Pinto da Costa, mercado, arbitragem e não só: recorde a entrevista de Frederico Varandas
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"Havia dois candidatos para a FPF e a nossa escolha foi muito fácil, em virtude das pessoas e projeto. A principal razão pela qual o Sporting apoiou Pedro Proença publicamente foi a visão que o Sporting tem para melhorar a transparência e qualidade da arbitragem. Ao longo dos anos o Sporting debateu-se por determinadas medidas para mudar a arbitragem e fiquei muito contente ao ver as mudanças propostas por Proença no programa eleitoral, como por exemplo: avaliações dos árbitros. É algo muito importante de perceber e quem não deve, não teme. É assim nos cursos de medicina, quem quiser ir lá ver vai e ninguém quer opinar para o lado, e só ver que esta arbitragem teve uma nota X, algo muito normal. Depois, a especialização da carreira de VAR. Acredito que isto seja perigoso para a arbitragem, porque hoje em dia os árbitros têm a sua ambição e há a classificação no final do ano. Essa classificação é muito importante para eles se manterem no escalão principal, para serem internacionais, etc... Então, todos os anos os árbitros sabem quem foram os melhores e acontece uma competição natural entre eles. O que para o Sporting já não está correto é isto: se um VAR tomar uma decisão, isso vai influenciar a nota do árbitro de campo. Não tenho dúvidas de que não há árbitros a querer prejudicar outros árbitros, mas claro que isso afeta o seu juízo, por isso o sporting defende e Proença e Luciano Gonçalves defendem que o VAR é VAR e o árbitro de campo é árbitro de campo. Em terceiro, a criação de uma entidade externa para gestão da arbitragem profissional, como acontece há anos na Inglaterra e na Alemanha. O Sporting defende isto há anos e foi a primeira vez que isto foi proposto. Em quarto, a valorização da carreira do árbitro, que tem de ter as melhores condições financeiras, de trabalho, de treino, de recrutamento... tudo isto estava no programa eleitoral de Pedro Proença."
“O Sporting sempre teve um diretor clínico, mesmo quando eu era diretor clínico. Quando deixei de o ser, passou a ser Pedro Araújo e ele faz o que bem entender do departamento clínico. Em relação a isso, tenho de recuar atrás, porque isso para mim é lixo. Isso foi esclarecido na minha primeira campanha eleitoral, em 2018. Desde 2015 que tenho duas clínicas de medicina desportiva, de 2015 a 2018 fui diretor clínico do Sporting e em virtude de o Sporting na altura não ter determinados aparelhos caros, pontualmente o Sporting usava a minha clínica. Nessa altura o presidente Bruno de Carvalho queria que cobrasse esses serviços. Nunca foi cobrado um cêntimo em serviços e aparelhos. Quando venci as eleições em 2018, fui equipar a unidade de performance e o departamento clínico e, hoje em dia, felizmente isso já não é preciso. Resumindo, de 2015 a 2025, não há um cêntimo pago do Sporting às minhas clínicas. Augusto Inácio vai ter de responder em tribunal pelo que disse e deixe-me dizer isto, porque já o conheço há muitos anos. Já trabalhei com ele duas vezes, quando ele era diretor desportivo do Sporting. A primeira, em 2013/14, depois o presidente Bruno de Carvalho dispensou-o e depois, com mais crítica nesses mandatos, quando que se sabia que o presidente estava preso por dias, ele convida Augusto Inácio para ser diretor desportivo, com um contrato considerável. Quando nós ganhamos as eleições, umas das primeiras medidas foi contratar Hugo Viana e dispensar Augusto Inácio. O que é importante os sócios perceberem sobre Augusto Inácio é que um dos processos que ganhámos nessas eleições foi o do treinador Mihajlovic, que tinha contrato. Quando a Comissão de Gestão estava em vigor, Augusto Inácio manteve-se, foi testemunha a favor do Sporting. A 7 de setembro, diz que o treinador Mihajlovic foi fundamental na escolha do plantel, staff, pré-época... testemunha a favor do Sporting. Mas depois em dezembro testemunha a favor do treinador Mihajlovic e diz que não ele decidiu nada. Vou ler o que juiz do TAD diz: ‘O painel não pode tomar estas declarações em consideração porque a testemunha não parece credível’. O painel retirou a testemunha Augusto Inácio por não ser credível, primeiro defendeu o Sporting e depois pôs-se contra o Sporting. O Augusto Inácio foi uma testemunha decisiva para o Sporting pagar três milhões ao treinador Mihajlovic. Eu conheço muito bem e no dia em que vir Augusto Inácio dizer bem de mim, tenho de refletir bem se sou a pessoa certa para educar os meus filhos. Não tenho mais nada a dizer sobre isto.”
