Pinto da Costa lembra tomada de posse: "Uma das coisas que perdi nesse dia foi o meu nome"
Declarações no episódio especial da série "Ironias do Destino", com o título "2022 - 40 anos disto", gravado na garagem do Dragão, onde estão expostas inúmeras imagens marcantes da história do FC Porto
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Perdeu o nome há 40 anos: "[ri-se] Foi a 23 de abril de 1982. Costumo dizer na brincadeira, mas é realidade que, no início -fazia-me muita impressão - uma das coisas que perdi nesse dia foi o meu nome. Para as minhas irmãs era o Nuno, para os irmãos era o Jorge, tinha dois nomes e havia uma razão de ser. Em casa foi sempre Nuno, depois no colégio interno, para onde fui com os meus irmãos, era Jorge e eles habituaram-se a chamar-me assim. Quando me chamavam presidente achava estranho, mas já me habituei. Muitas vezes digo 'não me trate por senhor presidente' e respondem-me 'sim, senhor presidente'. Pronto, o que é que eu hei de fazer?."
Dia da tomada de posse: "Lembro-me perfeitamente do dia, o que senti, as preocupações que tinha, o receio de não corresponder àquele entusiasmo. Mas se me dissesse que 40 anos depois eu ainda seria o presidente, diria que as pessoas estavam malucas. Agora digo que fui eu o maluco."
Construtor do FC Porto? "Não, o FC Porto nasceu em 1893 e a partir daí teve sempre o mesmo nome, a continuidade de uma história de sucesso. Costumo dizer que o clube está numa corrida de estafetas sem fim, que teve início em 28 de setembro de 1893. Cumpre aos presidentes levar o testemunho para entregar a quem lhe vai suceder."
O atleta Pinto da Costa está cansado? "Quem corre por gosto não cansa, gosto do FC Porto, gosto de servir o FC Porto, nesse aspeto não estou cansado. Mas sei que um dia vou entregar [o testemunho] com todo o gosto a alguém que vai continuar a corrida."
Cunhou o termo "dragões": "Considero-me, e tenho orgulho nisso, em ser o fundador dos dragões. Quando era diretor do futebol, quis lançar os dragões, até num programa da RTP. Quando cheguei a uma reunião da Direção disseram que dragão era belicoso e pronto, aceitei democraticamente. Mas tinha estabelecido no meu programa que ia fazer uma revista e combinei logo com o doutor Monteiro Pinto que a revista ia chamar-se dragões. Ficou vincado o nome de dragão ao FC Porto e tinha significado porque estava no escudo da cidade e no emblema do FC Porto."
Considera-se um pai das modalidades? "Sinto-me o pai do dragão, mas nas modalidades o clube tem uma história fantástica muito antes de 1982 e vai continuar a ter. Agora, há modalidades que melhoraram muito. Comecei no hóquei, o meu primeiro cartão de dirigente do FC Porto - descobri esta semana - era de chefe de secção de hóquei e é de 1962, há 60 anos. Uma das coisas que dizia é que queria que o FC Porto fosse campeão nacional de hóquei e foi dez vezes seguidas, tem um historial que foi muito para além dos meus mandatos."
Como seria sem Pinto da Costa? "Seria diferente, mas não sei se seria melhor ou pior. O se, essa palavra... Só o Kipling é que sabia utilizar bem o se. Tinha 9 anos e fui para a Avenida dos Aliados esperar o Fernando Moreira, que tinha ganho a Volta a Portugal. Era sempre uma atleta do Benfica ou do Sporting que ganhava e intrometeu-se o Fernando Moreira. Fui para os Aliados esperá-lo com milhares de pessoas, portanto, já sentia, mesmo em criança uma grande paixão pelas modalidades, por isso fiz tudo para que o ciclismo regressasse e, felizmente, com grande sucesso."
A importância de ter as pessoas certas: "Ajudei e consegui ter gente comigo que pôde concretizar tudo o que sonhei. Ninguém faz nada sozinho, não há super homens, quem pensar que faz tudo sozinho está tramado. Sempre tive a felicidade de ter pessoas que acompanharam os meus sonhos, poderei ter falhado em algumas escolhas, mas estou feliz por, em 40 anos, ter escolhido as pessoas certas para concretizar os meus sonhos."
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