Declarações de Pinto da Costa durante o discurso no jantar que se realizou no Museu do FC Porto para assinalar os 40 anos de presidência.
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Primeiros tempos como presidente e dificuldades: "Vocês compreenderão que, ao fim de 40 anos, 14 600 dias, é muito difícil dizer o que quer que seja. Há 40 anos, por esta hora, mais minuto menos minuto, tinha acabado de tomar posse. Como hoje ouvi nos tais depoimentos que tenho muito boa memória e muito sentido de humor, vou provar e começar por usar um bocadinho esse humor dizendo uma realidade: conta-se que um indivíduo foi condecorado por ter um salvo um menino que tinha caído ao rio e que lhe perguntaram qual era a sensação. E ele respondeu: 'só queria saber quem foi o sacana que me empurrou'. A única diferença comparativamente, é que eu sei quem me empurrou: foi o meu querido amigo Álvaro Pinto, aqui presente, o meu querido amigo e saudoso Armando Pimentel e o grupo que eles lideravam, que me armaram uma armadilha, dizendo que iria ser diretor de futebol e à última hora tive de assumir a presidência. Mas assumimo-la com coração aberto e determinação total em superar qualquer dificuldade. E as dificuldades foram enormes. Pareciam inultrapassáveis, mas defendia sempre o princípio de que o nada era impossível e que ele só demora mais tempo. A prova disso é que há 40 anos, se alguém dissesse ao presidente que estava tomar posse ia ser presidente 40 anos depois, toda a gente diria que é impossível. Mas como no FC Porto o impossível só demora mais tempo, demorou 40 anos, mas tenho prazer de estar hoje aqui convosco a recordar esse dia histórico para mim, que foi a tomada de posse a 23 de abril de 1982. As dificuldades eram imensas, enormes, nem quero pensar nelas, porque eram problemas todos os dias. Fomos eleitos dois anos e andou um grupo de pessoas com um ex-dirigente a fazer visitas dizendo que só duraríamos três meses, porque éramos um grupo que tinha assaltado o clube a mando de um determinado partido político e nós tivemos dificuldades imensas, porque isso nos tirava credibilidade."
Um dia marcante: "Mas, talvez por inspiração divina, um dia fui ao aeroporto esperar um amigo. Chegava uma comitiva, que lançou os olhares de toda a gente e a curiosidade. Quem chegava? O Presidente da República, General Eanes. E vinha nessa comitiva um grande amigo meu, que era o coronel Aventino Teixeira. Perguntou-me se estava à espera do Presidente. Eu disse que não, que não o conhecia, mas que o apreciava muito. Até tinha votado nele. Ele disse-me que o Presidente tinha acompanhado a nossa luta e tem muita apreço por todos e por mim em particular. Perguntou-me se queria que ele me recebesse. Disse que seria ótimo. Passados dois ou três dias telefonou-me e disse: 'O Presidente vai receber-te. Será uma visita de cortesia de 10 minutos'. Nesse dia lá estivemos pontualmente, como era nosso costume, para a tal reunião de 10 minutos de cumprimentos. E ela existiu, de facto. Só que depois estendeu-se para mais de uma hora, em que o Sr. Presidente quis inteirar-se dos nossos problemas, em que mostrou logo vontade de nos ajudar e informou-nos que o FC Porto tinha uma condecoração a receber, mas que nunca tinha disponibilidade para a receber. Então marcámos para a semana seguinte uma vinda ao Porto e o Sr. Presidente da República, com a sua credibilidade, com a coragem que tinha tido até chegar aí, ao receber o tal grupo de salteadores, vir aqui condecorá-los e conviver com eles? Não podia ser verdade. Então acabaram-se os boatos, as informações e passámos a ter outra aceitação para resolver os problemas. Esse dia da visita foi marcante. Sr. Presidente Ramalho Eanes, esse dia marcou o início da caminhada até hoje, passados 40 anos. Não esquecemos nunca a sua importância no FC Porto e na Direção do FC Porto."
A tomada de posse há 40 anos e o percurso: "Foram tempos difíceis... Hoje estou aqui e tive a oportunidade de durante 40 anos ajudar o FC Porto a ter muitas conquistas, porque tive a felicidade de encontrar pessoas excecionais que me ajudaram a formar grupos que levaram à vitória, para hoje estarmos satisfeitos e dizer que sou o presidente mais titulado do mundo. Começámos em 1982 com o apoio de muitos e tive a felicidade de fazer regressar Pedroto e aí nasceu uma nova era para o futebol, aí nasceu o espírito de conquistas e perdeu-se o medo de passar a ponte."
Desafio para o futuro: "Não gosto do alarido de tantos títulos e vitórias, temos tantas taças, campeonatos, isso não é para mim, é para os historiadores. Estou aqui não para terminar, porque quando terminar sei quando será, mas para incentivar no futuro. Não podemos viver do passado, destas taças, temos é de aumentar este museu cada vez mais. Faço um desafio a todos, dirigentes, treinadores e atletas: hoje é o dia zero. A partir de hoje, daqui a um ano, ter ganho tantos campeonatos e taças como a média destes 40 anos. Aí sim, direi que valeu a pena porque está lançado o espírito de conquistas e vitórias e a vontade de fazer o FC Porto cada vez maior. 'É impossível aguentar 40 anos, não vai aguentar muitos mais, serão poucos mais', mas enquanto aqui estiver quero que tenham no pensamento que o limite para nós não existe. O apelo que faço a todos os que são do FC Porto é que escolham bem quem vai receber a estafeta da minha mão, para que continuemos neste ciclo de vitórias e continuemos a ser respeitados e unidos e a ter o lema de juntos venceremos."
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