Central assumiu a liderança da defesa de forma natural e impactante. Atento a tudo, postura cativante faz a diferença no Olival
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Jan Bednarek chegou quase de surpresa ao FC Porto, mas com impacto imediato e visível, dentro e fora das quatro linhas. Tal como o empresário do central revelou, os dragões pediram informações a meio mundo, queriam saber tudo sobre o defesa polaco, dentro dos padrões que definiram para as contratações. “Atitude, liderança, mentalidade, trabalho árduo e compromisso com o clube” foram valores que Francesco Farioli definiu como “chave” na hora de escolher novos jogadores. E o resultado está à vista com Bednarek, que abraçou e segurou Diogo Costa quando o capitão, que já tinha cartão amarelo, não escondeu a frustração por uma falta não assinalada no jogo contra o Gil Vicente.
A imagem cativou a nação portista, mas houve outras, menos mediáticas, mas igualmente definidoras do papel do defesa de 29 anos. No aquecimento, por exemplo, os incentivos aos companheiros foram vários e dirigidos concretamente a este ou àquele. Pepê, por exemplo, teve Bednarek a puxar por ele em duas ocasiões e ainda mais, claro, quando marcou o segundo golo. “Vamos, Pepê!”, gritou o camisola 5 que, no entanto, praticamente ao mesmo tempo de Luuk de Jong, apontou para Zaidu, que ainda estava do outro lado do campo, mas também merecia reconhecimento por ser o autor da assistência.
Muito vocal durante os jogos e atento aos colegas, Bednarek impõe respeito. As braçadeiras de capitão do Southampton e da Polónia não lhe foram parar ao braço por acaso, mas não é um daqueles líderes que se impõem apenas pela autoridade ou, poderão pensar alguns, pela postura fechada. Pelo contrário. No dia a dia, no Olival, o defesa é bastante extrovertido e descontraído, querendo toda a gente bem-disposta à volta dele. Leva todos os pormenores a sério e, apesar de dominar perfeitamente o inglês, o mesmo idioma que o treinador privilegia, já fala um pouco de português e aderiu às aulas que o clube disponibilizou. Para ele, a comunicação é fundamental. “Quanto mais rápido os jovens perceberem que ouvir os outros é realmente importante, melhor para eles. Quando cheguei ao Southampton, vários jogadores tentavam falar comigo e, por vezes, não é apenas aceitar as críticas, é ouvir. Se alguém fala contigo, é porque se preocupa e te quer ajudar”, explicou Bednarek em Inglaterra, num de vários testemunhos pela voz do próprio que O JOGO reuniu para perceber melhor quem é este defesa que rapidamente se fez patrão nos azuis e brancos. Aliás, Russell Martin, um dos treinadores que o defesa teve nos saints, chamava-lhe “o verdadeiro chefe”.
Jan lidera pelo exemplo e num duplo propósito. “Quando as pessoas veem que és profissional, seguem-te porque começam a perceber que também devem trabalhar de forma árdua”, explicou o internacional polaco, que trabalha diretamente com Damian Salwin, psicólogo da seleção polaca, que o “ajudou muito a passar por momentos maus”. Disciplinado, Bednarek afinou a dieta para melhorar o rendimento, vê o sono como fator decisivo e chegou a fazer aulas de boxe para ganhar “rapidez nos pés e elasticidade”. “Para jogar ao mais alto nível, as pequenas coisas podem fazer toda a diferença. Até 1% pode ter um impacto massivo. Quando acabar a carreira, não quero olhar para trás e arrepender-me de alguma coisa”, garantiu Bednarek.
Histórias e curiosidades
As lições da etapa no Aston Villa
Porventura no período mais estranho da carreira, Bednarek foi cedido pelo Southampton ao Aston Villa em 2022/23 e fez apenas quatro jogos. Sem rancores. “Aprendi bastante com o Steven Gerrard e Unai Emery, tive muitos treinos individuais, recebi conselhos e estou grato por esse período, só o encaro de uma maneira positiva”, explicou o polaco, que a meio da época, já depois do Mundial do Catar, foi chamado de volta pelos saints.
Cortou no glúten e gosta de mate
Bednarek fez análises para perceber “o que se passava de errado com o sistema digestivo” e concluiu que o glúten era o culpado. “Não me estava a ajudar a estar totalmente bem. Eliminei isso da alimentação e funcionou muito bem, mas não quer dizer que seja igual para os outros”, revelou o jogador. A par de Ward-Prowse e Hojbjerg, ficou fã do mate, aquela infusão adorada por alguns sul-americanos: “Hidrata-me bem antes de um jogo e desperta-me, fico mais enérgico.
Furioso por ser substituído após queda violenta
Em abril de 2023, Bednarek defrontou o Arsenal e, ao disputar um lance aéreo com Gabriel Martinelli, caiu desamparado e de forma arrepiante. Foi ativado o protocolo de concussão cerebral, que dá direito a uma substituição extra, mas o polaco ficou furioso e protestou com a equipa médica. “Estava consciente e bem para continuar a jogar. Quando estava no ar percebi que a queda ia ser feia, mas o futebol é assim”, comentou. Lá ficou no banco insistentemente a dar instruções aos colegas. Já no Dragão, Jan ficou surpreendido quando foi substituído após uma assistência médica.
“Vai para a cama às 20h00 para festejar”
Numa brincadeira nas redes sociais do Southampton, Pierre-Emile Hojbjerg “picou” Bednarek, garantindo que o amigo “ia para a cama às 20h00 para celebrar uma vitória”. Não é bem assim, mas Jan admitiu que essa “é a parte mais importante da recuperação”. “É fundamental para mim preparar-me para o sono e ir dormir à hora certa”.
Não dispensa apoio psicológico
Damian Salwin, psicólogo da seleção polaca, trabalha diretamente com Jan Bednarek. “Se trabalhas o físico, mas também podes melhorar a parte mental, recomendo a qualquer jogador, mesmo que não tenha problemas, para ver o futebol de outra maneira. As derrotas que tens na vida ficam no passado, só o presente te pode afetar”, defende o jogador dos dragões, que adora golfe nos tempos livres.