ENTREVISTA, PARTE 1 - O presidente do FC Porto ironiza com o aproveitamento do regresso de Jesus ao Benfica para desviar as atenções da conquista do título.
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Pinto da Costa concedeu uma entrevista exclusiva a O JOGO e ao "Jornal de Notícias" em que falou de todos os temas atuais do FC Porto e do futebol português. Do mercado, que fica para depois da Taça, ao caso Nakajima, passando pela conquista do título - que, diz, muito se deveu à planificação feita na paragem - e pelas alterações ao modelo competitivo da próxima temporada.
O regresso do amigo Jorge Jesus ao Benfica foi, na sua opinião, usado para ofuscar o sucesso no campeonato dos portistas, que querem, agora, fazer a dobradinha para fechar a época com chave de ouro.
Conquistado o título, já só pensa na dobradinha?
-Todos a queremos, não sou só eu. O nosso trabalho é sempre para vencer, o principal foi alcançado porque o objetivo número um de qualquer clube é o campeonato, mas depois de esse estar ganho, a Taça passa a ser o segundo objetivo. Poder fazer a dobradinha seria a cereja no topo do bolo, depois de uma época difícil com todas estas paragens e todos os casos que isso motivou. Nós, contrariamente ao que muitos insinuaram, defendemos sempre que o campeonato deveria recomeçar, foi essa a posição que defendi quando fomos recebidos pelo primeiro-ministro e por alguns ministros. Defendi acerrimamente essa posição porque entendíamos que ser campeão sem se jogar não tinha o mesmo significado. Acreditava, porque acompanhei bem o trabalho que fizemos e o sacrifício de todos. Os jogadores foram dos poucos que não tiveram férias e treinaram sempre par aparecerem da forma que conseguiram. Neste momento o nosso grande objetivo é vencer a Taça de Portugal.
Seria a primeira dobradinha ganha contra o Benfica...
-Li isso no jornal O JOGO, mas a dobradinha seja contra quem for é sempre uma coisa importante. E mesmo sem ser dobradinha, vencer a Taça é sempre bom. Vamos tentar, ninguém pode garantir a vitória. Será em condições especiais, sem público, o que é uma anormalidade, mas os jogadores têm trabalhado muito para isso aconteça. Foi gizado um plano brilhante, é a palavra certa, para que a equipa aparecesse bem no recomeço do campeonato. Portanto, estou confiante.
"Foi gizado um plano brilhante, é a palavra certa, para que a equipa aparecesse bem no recomeço do campeonato"
Destacou o facto de os jogadores não terem tido férias. Parte do sucesso esteve aí?
-Sim, esteve em toda a programação, desde que o campeonato foi interrompido até ao seu recomeço, em tudo o que foi feito e é preciso não esquecer que houve alguns contratempos, um deles a lesão do Marcano. A equipa apareceu bem, teve um primeiro jogo com uma noite infeliz, mas fez uma primeira parte nesse mesmo jogo demonstrativa de que a equipa estava preparada, como veio a provar, para a fase final do campeonato. Isso deve-se ao mérito de todos os responsáveis, nomeadamente do treinador, que planificou todo esse trabalho, com a colaboração do departamento médico, onde o doutor Nélson Puga foi muito importante. O Marcehsín até disse, com muita propriedade, que os jogadores deviam ao clube este reconhecimento porque não lhes faltou nada, não tiveram de se preocupar com nada, nem correram o mínimo risco em toda a preparação. E apareceram num final fantástico. A época já começou há 13 meses e terminar desta maneira só com muito trabalho e planificação correta é que seria possível.
Acha que o regresso de Jorge Jesus ao futebol português ofuscou o título do FC Porto?
-Em termos mediáticos, quando o FC Porto ganha, se não fosse o Jorge Jesus, arranjavam outro pretexto. Era o incêndio da Covilhã ou a raposa que comeu as galinhas da capoeira em Alguidares de Baixo. Arranjam sempre notícias, porque não há "Rennies" suficientes nas farmácias para tratar todos os que ficaram com azia. Mas há uma coisa que ninguém nos tira, que é o título.
Jorge Jesus é seu amigo pessoal. Como vê este regresso ao Benfica?
-Já era amigo do Jorge Jesus antes de ele sonhar sequer ir para o Benfica, continuei a ser quando ele estava lá e no Sporting. Não tem nada a ver a minha amizade com o clube onde ele está. Ele quer ganhar no clube onde estiver e eu quero que ele ganhe, mas não ao FC Porto. Quando está num Benfica ou num Sporting, é evidente, se dissesse que queria que ele ganhasse ele próprio não acreditava. Quando ele estiver a jogar quero que o clube, o nosso rival, perca. Ele também é meu amigo e quer que o FC Porto perca. Não misturo isso e sempre conseguimos pôr isso de lado e manter uma amizade para além das rivalidades que possam existir. E existem muitas vezes nos clubes onde ele está a trabalhar.