambição do FC Porto”. “Implica tomar frequentemente decisões complexas, arriscar, falhar algumas vezes, lidar com as consequências do que não corre bem. Mas não pode ser esquecido que foi o modelo de gestão que liderei que permitiu ao FC Porto os inúmeros sucessos desportivos que lhe são reconhecidos nacional e internacionalmente”, defendeu-se, terminando com um apelo. “Desejo um FC Porto ganhador, no futebol e em todas as modalidades, em Portugal e nas competições internacionais, no presente e no futuro, esteja quem estiver a dirigi-lo”.