"Pepe diz-me que Conceição pede-lhe, algumas vezes, para se poupar, mas recusa"
Dinda abriu a casa ao jovem acabado de chegar ao Funchal. Ligação estreita ainda dura e há um nome muito falado.
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Frente ao Casa Pia, Pepe atingiu mais uma meta daquelas ao alcance de poucos: 850 jogos como profissional. À boleia de Dinda, bombardeiro mítico do futebol português, pé canhão que assustava os guarda-redes e figura grandiosa de Leiria e Marítimo, O JOGO recordou os primeiros tempos do defesa em Portugal, com ponte para o presente. O antigo médio acolheu Pepe no Funchal e mantêm estreita relação.
"Falo com ele quase todos os dias. Acompanho tudo o que faz no FC Porto, vejo os jogos. O Pepe está sempre a falar do respeito pelo treinador, tenta ser o espelho dele em campo. Conta-me que Sérgio Conceição lhe diz sempre que ele era igual quando jogava", relata o antigo craque da meia distância, rindo-se das pontuais confidências do central azul e branco: "É um pouco maluco na exigência, mas diz que tem de ser assim. Essa é a marca do FC Porto, da sua organização e do presidente gigante que tem."
Aos 40 anos, cada vez mais se pergunta como é que Pepe mantém o mais alto nível. "Consegue ser quem é pelo que faz, nunca abdica da seriedade. Já em miúdo era assim, tinha muito rigor e inteligência. Sempre teve o dom de adivinhar as jogadas, era aos 18, aos 20 e agora aos 40. Por isso, foi em alta velocidade de aspirante a profissional", contextualiza Dinda, 50 anos e hoje funcionário educativo em Caruaru, Pernambuco. Ainda assim, o capitão dos dragões não deixa de o surpreender. "Brinco e digo-lhe que o passaporte está errado e que com essa idade não pode fazer o que faz. Joga hoje como se estivesse ainda no auge do potencial. Diz-me que o treinador pede-lhe, algumas vezes, para se poupar, mas recusa. Só quando sente que não está bem é que fala. Isso vê-se pelos jogos que faz por época, é a prova de como se cuida", acrescenta o antigo futebolista, em linha com declarações recentes do próprio Pepe. A "dedicação extraordinária" do central conduziu-o a 27 títulos, nove dos quais internacionais, mas fica sempre "danado quando não ganha". "Ficou muito triste com a saída da Champions. Estava muito frustrado aí, porque a equipa tinha feito exibições que justificavam passar o Inter. Sabia que dava para chegar mais à frente. Foi um daqueles jogos que leva tempo a fazer a digestão."
Braço partido e admiração de Nelo Vingada
Dinda foi um grande aliado há 22 anos, quando Pepe chegou ao Marítimo. "Ajudei-o muito quando chegou, morou na minha casa vários meses, ao aterrar ao Funchal. Não queria ficar na zona onde estavam alocados os jogadores da equipa B, não se queria juntar, e eu, sendo brasileiro, aproximei-me dele para lhe oferecer uma solução. Ainda para mais, veio com o braço partido, tinha uma tala. Falei com o presidente e ele ficou comigo talvez uns quatro meses", conta o antigo pontapé canhão. Certo é que Pepe foi rápido a causar impacto: "Impressiona a força e já era assim desde novo. Nos primeiros treinos no Marítimo, o Nelo Vingada chamou-me e disse "ouve lá, este miúdo joga tanto!". Ri-me, claro que sim, é brasileiro. Mas logo vi ia dar muito dinheiro e não tardar a sair. Chegou rapidamente ao FC Porto."
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