Ponto final na entrevista de Frederico Varandas à Sporting TV.
“Rui Borges não fez a pré-época, não tinha o plantel para o seu sistema de jogo, com o número de jogos, com as lesões, não consegue fazer treinos. Temos de queimar estas etapas [na recuperação de jogadores], sempre dentro de um equilíbrio. Morita veio de uma lesão, recuperou da lesão. Clinicamente, estava apto, mas tinha a condição para fazer dois ou três jogos seguidos? Não tem, fez uma nova lesão, uma lesão diferente. O departamento médico existe para dar a condição física para tratar as lesões, mas não evita lesões, as lesões podem acontecer numa época desportiva. Aconteceu ao Man. City, o Arsenal perdeu o Havertz, o Martinelli, o Saka. Tem as mesmas condições para lutar pelo título? Não tem. No Sporting, cai um, caem dois, caem três, caíram oito, mas continuamos lá dentro, tenho a certeza. Se o processo estiver correto, eu continuo a acreditar no processo. Há três anos, acabámos em quarto lugar, e eu acreditava que o processo do treinador estava certo. As lesões vão condicionar a época? Não. Porquê? Pela fibra dos jogadores, pelo querer dos jogadores. Olho, enquanto presidente, mas também como diretor clínico, que são semanas em que vamos ter de lutar, resistir, porque, depois, vêm aí dois ou três pesos pesados de volta. Resistindo estas três ou quatro semanas, os jogadores vão dar a volta, e vai ser o campeonato mais saboroso de conquistar. Fiz um apanhado das equipas que estão na Liga dos Campeões. Das equipas que jogaram os play-offs, são estes os jogadores lesionados, declarados oficialmente: PSV (5), Feyenoord (10), Aston Villa (6), Man. City (6), Atalanta (5), Juventus (5), Real Madrid (5), Benfica (5 ou 6). Do ponto da vista cientifico, com o modelo competitivo atual, as lesões aumentar 7%. Será circunstancial, atípico, a UEFA tem de analisar e perceber a exposição que os jogadores têm, também ao nível internacional, das seleções. Podemos ter de abdicar de competições como a Taça da Liga, do ponto de vista competitivo, o Sporting tem de encarar esta competição de forma diferente. A Liga dos Campeões valoriza o clube e os jogadores, que não são sobre-humanos.”
