Petit, recentemente namorado pelo Estrela Amadora, admitiu propostas e lembra Cuiabá
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Sem trabalhar desde que deixou o Cuiabá, onde cumpriu 24 jogos em três meses, Petit aguarda o momento certo para voltar ao ativo, tendo o antigo técnico do Boavista, Marítimo, Tondela, B SAD, Paços de Ferreira ou Moreirense falado a O JOGO, à margem da apresentação de um livro em Matosinhos, de Rémulo Jónatas.
O Estrela da Amadora ainda pairou como destino mas não o será. "Surgiram propostas de Portugal e de fora mas, neste momento, estou a descansar um pouco, à espera de um projeto que eu sinta como passo seguinte. Tenho de analisar e quando começar estarei pronto", aferiu... sem se pressionar na espera de um convite nacional.
"Depende muito do que seja o projeto. Estes meses no Brasil foram bons pela experiência, pelo conhecimento, conseguimos abrir algumas portas, mesmos sendo uma curta passagem. No fundo foram muitos jogos. Tenho de analisar bem o que vier para arrancar com tudo", reiterou Petit, debruçando-se sobre os constrangimentos do saturado calendário brasileiro.
"Não foi surpresa mas foi o fator menos fácil de controlar, falo da intensidade constante de jogos, cerca de 19 foram feitos em dois meses. Sempre a viajar entre Cuiabá e São Paulo, escalas, 24 dias fora de casa, muito desgaste, muitos jogadores fatigados. Mas fomos vendo coisas a melhorar, tanto no processo de treino como de jogo, aspetos fisiológicos. Retirei boas ideias, a experiência foi boa, até porque nós quando demos início ao trabalho, a equipa levava zero pontos e zero golos. Fizemos 18 pontos, depois aconteceram coisas que não posso falar", atirou, ainda algo enigmático, repassando uma aventura brasileira em Mato Grosso.
"Sabíamos que era um desafio complicado, íamos ser confrontados com uma série de jogos entre Copa do Brasil, de Mato Grosso e a Copa Sul-Americana. Eram imensos jogos, muitas deslocações. Houve al um efeito positivo mas quando era preciso mais alguma coisa para reforçar a equipa, não tive e outras coisas aconteceram", notou Petit, mergulhando no difícil contexto geográfico do Cuiabá. "É o fim do mundo porque para ires jogar a qualquer lado passas por escala em São Paulo de duas horas e meia. Depois tens de esperar aviões, não há privados, para seguires para Fortaleza, Bahia ou Belo Horizonte. São mais três horas de voo, ir um dia antes, deslocações, desgaste no aeroporto. Era uma logística complicada, tantas vezes ao terceiro dia voltavas a jogar. Foi uma experiência diferente que me rendeu aprendizagem para o futuro", atestou, recuando a dias em que nem dava para respirar fora do futebol. "Não havia tempo para nada, brinca-se e com razão que o Brasil é mais que meia Europa. Nós tínhamos essas saídas todas mais as outras de sete ou oito horas para jogos da Sul-Americana. Tive pena de estarmos tão distantes de tudo, isso tornou tudo o trabalho mais difícil", precisou o técnico, que ainda treinou Deyverson, herói do Atlético Mineiro no acesso à final da Libertadores, depois de já ter conquistado grandes títulos com o Palmeiras.
"Quando nós chegámos, ele treinava à parte, tinha tido problemas e achavam que não devia ser integrado no grupo. Acabei por estar muito tempo sem o Deyverson, só o tive duas semanas antes de ir para o Atlético Mineiro. É um rapaz tranquilo, brincalhão, muito forte na finalização e eu já conhecia essa faceta de quando o vi na equipa B do Benfica. Fico muito feliz por ele, por estar em grande plano no Atlético Mineiro, era um miúdo alegre que contagiava todos os companheiros pelo seu estado anímico e prazer de jogar futebol", elogiou o técnico de 48 anos.
Por fim, Petit pronunciou-se sobre o desaparecimento em agosto de Christoph Daum, vítima de doença prolongada, seu técnico no Colónia. "Foi um treinador que me foi buscar ao Benfica, adorei-o. Além do grande técnico, era uma fantástica pessoa, de quem me lembro muito bem. Fez-me capitão e todas as semanas tínhamos reunião de capitães na casa dele, onde todos conversávamos muito sobre futebol. Deixou um legado muito forte na Alemanha, um técnico altamente consagrado no seu país e também na Turquia. Deixou-me muitas marcas, aprendi muitas coisas boas para a minha carreira de treinador", confessou, lamentando o sucedido. "Ele chegava muito facilmente aos jogadores, era muito ligado a todos. Ouvia todos os jogadores sobre o jogo e eu adorei essa abertura dele para falarmos de futebol e da vida em geral. Estará sempre no meu coração, fiquei muito triste com a sua morte."