Pinto da Costa: "Não tenho medo de perder, mas ficaria mal com a minha consciência se não me candidatasse"
ENTREVISTA O JOGO/TSF, PARTE I - Presidente há 42 anos, Pinto da Costa avança como candidato a um 16.º mandato, contra a opinião da família próxima, para combater um projeto que, na sua visão, pretende “desbaratar o clube”
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Aos 86 anos, o sócio número 587 do FC Porto candidata-se àquele que, garante, será o último mandato. Fá-lo, sublinha, com um objetivo: impedir que o clube saia das mãos dos sócios.
Há 42 anos, quando se candidatou pela primeira vez à presidência do FC Porto tinha o objetivo de ver o clube ganhar uma competição europeia. Se for reeleito, ainda é possível conduzir o FC Porto a mais conquistas internacionais?
-Em 1982, no meu programa, não dizia vencer uma Taça dos Campeões. Dizia estar presente numa final europeia. E lembro-me, quando apresentei o programa, fi-lo com o falecido e querido engenheiro Armando Pimentel, ele dizia-me: ‘Oh Jorge, tira isso daí, que isso é impossível’. Eu disse-lhe: ‘Não, não é impossível. Vamos conseguir, com calma e com trabalho seguro, vamos conseguir’. E quando, em 84, ele, abraçado a mim, me disse: ‘Realmente tinhas razão, conseguimos’. Eu disse: ‘Mas ainda não conseguimos tudo, agora temos de ganhar uma’. E em 87, felizmente, ganhámos. Na altura, parecia impossível. Hoje, também parece impossível. Mas se tivéssemos tido aquela sorte que é sempre precisa na marcação dos penáltis, se tivéssemos eliminado o Arsenal, acho que podíamos, este ano, ter estado na final. Não conseguimos ultrapassar esse pormenor e ficámos pelo caminho. Mas o meu objetivo, o nosso objetivo, é voltar a estar numa final europeia. E depois, quando se está numa final, é sempre para tentar ganhar, porque, seja qual for o adversário, é sempre 50-50 de probabilidades.
Considerando as dificuldades financeiras que a própria candidatura admite que existem, de que forma é possível criar uma equipa suficientemente competitiva para um objetivo como aquele que descreveu agora?
-A primeira coisa é tentar segurar todos os jogadores que pretendemos manter. E a segunda é puxar alguns jovens talentos que estão nos escalões de baixo, que já deram mostras de que podem ser uma garantia para as nossas equipas, e também, depois, dar um retoque com jogadores de categoria que venham acrescentar algo mais à nossa equipa.
E esses jogadores já estão identificados?
-Já, já.
É possível o FC Porto voltar àquele mercado em que contratava jogadores como Lucho González, Hulk, Benny McCarthy, Jardel…
-É difícil, porque, hoje, aquilo que nós fazíamos já todos fazem. Portanto, é mais difícil, há maior concorrência e os chamados tubarões estão lá. Mas chamo-lhe a atenção que, por exemplo, este ano conseguimos contratar um jovem de 22 anos, que é o Varela, que vai ser um jogador de classe internacional e será um futuro jogador da seleção da Argentina. Assim como conseguimos o Nico González e hoje ninguém põe a mínima dúvida de que vai ser um grande jogador, já está como um valor firmado na nossa equipa. Ainda é possível arranjá-los. Agora, é preciso ter mais atenção, mais cuidado, mais prospeção, mas não vamos abdicar de reforçar a equipa com bons jogadores.
Não reconhece, portanto, que os plantéis do FC Porto têm vindo a perder qualidade?
-Eu pergunto uma coisa: o plantel do FC do Porto, recentemente, teve três jogadores na seleção do Brasil. Não foi na seleção do Gana, foi na seleção do Brasil. Teve quatro na seleção de Portugal, teve um na seleção da Argentina [n.dr. nos sub-23], teve um nos sub-21 de Espanha... Se isto é perder a qualidade, não sei o que será ganhar qualidade. Queremos manter esses jogadores e, depois, reforçar, dar o tal retoque para aprimorar o valor da equipa.
Considerando a cada vez mais provável ausência da Liga dos Campeões, será possível manter essas pérolas no plantel?
-Penso que sim. Vamos fazer tudo para que assim seja. Falam muito da perda dos campeões europeus... Não é uma perda total, porque indo à Liga Europa... é evidente que a Liga Europa também dá algum. E esquecem-se que temos uma receita suplementar, devido ao trabalho das nossas equipas, que são 50 milhões por irmos ao Mundial de Clubes. Isso é uma receita para nós extraordinária, porque nunca houve esse campeonato e nunca lá estivemos. Digamos assim: podemos perder 50 milhões dali, é verdade, mas também temos garantido 50 milhões de uma prova que não existia, que nunca tivemos. Acho que, de imediato, está contrabalançado a perda com o ganho.
Depois de ganhar tanta coisa, não tem medo de perder estas eleições?
-Não, nunca. Disse, recentemente, numa conversa que tive num programa da SIC, que não tenho medo de nada. Só havia uma coisa de que eu tinha medo, era que o clube viesse a sair da mão dos sócios, com a venda de ações como aconteceu no Braga, porque são os mesmos que trataram desse negócio que estão por trás dessa candidatura. Então eu teria, não é medo, teria um peso enorme da consciência se não me tivesse candidatado quando isso acontecesse. Candidato-me, não tenho medo nenhum de ganhar, nem de perder. É como diz o João Pinto, o prognóstico só no fim. Mas ficaria de mal com a minha consciência se, sabendo o que estão a preparar, não me tivesse candidatado para tentar evitá-lo. Se a opção dos sócios for ir atrás desse projeto de desbaratar o clube, o problema é dos sócios eu ficarei com a consciência tranquila.
A idade é um aspeto importante para ser presidente do FC Porto?
-Acho que não. Pode haver burros aos 20 e pode haver burros aos 60, aos 70, pode haver gente capaz aos 20, aos 60, aos 80... O Presidente dos Estados Unidos, aliás ambos os candidatos, andam um para baixo, outro para cima, mas andam os dois à volta dos 80 anos. Não é pela idade, é pela capacidade que tiverem, pela vontade que tiverem de servir a causa a que se vão entregar.