“Faço um apelo aos árbitros, pela forma como reagem a certos tipos de comunicação. No Famalicão – FC Porto, o Tiago Martins, considerado um dos melhores VAR's, tem uma decisão na qual anula um golo ao FC Porto e marca um penálti na mesma jogada. A decisão foi correta, foi unânime, decidiu bem. O que aconteceu a seguir? O FC Porto perde pontos, e, na típica comunicação old school, faz aquela comunicação para mandar poeira para os olhos dos adeptos, a falar da marcação de uma reunião com o Conselho de Arbitragem, para inglês ver. Não me identifico, acho que não é positivo, o Sporting não faz isso. Muito ruído, tudo a bater no Tiago Martins, que decidiu bem. Passado uns jogos, Tiago Martins vai arbitrar um Nacional – FC Porto. Logo no início do jogo, que até foi suspenso, há uma entrada perigosa [de Rodrigo Mora], indiscutivelmente para cartão vermelho, e Tiago Martins mostra o cartão amarelo. Não tenho dúvidas de que um árbitro que é dos melhores VAR's, que foi condicionado na decisão. Naquele momento, os clubes que se identificam com aquele tipo de comunicação dizem: 'Vês como compensa, este tipo de comunicação?' Ao tomar essa decisão, Tiago Martins está a complicar a vida de todos os seus colegas. A cada decisão, lá vem a newsletter habitual, a dizer que o árbitro não respeita o clube. O Tiago Martins é VAR no jogo do Dragão contra o Sporting, e o João Pinheiro, que está em campo, vê uma agressão do Diomande a Fábio Vieira. O árbitro viu, achou que era um cartão vermelho, e o VAR, que está calmo, tranquilo, não consegue ver que não há uma agressão? O Diomande, por causa desse cartão vermelho, não jogou contra o Arouca. Teve de jogar o St. Juste, que se magoou, e que esteve no lance infeliz que deu em golo. Espero que os árbitros, em Alvalade, no Dragão, ou na Luz, se tiverem de marcar um penálti, marquem. Se forem alvos da newsletter habitual, não se deixem intimidar ou condicionar. Se, para a arbitragem portuguesa, o lance de Morten [Hjulmand] é penálti, então que marquem todos.”
"Temos uma forma de estar no Sporting, tentamos valorizar o futebol português, criar um ambiente positivo, e, desde o primeiro dia, temos uma política para que se valorize a carreira do árbitro, para dar condições higiénicas para poderem exercer as funções. É muito fácil, neste cargo, seja no Sporting, ou nos nossos rivais que lutam por títulos, cair na tentação de, sistematicamente, a seguir a um desaire, criticar, intoxicar, fazer esse tipo de comunicação. O Sporting não se revê nessa forma de estar, tenta dizer as coisas de uma forma construtiva, para tentar melhorar o que está menos bem. No final de dezembro, se fizer uma avaliação até hoje, não gostei, tem de ser um sinal interno para o próprio setor de arbitragem. O critério de arbitragem de que o Sporting é alvo é diferente, principalmente comparando com os principais rivais. Gosto de ser objetivo. Em Alvalade, o árbitro é bem tratado, não é para agradar, é porque deve ser assim. Os árbitros, no Sporting, serão bem tratados, ninguém desce para ameaçar e intimidar os árbitros, os árbitros têm todas as condições para trabalhar, em Alvalade. Deixo um alerta. Custa-me ver, por exemplo, um jogador encosta a cabeça a um árbitro [referência a Di María], e não acontece nada. Um jogador do Sporting [Diomande] encosta a cabeça a um jogador rival [Fábio Vieira], mal, e esse jogador utiliza o encosto para simular uma agressão, e o jogador do Sporting é expulso. Neste último jogo em casa, com o Arouca, marca-se um penálti por empurrões e agarrões. Há matéria de facto para marcar o penálti? Tudo bem! Custa-me a entender, na mesma jornada, o FC Porto a ganhar 1-0 com um golo num lance onde há um empurrão grosseiro, e o VAR desvaloriza esse empurrão. Em Alvalade, o VAR intervém e assinala penálti, e cartão amarelo. Este critério faz confusão. Há duas jornadas atrás, marcaram um penálti a favor de um dos nossos rivais, não sei se é mão, mas o penálti foi marcado. Ao minuto 90, o mesmo lance, na mesma zona do terreno, um jogador do Benfica [Florentino] faz o mesmo gesto, de forma muito mais grosseira do que a do jogador do Moreirense, e não há penálti. O possível penálti, no Dragão, sobre o Quenda [desarme de Zé Pedro]. Quantos penáltis se marcaram assim? Tocou na bola, mas rasteirou primeiro o pé. Até podem não marcar aquele penálti, mas definam o critério, porque tem prejudicado o Sporting. Mais ponto, menos ponto, o campeonato estaria decidido, segundo os ex-árbitros, não se pode negligenciar, não estamos a falar de um ou dois pontos de diferença. O Sporting sente-se prejudicado pelo critério."
"Estou muito satisfeito com o treinador, pela forma de trabalhar. Revejo-me na forma de olhar para os problemas. Trabalhei com dezenas de treinadores, que reagiam de forma diferente às adversidades. Este treinador, quando acontecem problemas, procura arranjar soluções. A confinaça que ele transmite aos jogadores é a de que vamos ganhar, os jogadores acreditam muito no Rui Borges. Calmo, acredita muito no valor da equipa que tem, tem capacidade de adaptação. O Rui Borges é um lutador, este Sporting tem esta imagem, e o Rui Borges casou muito bem com este grupo. O Sporting vai continuar a lutar, lutar, lutar."
"Voltando ao dia 11 de novembro, seria muito difícil tomar uma decisão diferente. Tinha o plantel talhado para jogar no 3-4-3, o João Pereira não joga exatamente da mesma maneira de Rúben Amorim, mas usava a construção a três. Qualquer que fosse o treinador a seguir a Amorim, iria ser muito difícil, os jogadores não estavam recetivos a mudar o que quer que seja. O João Pereira teve de treinar a ser Rúben Amorim, não pôde ser João Pereira, as coisas não correram bem. O João regressou, está a fazer a melhor época da equipa B, os jogadores que estão com a melhor preparação, da equipa B, estão, neste momento, na equipa A. O João Pereira fará o seu caminho, e mostrará o seu valor."
"Já havia um compromisso desde outubro, com a decisão do Hugo Viana, de ser diretor desportivo do Man. City na época seguinte. O Hugo Viana informou-me que, por razões pessoais, queria acabar o mercado de janeiro e seguir a sua vida. O Sporting não tinha como não aceitar."
“Vou tentar ser o mais clean possível em respeito aos familiares. Ouvi muito barulho, fez muito mais barulho do que estava à espera, sinceramente fiquei um bocadinho surpreendido. Ouvi que não sei misturar questões institucionais com pessoais. Se há pessoa que ultrapassa as coisas pessoais, sou eu. E sei bem o que é ser Presidente do Sporting e a missão de ser Presidente do Sporting. No dia que deixar de ser, nunca mais vão ouvir a minha voz. Não ponho questões pessoais acima de institucionais. A questão do nosso silêncio foi uma decisão institucional. Não teve nada a ver com o presidente do Sporting, mas com a instituição Sporting. Se a instituição Sporting não se identifica com alguém que em vida prejudicou seriamente o clube, a indústria do futebol e que não representa os nossos valores, seria uma hipocrisia da minha parte mudar o que penso desse senhor apenas por ele ter morrido. Não sou hipócrita, nunca vou ser. Bem sei que há pessoas que tem coluna vertebral bem flexível, eu não tenho nem quero ter. Tenho uma forma muito clara de estar na vida. Vou estar sempre do lado dos valores que defendo. Sei que tenho muita gente que não gosta de mim, mas é para o lado que durmo melhor. Nunca vou abdicar da minha forma de estar. Enquanto estiver aqui vou fazer o que entendo, seguir os meus princípios valores. Institucionalmente o Sporting seria hipócrita e não é.”
"Foi decisão da administração. O Edwards é um jogador que é nosso, é nosso ativo, tem muito talento e acreditamos nele. Obviamente que temos de ser melhores para trazermos o melhor dele, ele também tem de dar o melhor de si, e achámos que o melhor era emprestar."
“Existe uma área que é bastante cara, que já existia quando eu era diretor clínico, mas na altura sem recursos financeiros. Em 2018 iniciámos essa Unidade de Performance, que tem dos melhores profissionais em termos de recursos humanos e que foi tendo... nada falta em termos de aparelhos desde 2019. Temos uma unidade que pertence à direção clínica, que faz toda a gestão das cargas. A equipa recebe o jogador pronto para treinar e para jogar. Temos este processo de trabalho desde 2019, nunca houve um ruído e os profissionais são os mesmos. Tenho de dizer isto porque muita gente fala, mas depois diz-se muita asneira e existe muito rumor, telenovelas e tal. Os profissionais são os mesmos na performance e área clínica. O diretor clínico está lá desde 2018 e é um médico referenciado ao nível nacional e internacional. Pertence a uma rede de médicos da FIFA que nas grandes competições como Europeus ou Mundiais, esses médicos são requisitados, os melhores. Ele está não só requisitado para isso, mas até para a final do Mundial de Clubes do próximo verão. Não preciso de dizer mais sobre currículo do doutor Pedro Araújo. Depois temos um coordenador de fisioterapeutas que recebeu a oferta da mesma função num clube grande inglês, não vou revelar qual, mas são estas pessoas que estão no Sporting. Temos de perceber que existem lesões traumáticas que não se controlam e no desporto é como na vida pessoal, umas vezes dá, umas vezes tira e neste caso estas lesões são cinco. A do Nuno Santos gravíssima no joelho, Bragança gravíssima no joelho. João Simões, lesão grave no pé, são lesões que terminam a época. A do Pote, lesão muscular grave, normalmente pode ir de 10 dias a cerca de cinco meses. A lesão do Pote é grave, foi contraída em novembro e dou estes exemplos: O Havertz do Arsenal sofreu exatamente a mesma lesão do Pote e o Arsenal informou que não joga mais esta época. O Akanji do City é igual. Nuno Mendes, formado aqui e agora no PSG, sofreu exatamente o mesmo e esteve parado mais de quatro meses. Não há milagres e não vale a pena... Existem duas formas de encarar este tipo de adversidades: uma é começar a disparar para todo o lado, procurar culpados, dizer que isto é bruxedo, que é das botas, do treino... E depois existe encarar isto com calma e de forma racional, reagir e adaptar. Passámos épocas sem quase lesões graves, nesta temos e está a ser muito duro, duríssimo para o treinador, mas agora há uma coisa muito importante: neste momento aquele grupo que veio da Alemanha com mais dois lesionados não se rende, é um grupo muito forte, muito unido e de campeões nacionais. E acreditem que não vai ser nada fácil para qualquer equipa lhes tirar aquele título. E eu aqui tenho de dar uma palavra não só aos jogadores mas ao treinador, que acaba de entrar neste grupo, não fez pré-época, não teve um plantel delineado para um plano de jogo, com tantas lesões e jogos não consegue fazer treino, é recuperar jogar, e mesmo queimando processos de recuperação.... Temos de queimar estas etapas, o Morita é um excelente exemplo: veio de lesão, clinicamente está apto, mas pode jogar dois jogos seguidos? Não, fez e fez uma lesão diferente, é um ciclo vicioso."
"Vamos por fases. A lesão existe no desporto e o Sporting nestes últimos anos, desde que cá estamos, tem tido épocas com muitas poucas lesões. Penso que Daniel Bragança fez lesão grave há dois anos, até lá fomos tendo lesões, mas quer do ponto de vista traumático e muscular, muito poucas. Sempre tivemos uma ótima disponibilidade dos atletas para treinos e jogos. O que acontece este ano é que temos tido de facto muitas lesões, sobretudo traumáticas. Ainda agora estamos com oito lesionados, dos quais cinco são lesões traumáticas, três dessas são graves e três lesões musculares, o que é normal tendo em conta o volume e exposição destes jogadores. O que não é normal é começarmos em novembro e entrarmos com uma vaga de três ou quatro lesionados. Nesse caso temos dois problemas: um é porque não contamos com eles e depois os jogadores disponíveis não vão poder rodar como tínhamos previsto ao nível de cargas. Eles vão se sobrecarregar e vamos ter mais lesões. Lesões trazem sempre mais lesões. Uma coisa é ter duas ou três, eles recuperam e passam, mas quando são três ou quatro pesadas em jogadores nucleares, isso levou a que, numa época em que temos de jogar em todas as frentes, em que existem mais dois jogos na Champions, final four da Taça da Liga, em que estamos nos quartos da Taça, em primeiro lugar no campeonato, em que os nossos jogadores internacionais têm jogos nas datas FIFA e não descansam... Isto tudo somado leva a uma situação muito complicada de gestão e há coisas que não se controlam."
"Eu não... O Gyokeres chegou cá há um ano e meio atrás, depois em janeiro ia sair, depois fomos campeões e o Viktor quase já nem ia celebrar que se ia embora. Este mercado era impossível retê-lo... Não vou alimentar isso, o Viktor já é demasiado mediático por mérito dele e não vou falar de mercado em fevereiro. Os jogadores têm cláusulas de rescisão e, chegando a altura, o Sporting terá de tomar decisões e defender os interesses do clube."
"É um mercado muito caro e trazer por trazer não vale a pena. Não tínhamos capacidade para jogadores de qualidade incontestável."
"Foi um jogador que não teve um início fácil, isso provavelmente marcou-o, e que não se conseguiu adaptar como achávamos. Da forma mais crua e transparente, ele não correspondeu às expectativas criadas pela sua contratação. Daí a vinda de Rui Silva. Tínhamos de ter uma prioridade no mercado e em função da nossa não capacidade de investir, o guarda-redes era a prioridade e tentámos."
"Deixe-me então dizer... Eu sou, como as pessoas sabem, sócio do Sporting desde que nasci e sou um sócio sempre militante, ativo na vida do clube. Eu tenho 45 anos, quando cheguei ainda não tinha sequer 40, mas tinha 40 anos a seguir o Sporting, 20 anos de Game Box, acompanhei sempre o Sporting fora e dentro do estádio. E nestes anos todos celebrei dois campeonatos, lembro-me dos melhores dias da minha vida, foram dois. Desde que esta direção está aqui, já celebrámos esses mesmos dois, fora cinco Taças e títulos europeus das modalidades, mais campeonatos e Taças. Esta responsabilidade é da direção, por isso, quando ouço que a possibilidade do bicampeonato é responsabilidade da direção, claro que é, mas a palavra bicampeonato pertencia ao mundo imaginário do Sporting. É preciso quase recuar 70 anos e ganhar dois títulos... Não sei vamos ser bi ou tricampeões, mas sei que o Sporting existe e agora é considerado candidato a ganhar, já não é só uma equipa grande. Esse discurso ouvi durante 40 anos, hoje não. Ainda hoje ouvi a conferência do meu treinador, antes do Arouca, a ser questionado e perguntei: ‘O Sporting está em quarto ou quinto?’ Não, está em primeiro e na camisola dos jogadores vejo o símbolo de campeão nacional e isso é trabalho desta direção, que pôs o Sporting a ganhar. Antes eram dois clubes a ganhar, depois passavam 18 anos e nós uma vez... Era esta a nossa responsabilidade, fico muito feliz por a palavra bicampeão existe no dicionário do Sporting e vai continuar a existir."
“Eu vejo o Manchester City, um dos clubes mais ricos do mundo, com um dos plantéis mais caros, o que lhes aconteceu? Tiveram uma vaga de lesões nalguns jogadores nucleares e agora estão arredados da Champions e com a vida complicada no campeonato, estão em quarto. Nós estamos na luta, em primeiro lugar, e nisso tenho de dar muito mérito à nossa estrutura. Não esquecer que a nossa capacidade de investimento é quase o dobro do que quando esta direção chegou. Se pudesse ter mais jogadores, não tenha dúvida [de que os contratava]”.
"No ano passado, fizemos uma época extraordinária, tivemos muito poucas lesões, tal como nos anos anteriores. Imaginemos que o Viktor [Gyokeres] tinha, agora, uma lesão que o afastava do resto da época. Eu teria 20 milhões de euros para ir buscar um substituto? Não ia ter, não há uma gaveta de onde eu tiro fundos ilimitados, que me dera. Não é por uma lesão ou duas que tenho mais capacidade de investimento. O mercado de janeiro é extremamente difícil, extremamente caro, o Manchester City pagou 60 milhões de euros pelo Nico González, quanto custaria um Pedro Gonçalves? Em janeiro, os clubes não querem vender os seus principais ativos. É um mercado que convida a ir buscar jogadores de outros mercados, que exige um período de adaptação. Quero relembrar os sócios do esforço financeiro que foi feito para mantermos os jogadores. Recusámos vender jogadores, podíamos ter vendido jogadores, mas não o fizemos. Não há a capacidade de ir buscar dinheiro a um bolso sem fundo."
"O Sporting prepara cada época antes do final da época anterior. O Sporting traçou um objetivo ambicioso, que exigiu à SAD ultrapassar um limite que nunca antes tinha sido ultrapassado. Fizemos algo que nunca tínhamos conseguido fazer, não vendemos um único titular de uma equipa que fez a melhor época dos últimos 70 anos, em termos de performance desportiva. O nosso objetivo foi manter a estrutura da equipa, não vendemos nenhum titular. Para além disso, a SAD investiu cerca de 65 milhões de euros em jogadores que entraram este ano, como Maxi Araújo, Debast, Kovacevic, Rui Silva, Biel. Não perdemos nenhum titular, foi um esforço muito grande da SAD. Basta recordar que, quando chegámos, em 2018, o orçamento para aquisições andava em cerca de 30 milhões de euros, mais do que duplicámos o investimento. Este foi o ano em que vendemos menos, menos ainda do que na fase da covid-19, que foi de contenção de mercado. Fizemos uma opção consciente, mas arrojada, do ponto de vista do investimento. Quem me dera que nós tivéssemos a saúde financeira de um Manchester City ou de um PSG, mas não temos."
"Temos de recuar uns meses atrás. Este plantel foi construído pelo treinador [Rúben Amorim] que tínhamos na altura, ao seu sistema de jogo, que se foi aperfeiçoando a este treinador ao longo de quatro anos. Podemos dizer se é curto ou comprido, foi um plantel que sempre deu resultados do ponto de vista competitivo. Acontece que este ano, por várias circunstâncias, e com uma mudança de treinador pelo meio, este é um plantel ajustado a um sistema de jogo que hoje não se aplica. Não passou por nós, não queríamos que assim fosse, mas assim é."
“O Sporting tinha objetivos definidos no início da época, o nosso objetivo era chegar ao play-off de acesso aos oitavos de final, fizemos uma boa fase de grupos, conseguimos amealhar cerca de 50 milhões de euros. No play-off, defrontámos uma equipa forte, o atual vice-campeão europeu. Fica um sentimento amargo, se tivéssemos outras condições de competir nesta eliminatória, teríamos tido outro desempenho. Não aconteceu. Na vida temos de tomar opções."
"Como tudo na vida, tivemos de tomar opções, opções que foram fáceis de tomar. Uma pessoa tem de ser realista e pragmática, temos de fazer uma análise, perceber a quantas batalhas podemos ir, quantos soldados temos. Naquele momento, já não havia como dar mais minutos a jogadores sobrecarregados. O nosso principal objetivo é o campeonato.”
Presidente do Sporting concede entrevista ao canal oficial do clube, abordando a atualidade do emblema leonino.